O cheiro de hospital impregnava cada centímetro daquele quarto. O som dos monitores, os passos apressados dos enfermeiros no corredor e o bip constante formavam uma trilha sonora triste e sufocante.
Alice estava sentada na cama, olhando fixamente para a janela. As olheiras fundas, o rosto pálido e os olhos vazios denunciavam a tempestade que se formava dentro dela.
Ela não chorava mais. Não havia mais lágrimas.
Júlia estava sentada ao seu lado, segurando sua mão. As duas ficaram em silêncio por longos minutos, até que, enfim, Alice quebrou o gelo.
— Sabe o que é pior? — Sua voz era baixa, amarga, quase um sussurro. — Nem é perder o bebê. É perceber que eu passei anos... anos da minha vida... implorando por migalhas de um amor que nunca existiu.
Júlia apertou sua mão com força.
— Não fala assim, amiga...
Alice respirou fundo, os olhos marejados, mas firmes.
— Eu tô cansada, Júlia. Cansada de me humilhar, de implorar, de esperar que ele olhe pra mim como mulher, como esposa... como qualquer coisa além de um erro do passado dele.
Ela virou o rosto, encarando a amiga com uma força que nem sabia que tinha.
— E quer saber? Acabou. Eu não vou mais viver assim.
O silêncio que se fez foi pesado, carregado de decisão.
Henrique estacionou o carro no hospital como quem chega a uma cena de crime. Suas mãos tremiam. Sua respiração estava descompassada.
Ele não sabia exatamente o que sentia. Medo? Culpa? Arrependimento? Orgulho ferido?
Ao se aproximar da porta do quarto, viu Júlia saindo.
— Onde ela tá? — perguntou, sério.
Júlia o encarou de cima a baixo, com nojo.
— Você não tem mais direito de perguntar por ela, Henrique.
Ele tentou passar, mas ela bloqueou a entrada.
— Olha aqui, seu canalha... — sua voz saiu firme, cortante. — Se você ousar machucar ela de novo, eu juro... eu juro que você vai se arrepender pro resto da sua vida.
Henrique apertou os olhos, respirando fundo.
— Sai da frente, Júlia.
Ela bufou, cruzou os braços e, antes de sair, lançou a última facada:
— Sabe o que é engraçado? Você passou a vida inteira desprezando uma mulher que teria movido o mundo pra te fazer feliz. E agora... parabéns. Você conseguiu destruir ela. Mas eu te garanto uma coisa, Henrique Torres... quando ela se levantar — porque ela vai, você pode ter certeza —, ela nunca mais vai olhar na sua cara. E aí... quem vai ser destruído... vai ser você.
E saiu, batendo o salto no chão, deixando ele ali, parado, digerindo cada palavra.
Ao entrar no quarto, Henrique encontrou Alice sentada na cama, segurando um papel nas mãos. Seu olhar era diferente. Não havia mais dor — só vazio. Só cansaço. Só exaustão.
Ele tentou falar, mas ela levantou a mão, interrompendo-o.
— Não. — Sua voz saiu firme, sem tremor. — Não fala nada, Henrique. Eu não quero ouvir desculpas, nem explicações, nem mentiras.
Ele franziu a testa, desconfortável.
— Alice, eu...
— Chega. — Ela respirou fundo, apertou os olhos por alguns segundos, e quando abriu, estava decidida. — Eu tô pedindo o divórcio.
As palavras dele ficaram presas na garganta.
— O... quê?
— Isso mesmo que você ouviu. — Ela estendeu o papel. — A autorização pra você assinar. Eu já falei com meu advogado. Eu... eu não quero mais isso. Não quero mais você. Não quero mais esse casamento que só existe no papel. Chega, Henrique.
Ele deu um passo pra trás, como se tivesse levado um soco.
— Você não tá falando sério... — sua voz saiu mais baixa, quase chocada.
Alice sorriu. Um sorriso triste, amargo... mas, acima de tudo, um sorriso de quem finalmente entendeu seu próprio valor.
— Pela primeira vez, Henrique... eu tô falando mais sério do que nunca na vida.
Ele passou a mão pelos cabelos, nervoso, começando a sentir algo que não sabia nomear: pavor.
— Você tá magoada... tá no auge da dor... não tá pensando direito...
Ela o encarou, fria.
— Ao contrário, Henrique. Pela primeira vez, eu tô pensando com clareza. Eu te esperei. Esperei muito. Esperei além do que qualquer mulher sensata deveria esperar. E sabe o que eu aprendi? Que quem espera demais... se perde. E eu... eu cansei de me perder em você.
Henrique apertou os olhos, desviando o olhar, sufocado.
— Alice...
Ela estendeu a mão, interrompendo de novo.
— Por favor... só sai. — A voz estava embargada, mas firme. — Sai da minha vida. Me deixa em paz. Me deixa reconstruir... sem você.
Henrique ficou parado por alguns segundos, sem saber se discutia, se pedia desculpas, se implorava... mas não fez nada.
Virou as costas... e saiu.
Alice ficou sozinha no quarto, observando a porta que Henrique acabara de fechar. O silêncio tomou conta do ambiente, e ela respirou fundo, tentando não ceder ao peso que apertava seu peito.
