6 dias depois, eu continuava treinando com o Leandre, minha skill de esgrima de uma mão subiu do nível 5 ao 22, que me permitiu pegar uma skill passiva que aumenta meu manuseio em 20%, o que não parece ser muito, mas faria uma boa diferença futuramente…
Eu estava sentado em um toco de árvore recuperando o meu fôlego, observando meu progresso na janela de status…
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NOME: Nero. ATK:25. RES:10
IDADE: 22. DEF:10. SRT:10
TÍTULO: NENHUM. AGI:15. INT:10
NÍVEL:5 CHR:10. END:15
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Eu consegui subir de nível durante esses dias de treinamento, e descobri que a cada nível eu recebo 5 pontos para distribuir entre os meus atributos, e isso sem levar em consideração que durante esse tempo todo a skill “Skylands” que recebi após usar a bênção de Fanna estava ativa, e com essa skill eu recebi as árvores de habilidades que existiam no jogo…
Minha cabeça estava cheia dúvidas sobre esse sistema de skills e atributos, agora que já faziam dias desde que cheguei aqui ficou claro pra mim que essa era minha nova realidade, nenhum sonho iria durar tanto tempo assim, e sobre a bênção de Fanna, uma vez ativada eu não tinha como desativar ela, apenas no dia seguinte surgiu a opção, eu pensei em desativar pra ver se eu realmente teria que esperar 3 dias pra poder ativar de novo…
“Ei Leandre, desculpa se eu estiver sendo curioso demais, mas onde você aprendeu a manusear espadas? Você teve um professor?”
“...exército…”
“Oh… saquei…”
Durante esses dias eu tentei conversar mais com o Leandre mas ele continuava fechado, talvez ele não confiasse em mim ainda, ou esse era o padrão de comportamento dele…
“Já chega de descanso, em posição!”
Sem hesitar, eu deixei de prestar atenção na janela de status e skills e me levantei com a espada em mãos, e em um piscar de olhos a espada dele já estava quase me acertando…
Durante esse período de treinamento eu fui enganado muitas vezes, quando peguei o jeito e passei a prever e evitar os golpes surpresa ele aumentou a velocidade e força dos golpes, quando me adaptei ao novo ritmo, ele começou a criar aberturas propositais em sua defesa para me encorajar a atacá-lo e cair na sua armadilha, não importava quantas vezes eu me iludisse a achar que estava chegando perto do nível dele, ele sempre me dava um choque de realidade… que por muitas vezes eram dolorosos…
Meus braços já estavam dormentes de tanto treinar com ele, mas não pude deixar de gostar disso tudo, durante esses dias eu passei a treinar de manhã até o por do sol, e a noite eu ajudava a Eliza com os afazeres de casa, eu sentia que pela primeira vez eu tinha alguém com quem eu me importo, eu me sentia parte da família, principalmente a Diana, me fez lembrar dos momentos bons que tive na época do orfanato, como as outras crianças brigavam, brincavam, talvez por me tornar uma pessoa rancoroso e pessimista conforme eu crescia eu tenha esquecido…
“Não se distraia!”
Leandre disse enquanto me atacava como se quisesse perfurar o meu peito com a espada de madeira, mas depois de tanto lutar com ele, pela primeira vez eu não pensei em como desviar, ou defender, eu senti que meu corpo estava se mexendo sozinho e que eu estava apenas assistindo, eu mal pude acreditar que eu me curvei para trás enquanto eu o atacava com um golpe de estocada no peito… pela primeira vez, eu acertei um golpe nele…
“Huf…huf…huf…nada mal moleque, agora você tá pronto pra enfrentar qualquer bandido ou monstro de classe inferior que você vai enfrentar como um aventureiro ranque F ou E…”
Eu não conseguia falar, estava tentando recuperar o fôlego enquanto eu ouvia o discurso dele…
“Não achei que fosse chegar a esse nível em apenas uma semana, parabéns garoto você me surpreendeu… to orgulhoso de você…”
Sem que eu percebesse uma lágrima correu em meu rosto, essa era a primeira vez que alguém tinha reconhecido meu esforço, a primeira vez que alguém tinha se orgulhado de mim…
“...você tá bem moleque?”
