vigiado/apresentação

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A janela e a respiração
A luz do abajur lançava um brilho suave no quarto de Lishua. Ele estava deitado de lado, os cabelos escuros parcialmente sobre os olhos, respirando de forma lenta e profunda. O cansaço do dia finalmente o vencera.
Mas a noite — a verdadeira noite — só começava agora.
Do lado de fora da casa, entre as sombras da floresta e a cerca baixa do quintal, Yoon Wands observava.
Imóvel.
Silencioso.
O casaco negro dançava levemente com o vento, e seus olhos rubros, agora sem os óculos que usava para se disfarçar, brilhavam como brasas na penumbra.
Ele podia ouvir.
Cada batida do coração de Lishua.
Cada suspiro que escapava de seus lábios.
Cada mínimo movimento no lençol.
A janela estava fechada, mas isso nunca fora um obstáculo. Ele se aproximou um pouco mais, com passos leves, quase etéreos. Seus dedos tocaram o peitoril da janela, como se fosse vidro sagrado.
Yoon inclinou o rosto, seus olhos percorrendo o corpo relaxado do garoto adormecido. Havia algo em Lishua que o deixava inquieto… mais do que fome, mais do que desejo.
Era curiosidade. Era medo. Era conexão.
E ali estava o som…
…aquele sangue pulsando em ritmo lento, doce, provocante.
Seu instinto o obrigava a entrar, a tocá-lo, a sentir o calor de sua pele, o gosto de sua essência.
Mas ele não o fez.
Ele apenas olhou.
E por um breve segundo, Lishua pareceu se mexer. Um murmúrio escapou de seus lábios:
...
meio ao sonho, era um convite e uma maldição. Ele recuou, como se aquela palavra tivesse força suficiente para queimá-lo.
Virou-se de costas, o coração que já não batia há séculos agora pulsava em memórias esquecidas — de humanidade, de controle, de escolhas.
“Você não é meu.” — pensou, olhando para a lua.
“Ainda não.”
E então desapareceu na neblina da madrugada, como um sussurro antigo levado pelo vento.
...
esse foi um episódio pequeno mas logo vou voltar a postar os eps normalmente mas vcs gostam deles longos?
Mateus
Mateus é três anos mais velho que Lishua. Alto, de ombros largos e sempre com uma postura fechada, quase defensiva. Seus cabelos são escuros como os de Lishua, mas mantém sempre curtos e alinhados, como se tentasse manter a ordem que falta dentro de si.
Tem olhos castanho-escuros, frios e calculistas, que parecem sempre medir tudo e todos ao redor — inclusive o próprio irmão.
Enquanto Lishua é sensível, observador e introspectivo, Mateus é prático, direto, muitas vezes seco demais. Não é de muitos sorrisos, nem de palavras doces. Cresceu com a responsabilidade de ser “o mais velho” e parece carregar esse peso como uma couraça.
Entre eles há um muro invisível: não são inimigos, mas tampouco confidentes. Mateus raramente entende a melancolia silenciosa de Lishua, e Lishua evita os julgamentos que sabe que o irmão faria se soubesse dos pensamentos que o perturbam.
No fundo, Mateus se preocupa — mas não sabe como demonstrar.
Levi
Levi, o pai, é um homem marcado pelos anos e pela responsabilidade. De meia-idade, cabelos grisalhos já avançando pelas têmporas, mantém sempre uma expressão austera, como se o mundo fosse uma batalha constante.
Seu olhar é severo, duro, mas carrega uma tristeza discreta, escondida sob o peso da rotina e da criação solitária dos dois filhos. Depois que a mãe deles partiu
Levi se fechou ainda mais, dedicando-se apenas ao trabalho e a manter os filhos “nos trilhos”.
Para Lishua, Levi é um enigma: um homem que deveria protegê-lo, mas que parece estar sempre distante demais para isso.
Fala pouco, cobra muito, mas raramente expressa carinho. As refeições em família são marcadas mais pelo silêncio do que por conversas.
Mesmo assim, seus olhares longos sobre Lishua deixam claro: ele percebe que o filho mais novo está mudando — e isso o assusta, embora nunca admita.
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