As mãos tremiam, o coração batia acelerado, mas, dentro daquele turbilhão, havia algo novo: alívio.
Um alívio agridoce, é verdade. Ainda doía. Ainda queimava. Mas, no fundo, ela sabia que aquele era o primeiro passo para se libertar de uma vida que só a fazia se sentir pequena, invisível, insuficiente.
Levantou-se da cama devagar, caminhando até o espelho do banheiro do hospital. Encostou as mãos na pia, olhou sua própria imagem e quase não se reconheceu. O rosto abatido, as olheiras profundas, os olhos vermelhos de tanto chorar.
Mas, por trás daquela imagem quebrada... ela ainda estava ali.
— Isso acaba hoje. — Sussurrou para si mesma, com a voz embargada, mas cheia de firmeza. — Acaba hoje, Alice.
Ela enxugou as lágrimas, respirou fundo e, naquele instante, fez uma promessa silenciosa: nunca mais se colocaria em segundo plano. Nunca mais aceitaria menos do que merecia. Nunca mais se anularia por ninguém.
Nem por Henrique.
Nem por homem nenhum.
Enquanto isso, no estacionamento do hospital, Henrique estava dentro do carro, parado, com as mãos segurando o volante, olhando fixamente para o nada.
Sua cabeça parecia prestes a explodir. O peito apertava de um jeito que ele nunca tinha sentido. Era desconforto, era angústia, era... vazio.
Pela primeira vez, ele percebeu que talvez... tivesse perdido.
Perdido de verdade.
As palavras de Alice ecoavam na sua mente como facas:
"Eu te esperei... esperei além do que qualquer mulher sensata deveria esperar. E sabe o que eu aprendi? Que quem espera demais... se perde. E eu... eu cansei de me perder em você."
Ele passou a mão pelos cabelos, respirou fundo, apertou os olhos, mas não adiantava. A culpa era uma corrente sufocando o pescoço. A cena dela no hospital, frágil, destruída, mas tão decidida... aquilo o desestabilizou de um jeito que ele jamais imaginou ser possível.
Por um segundo — um único segundo — ele quis correr até ela, se ajoelhar, pedir perdão, implorar pra que não desistisse dele.
Mas o orgulho... sempre ele... o impediu.
Afinal, era mais fácil se convencer de que Alice estava apenas magoada. Que ela iria ceder. Que ela sempre cedia.
O problema... é que, dessa vez, não parecia que ela cederia.
No dia seguinte, Alice recebeu alta. Júlia foi buscá-la, levando uma mala com suas coisas.
Ao sair do hospital, Alice respirou o ar frio da manhã, fechou os olhos e, por um breve momento, sentiu a liberdade tocar sua pele.
— E agora? — perguntou Júlia, segurando a mala.
Alice sorriu de canto, ainda frágil, mas determinada.
— Agora... agora eu começo do zero.
Ela olhou para frente, como quem enxerga um novo caminho.
— Eu vou recomeçar, Júlia. E, dessa vez, não é por ninguém. É por mim. Só por mim.
Júlia sorriu, apertando o ombro da amiga.
— Isso aí, minha amiga. Você merece muito mais do que aquilo.
Enquanto as duas se afastavam, Henrique as observava de longe, dentro do carro, escondido, incapaz de descer. Incapaz de enfrentar o que, no fundo, ele sabia: que ela estava indo embora... de vez.
E o pior de tudo?
Ela não olhou pra trás.
Nem uma única vez.
Naquela noite, Alice arrumava suas coisas na casa de Júlia. Guardava as roupas, separava documentos e, entre lágrimas silenciosas e suspiros longos, começava a escrever uma nova história.
No meio da bagunça, seu celular vibrou. Uma mensagem desconhecida.
"Boa noite. Meu nome é Arthur. Acho que temos um amigo em comum. Júlia me falou de você... me desculpa invadir assim, mas... se você aceitar, eu adoraria te oferecer minha ajuda nesse recomeço."
Alice leu, relendo, franzindo a testa. Seu coração apertou, desconfiado, machucado, cansado... mas, ao mesmo tempo, uma fagulha de curiosidade acendeu.
Ela respirou fundo, olhou para a tela e, com um meio sorriso no canto dos lábios, respondeu:
"Boa noite, Arthur. Prazer. Talvez... seja uma boa ideia começar a conversar."
E, sem perceber... aquele simples "boa noite" seria o início de tudo que ela jamais imaginou viver.
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Atualizado até capítulo 51
Comments
Rosângela Pereira
Tomara que esse verme caia feio não vou ficar com peninha peça o divórcio e vá viver a vida vc merece depois de tudo.
2025-06-27
3
Esther De S Passos
Agora o traste segue ela? Tem mais e que se arrepender mesmo. Quando souber que a narja da Bianca voltou por causa do dinheiro que engula quadrado. Perdeu o amor pelo interesse falso da amante. Idiota, arrogante.
2025-07-16
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Ely Ana Canto
tomara que leve chifres da Bianca ate a cabeça pesar e ver o que perdeu😡😡😡😡😡
2025-07-27
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