O silêncio no escritório era cortado apenas pelo som dos saltos de Bianca contra o piso de mármore. Cada passo dela fazia Henrique apertar ainda mais os punhos, tentando conter o turbilhão que ela, inevitavelmente, trazia consigo.
— Eu... — Bianca suspirou, levando uma mecha de cabelo atrás da orelha — Não sabia se você me receberia. Na verdade, nem sabia se deveria estar aqui. Mas... eu precisava.
Ele não respondeu de imediato. Seu olhar era duro, desconfiado. O corpo inteiro tensionado.
— Você não devia estar — respondeu, seco. — Depois de tudo... não faz sentido você aparecer aqui. Não mais.
Ela mordeu o lábio inferior, fingindo nervosismo. Na verdade, cada movimento era calculado.
— Eu sei que te magoei, Henrique. E não vou fingir que não errei. Mas... — abaixou os olhos, como se estivesse vulnerável — eu também sofri. Me arrependo tanto...
Ele se levantou, caminhou até a janela, olhando a cidade lá fora. Por alguns segundos, seu silêncio foi mais pesado do que qualquer palavra.
— Você me deixou... sem olhar pra trás. — Sua voz saiu baixa, amarga. — Sumiu. Simples assim. Anos... Bianca.
Ela respirou fundo, caminhando lentamente até ele.
— Eu era jovem... assustada... e burra. Achei que precisava de coisas que... no fim, nunca me fizeram feliz. — Tocou o braço dele, que enrijeceu. — E... todo esse tempo, sabe quem nunca saiu da minha cabeça? Você.
Henrique fechou os olhos. A verdade é que, por mais que tentasse negar, o nome dela sempre habitou algum lugar dentro dele. Um nome que ele nunca conseguiu apagar completamente, mesmo depois de se casar... mesmo depois de tentar construir uma vida com outra pessoa.
— Por que agora, Bianca? — Perguntou, virando-se lentamente para encará-la. — Por que depois de tanto tempo?
Ela respirou fundo, com lágrimas se formando nos olhos. Falsas, mas convincentes.
— Porque... — sua voz falhou — eu descobri que... te perdi uma vez... e não suportaria te perder de novo.
Henrique apertou o maxilar. Sentia-se dividido. Parte de si queria expulsá-la dali. Mas a outra parte... a mais fraca, talvez... ainda era dela.
— Eu sou casado, Bianca — declarou, numa tentativa desesperada de lembrar a si mesmo da realidade.
Ela assentiu, abaixando a cabeça.
— Eu sei... e não vou mentir... isso me machuca. Mas eu não vim aqui pra causar problemas, Henrique. Vim porque... eu precisava te ver. E... se ainda existir qualquer chance, eu... eu quero tentar.
O silêncio se instalou novamente, pesado, sufocante. Henrique não respondeu. Simplesmente ficou ali, olhando para ela como quem vê um fantasma do passado que nunca conseguiu exorcizar.
Enquanto isso, do outro lado da cidade, Alice chegava à clínica para seu ultrassom. Caminhava sozinha, segurando a bolsa contra o peito como se aquilo pudesse protegê-la do vazio que sentia.
Sentou-se na sala de espera, olhando ao redor e observando casais sorrindo, mãos entrelaçadas, expectativas compartilhadas. Ela era a única sozinha ali.
Por que comigo sempre foi assim? — pensou, lutando contra as lágrimas.
O celular vibrou. Um nome na tela: Henrique.
Por um segundo, seu coração acelerou. Quem sabe, dessa vez, ele perguntaria como ela estava. Quem sabe...
Deslizou o dedo, ansiosa, mas o que encontrou foi apenas uma mensagem curta, fria, quase automática.
"Não vou conseguir chegar. Me avisa se der tudo certo."
As mãos de Alice tremeram. Ela apertou os olhos, respirou fundo e forçou um sorriso fraco, tentando convencer a si mesma de que não doía. Mas doía. Como sempre doeu.
Segurou a barriga, engoliu o choro e sussurrou baixinho:
— Tudo bem... Você tem a mim, meu amor. E eu... eu tenho você.
E, pela primeira vez, uma voz silenciosa dentro dela começou a gritar:
Você não merece viver assim. Não mais.
Henrique passou as mãos pelo rosto, caminhando de um lado para o outro do escritório, tentando organizar os próprios pensamentos. Ele era sempre racional, sempre centrado. Mas Bianca... Bianca era sua fraqueza. Sempre foi.
— Você não pode simplesmente aparecer assim, Bianca — disse, mais para si mesmo do que para ela. — Minha vida... minha vida seguiu.
Bianca se aproximou, tocando de leve o braço dele, com aquele olhar que sabia usar como ninguém — uma mistura de arrependimento e desejo.