“Huh? Ah tá, não é nada, só caiu um cisco no meu olho…”
Leandre recolheu as espadas e me deu um cantil de água já que eu estava ofegante…
“Depois do descanso nós vamos pra vila falar com o Gusttan, temos que ver com ele a disponibilidade de espaço na carroça dele e quando ele vai sair.”
“Beleza… só mais uns cinco minutinhos e tô pronto…”
Eu disse depois de beber toda a água do cantil e me sentar no mesmo toco de antes…
‘Deixa eu ver aqui…’
Eu disse enquanto abria a janela da skill de Skylands…
‘Esgrima de uma mão subiu mais um nível, e bloqueio chegou ao nível 20, agora consigo pegar o primeiro perk passivo…’
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*”O cara durão”
Aumenta o HP e defesa em 10%
(Efeito aplicado enquanto a skill Skylands estiver ativa)
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Olhando a janela da skill, me peguei indagando sobre as visões que tive no primeiro dia…
‘Isso deve ser coisa da deusa, mas… o que a outra bênção faz? A julgar pelo nome censurado deve ser coisa da outra criatura, tudo estava escuro e parecia vazio, mas com certeza tinha uma entidade lá… só lembro que a voz fazia meu corpo todo doer e que ela me disse pra me divertir… se a primeira foi uma Deusa… a voz seria um demônio…? Não… a Deusa era bem o estilo de uma pintura de capela histórica europeia, a voz no vazio era algo mais… vazio? Talvez o abismo ou outra divindade duvidosa… mas essa bênção que a voz me deu, já faz uma semana e não consigo ativar ela… ela nem mesmo explica quais são os requisitos pra liberar o uso… talvez na cidade eu encontre alguma pista…’
“Moleque! Tá pronto?”
Eu estava focado mexendo com as janelas de skills e quase não reparei que o Leandre estava me chamando…
“To! Só um segundo.”
Eu disse enquanto pegava minha camisa do chão e a vestia…
×××
Ao chegar na vila as pessoas que passavam cumprimentavam o Leandre e eu, eu nem mesmo os conhecia, mas eles sabiam que eu era o estranho com amnésia que acharam na floresta…
“Leandre! Meu camarada! Chegue mais amigo! O que o traz a essa hora?”
Quando estávamos chegando no estabelecimento do Gusttan ele nos viu e acenou, como da última vez, ele parecia alegre e otimista…
“Gusttan, eu e o moleque viemos discutir algo com você… você tem tempo?”
“Claro! Eu já estava a arrumar a loja e ir pra casa! Agora que você tá aqui, que tal tomar uma cerveja ein? Hahaha”
Ele dizia enquanto fechava a tranca da loja, Leandre e eu esperávamos ao lado…
“Venham, venham! É logo ali.”
Após andar por uns 2 minutos chegamos numa construção grande pra ser uma casa, parecia ser a taverna local…
Nós entramos e nos sentamos no balcão, o taverneiro já preparou 3 canecas de cerveja enquanto começamos a conversa…
“Amanhã você vai à cidade, certo?”
“Sim, vou levar parte do que produzimos como queijo e comprar algumas coisas que não temos aqui…”
“Sim sim, eu estava perguntando pra saber se tem espaço pra mais um na viagem, o moleque aqui vai ser um aventureiro na cidade…”
Gusttan olhou pra mim um tanto quanto surpreso, talvez ele não esperasse que Leandre iria pedir algo do tipo…
“Tem como ele vir comigo sim, mas é você garoto? Tá pronto pra isso? Aventureiros vivem em perigo constante, um descuido e até um goblin selvagem pode te matar…”
“Uh eu? Ah, não sei se estou preparado, mas eu não aceitaria um pedido que eu não tenha certeza que consigo cumprir…”
“Hoh, essa é uma boa mentalidade pra se ter, muitos se deixam levar pelas promessas de aventuras e riquezas e esquecem de manter a cabeça no lugar…”
“...agradeço pelas palavras…”
Gusttan e Leandre ficaram conversando um pouco enquanto eu só existia e comentava de vez em quando, era difícil de entrar em uma conversa com pessoas que eu não tinha conexões…
Após algumas canecas, Leandre e eu nos despedimos de Gusttan e voltamos pra casa, naquela noite durante o jantar nós conversamos sobre a minha partida, Elisa dizia que o tempo foi curto mas que foi uma honra conhecer um iluminado, eu não tinha coragem pra dizer o contrário pra ela, ela parecia ser uma devota de Fanna, me ouvir negar ser um iluminado poderia ofendê-la, não quis isso já que ela havia sido tão generosa e amigável…
