Capítulo 5 – O Primeiro Olhar
O morro se erguia à frente de Bianca como um labirinto perigoso. Ela apertou a alça da mochila nos ombros, sentindo o peso dos documentos que precisava entregar a Rafael. Seu coração batia forte, não só pelo medo do que poderia encontrar, mas também pela responsabilidade que carregava.
Respirou fundo e começou a subir.
As vielas estreitas, o cheiro de comida misturado com o pó da terra, o som de vozes e risadas — tudo era novo para ela. Homens armados encostados nas esquinas observavam cada passo, desconfiados. Crianças corriam entre os becos, alheias à tensão no ar.
Bianca seguia firme, mesmo sentindo todos os olhares grudados nela.
Não demorou para chamar a atenção dos vapores, que pararam o que faziam para olhar.
Era como se uma estrela tivesse descido até o meio do caos.
Sorrisos maliciosos surgiram nos rostos sujos:
— Olha isso, mano... que visão!
— Cê viu que gatinha?
— Parece até miragem!
Assovios começaram a soar, e Bianca apertou o passo, tentando ignorar.
Foi então que Renato a viu.
Encostado em um muro pichado, trocando ideia com outros caras, ele ergueu os olhos preguiçosamente... e paralisou.
A garota, com roupa simples e jeito doce, parecia deslocada naquele cenário tão duro.
Renato franziu a testa.
O sangue esquentou ao ver os vapores babando nela como hienas famintas.
Renato era o gêmeo de Rafael, mas enquanto o irmão tinha o jeito frio e calculista de quem comandava o morro com mão de ferro, ele era impulsivo, intenso, e dono de um gênio explosivo.
Não aceitava desrespeito — e ver aquela menina sendo alvo de olhares sujos foi como acender gasolina nele.
Sem pensar duas vezes, se afastou do grupo e foi até ela, andando com aquele jeito despreocupado que escondia a fúria.
Bianca o viu se aproximar e parou.
Seu primeiro impulso foi recuar, mas quando os olhos negros dele encontraram os seus, sentiu um arrepio diferente. Não era medo. Era outra coisa... algo quente, que ela não sabia explicar.
Renato parou na frente dela, cruzando os braços.
— Tá perdida, princesa? — perguntou, a voz rouca, cheia de provocação.
Bianca engoliu em seco, tentando manter a postura.
— Vim entregar uns documentos pro Rafael... — respondeu, erguendo o queixo.
Renato arqueou a sobrancelha.
Então ela era a garota que o irmão esperava?
Interessante...
— É a primeira vez que você sobe aqui, né? — ele disse, analisando cada detalhe dela, da blusa simples até os olhos brilhantes de coragem.
Ela assentiu, tentando não se intimidar.
Ao redor, os vapores ainda olhavam, rindo entre si. Renato lançou um olhar fulminante para eles, e num segundo os risinhos cessaram. Ninguém ousava desafiar um dos gêmeos do morro.
— Segue comigo — disse ele, mudando o tom para algo mais sério. — Aqui não é lugar pra andar sozinha desse jeito.
Bianca hesitou.
Mas havia algo na presença dele — forte, protetora — que a fez confiar.
Deu um passo, e Renato começou a guiá-la pelas vielas.
Enquanto andavam lado a lado, Bianca notou como ele cumprimentava alguns homens com acenos de cabeça firmes. Era respeitado ali, sem dúvida.
— Você trabalha com o Rafael? — ela perguntou, tentando puxar conversa.
Renato deu um sorriso de lado.
— A gente é mais que sócios, princesa. A gente é irmão... gêmeo.
Bianca arregalou levemente os olhos.
Agora fazia sentido a semelhança física: os mesmos olhos escuros, o mesmo porte forte. Mas enquanto Rafael exalava frieza, Renato parecia uma tempestade prestes a explodir.
— Ah... entendi — disse ela, sorrindo timidamente.
Renato sentiu o coração acelerar.
Aquele sorriso era simples, mas nele havia uma doçura que ele nunca tinha visto em nenhuma outra garota do morro. Era como uma brisa fresca no meio do fogo que era sua vida.
Chegaram em frente a uma casa improvisada, reforçada com grades e câmeras. Renato fez sinal para ela esperar.
— Eu vou chamar ele — disse, olhando pra ela de cima a baixo, como se guardasse cada detalhe na memória.
Antes de entrar, voltou-se para ela:
— Se precisar de alguma coisa... é só me chamar. Eu tô de olho em você.
Bianca não conseguiu evitar: sorriu de novo, mais aberta dessa vez.
Renato sentiu uma pontada estranha no peito.
Era desejo, sim... mas também algo diferente, mais fundo, mais perigoso.
Enquanto entrava para buscar Rafael, sabia de uma coisa: aquela garota não era como as outras. E ele, Renato, já estava completamente fisgado — sem nem saber seu nome direito.
Era só o começo.
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Atualizado até capítulo 37
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