Capítulo 1 – Aviso Prévio
O relógio marcava 8h17 da manhã quando Maximiliano Duncan foi arrancado do sono por três batidas firmes na porta de carvalho do seu quarto.
Três. Como sempre. Três batidas que carregavam o tom autoritário e contido de Álvaro Duncan, presidente da Duncan Corporation, pai de Max e homem incapaz de sorrir sem que isso lhe rendesse algum lucro.
Max resmungou algo inaudível, jogando um dos travesseiros no chão antes de se erguer na cama king-size coberta por lençóis egípcios que ele não sabia lavar, dobrar, nem quanto custavam. Tudo era fácil quando se nascia Duncan.
Maximiliano Durcan
Entra logo, inferno.
Resmungou, acendendo a luz do abajur com preguiça. Os olhos estavam inchados da ressaca da noite anterior.
A porta se abriu, e Álvaro entrou com passos pesados, carregando uma pasta de couro e um semblante ainda mais pesado.
Álvaro Durcan
Acorde. Vista-se. Nós temos algo importante pra discutir. Sala de reuniões. Dez minutos.
Maximiliano Durcan
Que tipo de pai chama o próprio filho pra uma reunião como se fosse funcionário?
Álvaro Durcan
Um pai que sustentou seu filho por vinte e seis anos pra ver ele se tornar um vagabundo. Dez minutos, Maximiliano. Nem um a mais.
A porta se fechou com um baque surdo. Max ficou ali, deitado, encarando o teto como se ele fosse oferecer respostas.
Estava com a cabeça latejando, o estômago embrulhado de uísque barato e nenhuma vontade de sair da cama. Mas sabia que quando o velho usava o tom de CEO em casa, era melhor não testar.
Enquanto Max se arrastava até o chuveiro, do outro lado da cidade, em uma cobertura bem menos extravagante e muito mais silenciosa, Jonatan Valentin encarava um espelho. Não por vaidade.
Era costume. Antes de qualquer reunião, ele se olhava no espelho e se lembrava de quem era: filho de Amélia Valentin, a mulher que construiu a Feben com as próprias mãos, e que, se estivesse viva, jamais teria deixado seu nome ser vendido.
Ele ajeitou a gola da camisa, com a mesma exatidão de sempre, e passou um perfume leve atrás das orelhas. Era o mesmo que sua mãe usava, uma fragrância de rosas secas e âmbar. Sua armadura.
Chamou Cássia, a antiga governanta, abrindo a porta devagar.
Cassia.
Seu pai está esperando no escritório.
Ele sorriu sem mostrar os dentes.
Jonatan Valentin
Vou agora.
Ao descer, já sabia que algo estava errado. Seu pai, Ronaldo Valentin, estava mais agitado do que de costume. A gravata torta, o copo de conhaque antes do meio-dia, os papéis revirados na mesa. Ele odiava desordem.
Ronaldo Valentin
A Feben... não temos mais como segurar.
Murmurou Ronaldo, sem rodeios.
Ronaldo Valentin
Os acionistas querem vender. A única forma de mantermos algum poder dentro da empresa é fazendo alianças. Alianças reais.
Jonatan arqueou uma sobrancelha.
Jonatan Valentin
Alianças, tipo o quê? Um pacto de sangue?
Ronaldo Valentin
Um casamento.
Ronaldo pegou um envelope, como se tirasse uma carta amaldiçoada. E entregou nas mãos do filho.
Ronaldo Valentin
O herdeiro da Duncan Corporation. Maximiliano Duncan. O mais velho. Os Duncan querem proteger os próprios ativos e dar uma maquiada de modernidade na imagem da empresa. Casamento entre alfa e ômega é bom pra publicidade. Pra nós… é a única chance de mantermos algum controle.
Jonatan riu. De verdade. Por três segundos. E depois lançou o envelope sobre a mesa com nojo.
Jonatan Valentin
Isso é uma piada.
Ronaldo Valentin
Jonatan...
Jonatan Valentin
Você quer me vender. Como uma piranha de luxo.
Ronaldo Valentin
Não fale assim.
Jonatan Valentin
Não? Então fala você, pai. Fala pra minha mãe, se ela ainda estivesse aqui, que você quer vender o nome dela em troca de status.
Ronaldo calou-se. Seus olhos se perderam entre os papéis.
Jonatan Valentin
Me recuso.
Ronaldo Valentin
Se recusar, a Feben será desmembrada em três meses. Eu... assinei parte dos papéis já. Só o casamento pode reverter.
Jonatan sentiu a náusea vir primeiro. Depois, o vazio. Ele subiu as escadas sem dizer mais nada, como um autômato.
No quarto, trancou a porta e apoiou a testa na madeira. Ficou ali, tentando respirar. Um noivado com Maximiliano Duncan, o herdeiro mimado, aquele alfa que vivia estampado em colunas de fofoca com outros ômegas, bêbado, rindo de coisas estúpidas como se o mundo fosse um parquinho.
Jonatan odiava ele. Nunca tinham trocado uma palavra, mas já o odiava com cada fibra do seu corpo.
E Max? Naquela mesma hora, sentado em frente ao pai e aos advogados, abria um contrato de noivado com a expressão de quem olhava para uma sentença de prisão.
Maximiliano Durcan
Tá de brincadeira, né?
Maximiliano Durcan
Pai... eu namoro o Ariel, caralho.
Álvaro Durcan
Namora, mas vive traindo ele. Já terminou três vezes. Ninguém te leva a sério. E se você não assinar esse contrato, tá fora da herança. E da mansão. E do cartão. E da Duncan Corporation. Vai ter que procurar emprego.
Max abriu a boca. Depois fechou. Depois abriu de novo.
Maximiliano Durcan
...Quem é esse ômega mesmo?
Álvaro Durcan
Jonatan Valentin. Da Feben.
Maximiliano Durcan
Nunca ouvi falar.
Álvaro se recostou, satisfeito.
Álvaro Durcan
Vai conhecer em breve. O jantar de anúncio é sexta. E o casamento, mês que vem. Parabéns, filho. Você vai se casar.
Comments
Author: Carola Borges
Primeiro Chat Story que vejo sendo bem feito
2025-05-31
0