Após o jantar eu ajudei a Elisa com a louça e fui me preparar pra levantar cedo amanhã, não queria perder a carona com o Gusttan, más antes de me deitar, Leandre veio até o quarto que eu estava usando com uma espada e algumas peças de armadura de couro…
“Aqui, quero que você fique com isso… são proteções para as pernas e os braços, e essa espada também, ela é antiga mas ainda útil…”
Ele me deu as proteções e me mostrou como vesti-las…
“Obrigado, só por ter me ajudado eu já era agradecido, não precisava me dar seu equipamento…”
“Não é nada, elas estavam pegando poeira, melhor com você do que comigo…”
“Obrigado… de verdade…”
Leandre me deu a espada e saiu do quarto, ali sozinho, eu tirei a espada da bainha e vi que ela não era uma simples espada qualquer, mas não era muito chamativa também, a espada era de ferro, afiada, e parecia ter uma inscrição no sulco da lâmina, com uma pedra branca como leite cravada na guarda da espada, logo acima do punho… eu a coloquei de volta na bainha e voltei a deitar… naquela noite eu quase não dormia era muita coisa na minha cabeça me deixando ansioso… essa era minha chance de uma vida diferente, ver paisagens que nunca veria, quem sabe eu não poderia conhecer um elfo arqueiro ou um ferreiro anão… as possibilidades surgiram na minha cabeça uma atrás da outra… naquela noite eu dormi pouco comparado a minha rotina de sono…
×××
No dia seguinte, o sol ainda nascia quando me despedi do Leandre e a Elisa, eu estava trajado com uma camiseta e calça antiga do Leandre e com um par de botas que convenientemente me serviam… em meus braços e pernas haviam as proteções que ganhei na noite anterior, e na minha cintura a espada…
Chegando na vila eu vi o Gusttan carregando algumas caixas de madeira na carroça e me ofereci pra ajudar, não demorou muito pra terminar e podermos partir… quando saímos da vila e a carroça mexia conforme seguia a estrada, Gusttan iniciou a conversa…
“E então, ansioso? Aposto que sim haha”
“Um pouco, é a minha primeira vez fora da vila desde que cheguei aqui”
“Sim… imagino que Leandre vai sentir sua falta, faz um bom tempo que eu não o via animado…”
“Animado? Como assim? Ele me pareceu muito fechado e um tanto quanto rabugento, ele andava pior?”
“Então ele não te contou… faz 2 anos desde o fim da guerra com o império de Donovan, o Leandre e seu filho mais velho participaram dela, Leandre quase morreu e seu filho não teve a sorte dele… desde então ele andava triste, como se tivesse morto por dentro… se ele estivesse vivo ele teria a sua idade, cabelos curtos, e muito parecido com você…”
Ouvir os comentários do Gusttan me fez olhar todos esses dias interagindo com eles de uma forma diferente, e como o Leandre não andava desconfiado de mim, mas que na verdade ele estava desconfortável já que eu estava preenchendo o vazio que o filho dele deixou…
“Você não achou estranho eles terem um quarto vazio e roupas do seu tamanho? Até essa espada, o Leandre mandou um ferreiro da cidade forjar pra ele, ele disse que planejava deixar pro Hector, seu filho, mas a guerra aconteceu e… bom, estamos aqui agora…”
Não pude deixar de ver a situação que estávamos com outros olhos, ambos estávamos desconfortáveis com a ideia de ter alguém preenchendo um vazio que nos atormentava a tanto tempo… e eu mal pude conhecer mais sobre ele…
“Passamos pouco tempo juntos, mas… sinto que eu deveria ter o conhecido melhor…”
“Leandre é meio fechado realmente, mas com o tempo ele se solta mais depois de conhecer você…”
“Pode me contar mais sobre ele?”
“Claro! Tenho histórias o suficiente até chegarmos à cidade! Haha”
E assim seguimos de carroça em direção a cidade, conversando sobre o Leandre, e sobre o que eu faria ao chegar na cidade…
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Atualizado até capítulo 21
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