capítulo 02: reconstrução.
Nos dias que se seguiram, Kelly e Erik voltaram a se falar, mas tudo era novo, frágil, como andar sobre um lago congelado. Bastava um passo em falso para tudo rachar novamente. Não havia garantias, promessas ou certezas. Apenas tentativas. E para os dois, isso já era um começo.
Eles não voltaram a ser o que eram, pelo menos não ainda. Agora, caminhavam juntos para casa em silêncio, dividiam olhares tímidos no meio da aula, e às vezes, trocavam mensagens curtas antes de dormir. Nenhum “eu te amo”, mas havia cuidado. Havia presença. E, aos poucos, isso era o suficiente para Kelly. Era estranho recomeçar com alguém que nunca foi embora totalmente. Era como se ele estivesse presente o tempo todo, mesmo em sua ausência.
Na escola, os olhares continuavam. Alguns julgavam, outros apenas observavam. Alguns colegas cochichavam quando eles passavam juntos no corredor. A antiga amiga — ou melhor, ex-amiga — tentava se aproximar, mas Kelly agora mantinha distância. Aprendera da forma mais dolorosa que confiança não se dá de graça, e que nem todo sorriso é sincero. Ela não sentia raiva, apenas um cansaço profundo. Um vazio onde antes havia afeto.
— Erik, você acha que um dia vai conseguir confiar em mim de novo? — perguntou ela, num fim de tarde, os dois sentados no banco da pracinha. Era o mesmo lugar de antes, mas agora parecia outro. O tempo havia deixado cicatrizes nos bancos, nas árvores e nos dois.
Ele demorou a responder, olhando para o céu tingido de laranja.
— Eu tô tentando, Kelly. Eu quero tentar. Mas ainda dói, sabe? Parece que meu peito criou um escudo, e eu não sei como quebrar.
Ela assentiu. Aquilo era mais do que ela esperava ouvir naquele momento. Porque mais do que querer reatar, ela queria ser perdoada. Queria provar que era digna de novo. Queria fazer tudo diferente, mas o passado não dava espaço para edição. Só restava seguir em frente.
Nos dias seguintes, os dois continuaram se encontrando. Às vezes, riam de coisas bobas, como se o tempo tivesse parado. Em outros momentos, o silêncio voltava, pesado. Era um processo. Nenhum dos dois sabia exatamente o que estavam construindo, mas havia esforço. Havia cuidado.
Contudo, nem tudo era tranquilo. A irmã de Erik ainda a olhava com desconfiança, e havia algo que Kelly ainda não contara... algo que poderia colocar tudo a perder de novo. Ela pensava nisso todas as noites antes de dormir, sentindo o peso de outro segredo. Um que não envolvia traição, mas medo. Medo de perder tudo o que, aos poucos, estava tentando reconstruir. O medo de que ele nunca soubesse de tudo. Ou pior: de que soubesse por outra pessoa, de novo.
E ali, entre incertezas, lembranças dolorosas e pequenos gestos de carinho, começava uma nova fase. Uma fase de passos lentos, cicatrizes expostas e corações que desejavam uma nova chance. Talvez reconstruir fosse ainda mais difícil que começar do zero. Mas talvez também fosse mais verdadeiro.
Talvez o amor, quando sobrevive à dor, seja ainda mais forte.
---
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 37
Comments