Máscaras e Olhares
Ao atravessar o grande salão principal do casarão, Carolina Ravena sentiu como se tivesse mergulhado em outro tempo, outra realidade. Os detalhes do ambiente eram absurdamente refinados, como se tudo tivesse sido montado por um cenógrafo obcecado pela perfeição. O chão de mármore negro refletia as luzes quentes dos lustres de cristal, e o ar exalava um aroma sutil de jasmim misturado a algo indefinido — talvez âmbar, talvez provocação.
Mas o que mais chamava atenção não era o luxo, e sim os convidados.
Homens e mulheres, todos com trajes de gala impecáveis, usavam máscaras venezianas que ocultaram parcialmente seus rostos. Algumas tinham penas, outras eram douradas, prateadas, ou feitas de renda preta. Os olhos por trás delas observavam em silêncio. E apesar da ausência de palavras, havia algo denso no ar.
Carolina, sem máscara, destacava-se como um farol em meio a sombras refinadas. Sabia disso, e por um instante, sentiu-se vulnerável. Mas apenas por um instante.
Damian caminhava ao seu lado com a tranquilidade de quem dominava tudo ao redor. Era claro que aquele era o mundo dele — não dela.
— Você não está com medo? — ele perguntou com um leve sorriso.
— Talvez um pouco desconfortável. Mas medo? Não.
— Ótimo. Desconforto é o começo da transformação.
Ela o encarou, tentando entender até onde ia a fachada de sedutor enigmático e onde começava o verdadeiro homem por trás daquele terno escuro e olhos hipnotizantes.
— Essas máscaras fazem parte de algum ritual?
— Não exatamente. São uma tradição aqui. — ele respondeu. — Todos têm algo a esconder. Mas você talvez esteja prestes a descobrir o que quer revelar.
Um garçom elegante se aproximou com uma bandeja de cristal. Carolina pegou uma nova taça de champanhe. O líquido dourado borbulhava como se pressentisse o que viria.
Antes que pudesse continuar a conversa com Damian, um homem alto se aproximou. Sua máscara era toda preta, com detalhes prateados e olhos afiados como navalhas.
— A nova convidada? — ele perguntou, sua voz grave e arrastada.
— Carolina Ravena. Escritora. — Damian respondeu por ela mais uma vez.
— Ah... as escritoras sempre são perigosas. Escrevem a realidade e convencem os outros de que é ficção.
Carolina arqueou uma sobrancelha.
— Ou escrevem ficção tão bem que convencem os outros de que é real.
O homem sorriu de lado, fez uma breve reverência e se afastou entre os convidados.
— Quem era ele? — perguntou Carolina.
— Um homem que adora controlar os outros. Mas você não é fácil de dobrar. Isso o intriga.
Eles caminharam até uma área mais reservada do salão, onde cortinas de veludo separavam pequenos ambientes com sofás e música suave. A atmosfera era sedutora, como se cada canto do casarão tivesse sido desenhado para alimentar desejos escondidos.
— Esse lugar é um jogo? — ela perguntou, cruzando as pernas com elegância.
— É o começo de uma escolha. — Damian respondeu. — Algumas portas só se abrem quando você está pronta para deixar algo para trás.
— E o que exatamente se deixa para trás aqui?
— A ilusão de controle. O conforto da normalidade. A negação do que você realmente quer.
Carolina sentiu o coração acelerar. Ele estava lendo sua alma? Ou apenas jogando com palavras, como ela fazia com seus leitores?
Antes que respondesse, uma música mais lenta começou a tocar. Damian levantou e estendeu a mão.
— Me concede essa dança?
Ela hesitou. Mas, no fim, estendeu a mão.
— Uma dança não faz mal.
Mal sabia ela que, naquela casa, até a mais simples dança podia mudar tudo.
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Atualizado até capítulo 52
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