"Lúpus: Sob a Luz dos Quatro Tronos"
Capítulo 3 – Vozes da Floresta
A lua cheia ergueu-se acima do Castelo Drayven, prateada e silenciosa, observando como um olho ancestral. A noite, embora tranquila, carregava um sussurro estranho — como se a floresta ao redor estivesse viva e atenta à presença de Kael.
Ele não conseguia dormir. O quarto, frio e austero, parecia menos uma morada e mais uma cela enfeitada. As pedras das paredes murmuravam antigas lembranças de dor e rejeição. Com o peito apertado, Kael deixou a cama e atravessou o cômodo até a janela estreita.
A floresta além dos muros parecia chamá-lo.
Vestiu uma túnica escura e saiu em silêncio, descendo pelas passagens laterais da torre até alcançar os jardins e, depois, os portões externos. Dois guardas betas estavam na entrada, mas, ao sentirem o seu cheiro — o cheiro distinto de um Lúpus —, apenas abaixaram a cabeça e permitiram a passagem sem uma palavra.
Assim que pisou fora dos muros, o ar mudou.
Era como respirar pela primeira vez.
A cada passo na vegetação úmida, Kael sentia-se menos prisioneiro e mais parte de algo antigo. A energia mágica da floresta reconhecia seu sangue, murmurando canções esquecidas entre as folhas.
E então ele apareceu.
Um lobo branco, de olhos dourados, surgiu entre as árvores. Majestoso, silencioso. Kael parou, o coração acelerado. Não era comum encontrar um lobo selvagem tão perto da fortaleza. E havia algo mais naquela criatura — algo familiar.
O lobo o observou por longos segundos antes de desaparecer novamente entre as árvores, como um fantasma.
Kael seguiu o instinto e caminhou atrás da presença, até encontrar um círculo de pedras antigas, cobertas de musgo. Ali, sentiu a energia vibrar como uma canção distante em sua mente. Ao tocar uma das pedras, imagens cruzaram sua mente: visões de guerras antigas, de alfas e ômegas correndo em forma de lobo, de um reino onde todos os Lúpus eram honrados como líderes.
Uma voz feminina ecoou dentro de sua cabeça, suave como vento entre galhos:
𝐦𝐮𝐥𝐡𝐞𝐫
“𝐊𝐚𝐞𝐥... 𝐨 𝐬𝐚𝐧𝐠𝐮𝐞 𝐚𝐧𝐭𝐢𝐠𝐨 𝐝𝐞𝐬𝐩𝐞𝐫𝐭𝐚. 𝐍𝐚̃𝐨 𝐭𝐞𝐦𝐚 𝐨 𝐪𝐮𝐞 𝐯𝐨𝐜𝐞̂ 𝐞́.”
Assustado, ele recuou, mas não havia mais nada ali além do silêncio da noite.
Quando retornou ao castelo, o céu já começava a clarear. Mas algo havia mudado dentro dele. Uma certeza silenciosa agora pulsava em sua alma.
Não importava o desprezo de Reynar, o ódio de Thorian ou os sorrisos falsos de Lirien. Ele era um Lúpus. Um verdadeiro filho da floresta. E aquele mundo... ele ainda aprenderia a se curvar diante dele.
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