O som da chaleira apitando preencheu o silêncio no apartamento em Notting Hill. Lívia acordou cedo naquele sábado, mas demorou a sair da cama. O peso da semana intensa ainda estava presente em seu corpo. Só que, acima de tudo, havia um nome girando em sua cabeça como um mantra silencioso: Dante Azevedo.
Ela entrou na cozinha ainda com o cabelo preso em um coque bagunçado. A mesa já estava posta — café, torradas e suco de laranja — e Isabela, sua melhor amiga e confidente desde os tempos da faculdade, estava sentada com o tablet na mão.
— Finalmente! — Isabela ergueu os olhos. — Achei que tivesse morrido de cansaço.
— Quase — respondeu Lívia, sentando-se. — A semana foi intensa.
— Intensa… ou Dante Azevedo?
Lívia lançou um olhar de repreensão, mas riu.
— Você não consegue parar, né?
— Claro que não. Quero detalhes! Vai me dizer que aquele homem maravilhoso te elogiou e você não surtou?
— Ele só disse que meu trabalho foi bom. E que minha argumentação foi afiada.
Isabela ergueu as sobrancelhas como se aquilo já fosse o suficiente para levantar uma tese.
— Isso vindo de Dante Azevedo é quase uma declaração de amor. Ele mal fala com a equipe!
— Isabela…
— Só estou dizendo… tem tensão aí. Você sente. Ele sente. E eu sinto daqui!
Lívia suspirou, sorrindo.
— Não é simples assim. Ele é meu chefe. É frio. Reservado. E… difícil de decifrar.
— O tipo que você adora, né? — Isabela provocou, mordendo a torrada.
As duas riram e seguiram conversando sobre o trabalho, a cidade, a vida. Era nesses momentos que Lívia se sentia mais centrada. Isabela era sua casa, sua zona de conforto em meio ao caos que era viver e trabalhar em Londres.
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Na segunda-feira, Lívia voltou ao escritório com a mesma elegância e firmeza de sempre. Havia algo de diferente no ar, no entanto. Dante estava mais observador, mais atento aos seus movimentos.
Durante a reunião da manhã, os dois trocaram olhares em silêncio. Não havia sorrisos, mas uma espécie de comunicação silenciosa entre eles. Como se cada palavra dita em voz alta escondesse outras não ditas, nas entrelinhas dos olhares e gestos.
— Senhorita Bernardes, preciso de sua análise sobre o contrato da LGT Corp. — ele disse, entregando-lhe um dossiê.
— Até o final do dia, senhor Azevedo — respondeu, firme, mas com um leve tom desafiador na voz.
Ele a observou por um segundo a mais do que o necessário. Depois apenas assentiu.
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Na hora do almoço, Isabela apareceu na empresa — o que estava se tornando um hábito.
— Vai me apresentar ou vou ter que bater na porta do CEO sozinha? — ela brincou, sentando-se com Lívia no refeitório.
— Você é impossível.
— E você ainda não me apresentou o tal Enzo, o melhor amigo do seu chefe. Já ouvi falar tanto que estou começando a achar que ele é um personagem inventado.
— Ele existe, e é o oposto do Dante. Simpático, sorridente, falante…
— Então me apresenta. — Isabela piscou.
Como se atendesse a um pedido não verbal, Enzo passou pela mesa das duas naquele instante.
— Bernardes — cumprimentou com um sorriso. — E essa é…?
— Isabela. — Ela se levantou, estendendo a mão com um sorriso confiante. — Melhor amiga e terapeuta não remunerada da Lívia.
Enzo riu, apertando sua mão.
— Enzo Montenegro. Melhor amigo e bombeiro emocional não requisitado do Dante.
Eles riram. O clima era leve e descontraído. Lívia observou discretamente a troca de olhares entre Isabela e Enzo. Aquela faísca sutil… ainda tímida, mas presente.
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No final do dia, Lívia bateu à porta do escritório de Dante com o relatório em mãos.
— Aqui está o que me pediu.
Ele pegou o documento sem tirar os olhos dela.
— Obrigado.
Ela hesitou, então completou:
— Está tudo certo, mas o item 7.2 está em desacordo com a cláusula principal do contrato. Fiz a sugestão de correção na última página.
Ele folheou, examinando a sugestão com atenção. Por um momento, Lívia pensou que ele fosse contestar. Mas então ele a olhou de novo, com aquele olhar firme, só que diferente — quase orgulhoso.
— Muito bem observado.
— Apenas fazendo meu trabalho.
— Está fazendo mais do que isso — respondeu, e a forma como disse a frase fez o coração dela acelerar.
Por um segundo, o silêncio se estendeu. Mas não havia tensão — havia… respeito. E um leve toque de algo novo. Curiosidade. Interesse. Admiração.
Lívia assentiu com um leve sorriso e saiu da sala.
O som da porta se fechando pareceu selar um novo estágio na relação dos dois.
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Naquela noite, em casa, Isabela apareceu na sala com uma taça de vinho.
— Você acha que ele já sonhou com você?
Lívia riu alto, jogando uma almofada nela.
— Eu tô tentando ser profissional!
— Ah, amiga. Profissional você já é. Agora vamos trabalhar na parte divertida disso tudo.
Isabela
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Atualizado até capítulo 85
Comments
Patrícia Barbosa Ferrari
Estou amando muito esse livro 📔,cada capítulo que leio é maravilhoso ❣️
2025-07-22
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