4:O Pedido

O cheiro do risoto de camarão tomou conta do quiosque quando a cozinha liberou as travessas fumegantes. Ayla ajeitou a bandeja no braço, mas, antes que pudesse sair, Kaena empurrou para mim.
Kaena
Kaena
Vai você, Naia. você não está fazendo nada
Naia
Naia
Eu??
Kaena
Kaena
Sim
Naia
Naia
Aff
Meu estômago deu um nó. Eu queria inventar qualquer desculpa, mas Ayla só me lançou um olhar cheio de malícia, como quem dizia: “Agora é com você.” Peguei a bandeja com cuidado e respirei fundo. O barulho das ondas parecia mais alto, abafando até as vozes das outras mesas. A cada passo, minha garganta apertava mais. Eles estavam lá, esperando. Os Ravaryn. Coloquei o primeiro prato sobre a mesa.
Naia
Naia
Risoto de camarão com pimenta…
Asher
Asher
Valeu, Naia. Vocês continuam arrasando na cozinha.
Naia
Naia
De nada Asher Que bom que você gosta
Eu dei um sorriso de canto
Naia
Naia
O sem pimenta…
Empurrei para Enzo, que apenas assentiu, agradecendo com um aceno contido.
Por último, coloquei o prato de Kael
Naia
Naia
Menos camarão, como você pediu.
Kael
Kael
Você ainda lembra, Sereia.
droga...
Meu coração disparou. O apelido caiu sobre mim como uma onda gelada, me arrastando direto para o passado.
Naia
Naia
você pediu tá anotado
não tava...
Ele ergueu os olhos para mim devagar, e foi como se todo o resto do quiosque desaparecesse. O sorriso torto apareceu no canto da boca dele.
Kael
Kael
interessante sereia
Mas a forma como ele me olhava… não era de alguém que acreditava na minha desculpa. O silêncio entre nós foi quebrado pelo tilintar dos talheres quando Ashley começou a servir o prato, animado. Enzo observava em silêncio, mas parecia mais atento ao que não estava sendo dito do que à comida. Coloquei os copos na mesa, evitando encontrar de novo os olhos de Kael.
Naia
Naia
Qualquer coisa… é só chamar
Virei as costas rápido, mas senti, antes mesmo de dar o primeiro passo, o olhar dele preso em mim. E naquele instante, tive certeza: o passado que eu queria esquecer tinha acabado de voltar à ilha.
(narração do Kael)
Ela colocou o prato na minha frente sem tremer as mãos, mas eu percebi. Naia sempre foi boa em disfarçar, mas eu sempre soube ler as fissuras por trás do olhar dela.
Naia
Naia
Menos camarão, como você pediu
Kael
Kael
Você ainda lembra, Sereia.
O jeito que o apelido a atingiu foi quase audível. Como se tivesse puxado uma memória que ela queria deixar afundada no fundo do mar. Mas ela só respondeu rápido, tentando manter o controle:
Sorri de lado. Ela podia negar o quanto quisesse, mas ainda lembrava.
Naia
Naia
Você pediu tá anotado
Mentira. Eu sabia. Porque ninguém ali sabia desse detalhe. Só ela. Ela que, anos atrás, nadava comigo nas manhãs quentes da ilha, competindo para ver quem chegava primeiro até as pedras. Ela que ria alto quando eu dizia que, se existia alguma sereia naquela praia, só podia ser ela — com os cachos molhados grudando no rosto e o sol deixando a pele morena ainda mais dourada. E agora estava ali, fingindo que não me conhecia. Naia virou as costas, os cachos balançando levemente, e eu a segui com os olhos até o balcão. Era quase engraçado. A ilha inteira continuava igual. O cheiro da maresia, o barulho das ondas, as mesas cheias do quiosque… Mas ela não. Ou talvez tivesse mudado menos do que gostaria de admitir. Ashley quebrou o silêncio, puxando a travessa para si:
Asher
Asher
Cara, isso tá com uma cara ótima.
Enzo só deu um “hm” em resposta, já mexendo no prato. Eu continuei olhando para Naia. Eu não tinha vindo até aqui para reabrir nada. Mas vê-la agora, tão perto e ao mesmo tempo tão distante, mexia comigo de um jeito que eu fingia não lembrar. Só que lembrava. De tudo. E talvez, só talvez, eu estivesse curioso para ver até onde ela conseguiria fugir.

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