Capítulo 3 – Sonhos e Cicatrizes
BIANCA 17 anos
Bianca completou dezesseis anos como uma jovem admirável. Inteligente, estudiosa, e com uma força interior que poucos conheciam. Cada conquista dela era uma vitória para Luana, sua mãe, que, mesmo com pouco dinheiro, fazia de tudo para ver a filha crescer e vencer. O brilho nos olhos de Luana era visível toda vez que falava de Bianca. Era como se todo sofrimento tivesse valido a pena só para vê-la chegar até ali.
A situação financeira da casa não era boa. O salário de Isabel mal cobria as contas, e o pouco que sobrava era economizado para que Bianca tivesse material escolar e pudesse continuar estudando. Ainda assim, mãe e filha nunca perderam a esperança.
Foi numa tarde chuvosa que Luana conseguiu arrumar para Bianca um emprego como doméstica na casa de uma madame rica do bairro nobre. A mulher, Dona Vera, era esposa de um promotor de Justiça respeitado, o Dr. Álvaro. Luana tinha medo de que a filha fosse humilhada, mas sabia que, se Bianca tivesse uma chance de mostrar sua educação e inteligência, algo bom poderia surgir.
E não deu outra. Logo nos primeiros meses, Bianca chamou a atenção do promotor. Sempre educada, falava corretamente, demonstrava interesse em aprender e, mesmo nas tarefas simples, mostrava uma dedicação rara. Dr. Álvaro começou a emprestar livros para ela, incentivar seus estudos e, impressionado com seu desempenho escolar, decidiu ajudá-la de verdade.
Conseguiu para Bianca uma bolsa de estudos em uma faculdade particular renomada. A jovem chorou de felicidade ao receber a notícia. Com dezessete anos recém-completados, ela estava prestes a realizar o maior sonho de sua vida: ser advogada.
O primeiro dia de faculdade foi de nervosismo. Bianca vestiu a melhor roupa que tinha — um conjunto simples, passado e limpo, que fora um presente da própria ex-patroa, Dona Vera. Era simples, mas, para Bianca, era como vestir armadura. Ela sabia que sua origem humilde a diferenciava dos outros alunos, mas também sabia que nada disso importaria se ela provasse seu valor.
Logo no primeiro semestre, conseguiu um estágio em um pequeno escritório de advocacia. Para sua surpresa, o escritório era da própria Luana, sua mãe, que, com muita luta e coragem, havia se formado advogada depois de anos de sacrifício. Luana, agora uma advogada respeitada na comunidade, viu na filha a chance de transformar ainda mais a história delas.
Bianca chegava todos os dias ao estágio com uma pasta velha debaixo do braço e o sorriso discreto no rosto. Ela era dedicada, atenciosa, e mesmo os clientes mais difíceis se encantavam com sua educação e doçura.
Mas, enquanto Bianca conquistava seu espaço no mundo, a vida dentro de casa desmoronava.
O padrasto, Fabrício, que há tempos vinha mostrando um lado sombrio, perdeu de vez a vergonha. Em uma noite de tempestade, completamente bêbado, ele bateu em Luana com brutalidade. As paredes da casa pareciam vibrar com os gritos. Bianca, trancada no quarto, chorava sem saber o que fazer. O medo a paralisava.
Entre socos e xingamentos, Fabrício vociferava insanidades:
— Essa menina é minha filha também, ouviu, Luana? Você não manda nela, não! Ela é minha!
As palavras foram como lâminas rasgando a alma de Luana. Ela caiu no chão, sangrando, sem forças para revidar. Sabia que gritar seria em vão. Sabia que chamar a polícia poderia trazer ainda mais desgraça. A dor física era menor do que a dor da impotência.
Bianca, escondida, ouviu tudo. As lágrimas desciam pelo seu rosto, mas ela prometeu para si mesma que um dia tiraria sua mãe daquele inferno.
Enquanto isso, o irmão, Marcos, era apenas uma sombra do que já fora. Consumido pelas drogas, roubava na rua para sustentar o vício. Roubaram até a própria mãe. Ninguém mais conseguia controlá-lo. Quando passava em casa, era apenas para pegar algo e desaparecer de novo.
O menino doce de antigamente havia sumido. Restava agora um jovem de olhar vazio, corpo magro e alma perdida.
Bianca, apesar de toda dor, não permitiu que a tragédia a derrubasse. Usava cada lágrima como combustível para continuar. Ela sabia que seu futuro seria diferente. Não podia mudar o que estava ao seu redor — ainda — mas sabia que, com esforço e coragem, transformaria sua história.
O sonho de mudar de vida já não era só dela. Era também de sua mãe, de todas as mulheres que apanhavam caladas, de todos os irmãos que se perdiam nas esquinas da vida. Bianca carregava nos ombros o peso de muitas vidas — e jurou a si mesma que não deixaria aquele peso esmagá-la.
Ela faria diferente. Ela seria diferente.
E o mundo, um dia, teria que escutar seu nome.
LUANA ADVOGADA 24 ANOS
irmao de BIANCA ( TOMÁS) 23 ANOS
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Atualizado até capítulo 37
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