— Seguiu mesmo, Henrique? — Sua voz saiu baixa, suave, quase um sussurro venenoso. — Você olha nos meus olhos e me diz, com toda certeza, que me esqueceu? Que nunca mais pensou em mim... nem uma única vez?
Ele apertou os olhos, respirando fundo, lutando contra o peso das lembranças.
— Isso não importa mais — respondeu, desviando o olhar. — Você fez sua escolha, Bianca. E eu... eu me casei.
Ela assentiu, cruzando os braços, fingindo aceitar. Mas seu sorriso de canto denunciava que aquele jogo estava longe de acabar.
— Claro. Com... como é mesmo o nome dela? Alice? — falou com uma falsa doçura, como se o nome tivesse gosto amargo na boca. — Sua... esposa.
Henrique não respondeu. Apenas apertou o maxilar, mantendo a postura rígida.
— E me diz, Henrique... — Bianca deu mais um passo, agora bem perto, tão perto que ele podia sentir o perfume que um dia o enlouquecia — você ama ela?
O silêncio que se seguiu foi mais revelador do que qualquer palavra.
Henrique não respondeu. Porque, no fundo, ele sabia que não. Nunca amou. Nunca sequer tentou de verdade. Casou-se por responsabilidade, por honra, por senso de dever... mas não por amor.
Bianca sorriu, satisfeita.
— Eu imaginei... — sussurrou, antes de pegar sua bolsa e caminhar até a porta. — Eu não vim aqui pra te forçar a nada, Henrique. Só queria que você soubesse... que eu voltei. E, se você quiser... eu ainda posso ser sua.
Antes de sair, lançou um último olhar, carregado de segundas intenções.
— Pensa nisso.
Quando a porta se fechou, Henrique caiu na cadeira, passando as mãos pelo rosto, sufocado por um turbilhão que ele fingia não existir há anos.
Horas depois, Alice voltou da clínica. Caminhou pelo apartamento vazio, segurando o envelope com as imagens do ultrassom. Seus olhos estavam inchados de tanto segurar o choro, mas o sorriso forçado não saía do rosto.
Colocou as imagens na mesa de centro, olhando para elas como quem busca uma força que não sabe se tem.
Pegou o celular, hesitou... e, contra sua própria vontade, digitou:
“Está tudo bem. O bebê está bem.”
A mensagem foi enviada, mas nenhuma resposta veio.
Suspirou, deitou-se no sofá e apertou um travesseiro contra o peito, tentando sufocar o vazio, a dor, o cansaço.
Até quando eu vou viver assim? Até quando eu vou me contentar com migalhas? — pensou, enquanto uma lágrima solitária escorria.
Mal sabia ela que, naquele mesmo momento, o coração de Henrique estava dividido entre o passado que ele nunca superou... e o presente que ele nunca valorizou.
O relógio marcava quase oito da noite quando Alice ouviu a porta se abrir. O som das chaves, dos passos dele. Por um segundo, seu coração disparou. Queria acreditar que ele perguntaria do exame. Que, pelo menos dessa vez, olharia pra ela diferente.
— Oi — disse, forçando um sorriso.
Henrique deixou as chaves na bancada, tirou o paletó e respondeu sem nem olhar pra ela:
— Oi.
Ela engoliu em seco.
— Eu... eu trouxe as imagens do ultrassom. Se quiser... posso te mostrar.
Ele sequer parou o que fazia. Tirou o relógio, afrouxou a gravata, andando até o bar para servir uma dose de whisky.
— Depois. Agora não. — Sua voz saiu seca, distante.
O silêncio que se seguiu foi tão ensurdecedor que parecia gritar dentro da cabeça de Alice.
Ela fechou os olhos, apertando forte as mãos sobre as pernas pra não desabar ali mesmo.
Naquele instante, sem que ela soubesse, Henrique segurava o copo de whisky com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. Mas não era pelo bebê. Não era por ela.
Era por uma única coisa que não saía da sua mente desde a tarde inteira:
Bianca voltou.
E, embora ele não quisesse admitir... uma parte dele sabia que, dali em diante, nada mais seria como antes.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 34
Comments
Marilena Yuriko Nishiyama
Bianca vc é uma mulher falsa e vc Henrique um tremendo de um babaca.....Alice saia desse casamento que não está te levando a nenhum lugar,pois vc só está se humilhando com esse ser que não te merece
2025-05-25
2
Gigliolla Maria
um amor não correspondido acaba e vá viver sua vida alice .
2025-05-25
0
Dulce Gama
Henrique é um homem maturo experiente não percebe que Bianca é uma cobra 🐍 vai infernizar a dele até Alice deixar ele tomara que Alice perceba antes do BB nascer e vá embora aí ele vai saber a diferença entre as duas 🌹🌹🌹🌹🌹🎁🎁🎁🎁🎁👍👍👍👍👍♥️♥️♥️♥️♥️🌟🌟🌟🌟🌟🌟
2025-05-25
0