Capítulo Cinco – O Convite e o QG
A carta chegou numa manhã comum, dobrada entre os livros da faculdade, como quem não queria chamar atenção. Mas o nome na assinatura fez o coração de Luana quase sair pela boca:
Defensoria Pública do Estado – Núcleo Criminal
Ela leu o papel três vezes antes de acreditar. Tinha sido aceita para o estágio fora do morro, no centro da cidade. Um mundo novo, cheio de portas que ela nunca achou que se abririam pra alguém como ela. Era mais que um convite. Era a chance de mudar tudo.
— Caralh*, Lu! — gritou Cíntia quando soube. — Agora você vai pisar de salto onde nego só entra de fuzil!
Luana riu, nervosa. Era muita coisa pra processar. A mesma garota que vivia de moletom largo e se escondia da zombaria agora ia circular entre promotores e advogados. Mas antes de começar oficialmente, precisava resolver uma última pendência: um documento assinado no cartório da comunidade, que exigia uma autorização do líder local.
Ou seja, Rafael.
Ela não queria ir. Nem ver ele. Mas sabia que, pra seguir em frente, precisava encarar tudo que já doeu — e vencer.
O QG estava em pleno caos. Caixas com armamentos pesados chegavam e saíam, homens falavam alto nos rádios, e Pedro organizava tudo como um general de guerra.
— Essas aí são pro baile, não mistura com as do outro ponto — gritou, suado, anotando códigos em um papel amassado.
Rafael observava do alto, calado, como sempre. O baile se aproximava e ele não queria falhas. Com Renato de volta, as coisas estavam mais instáveis que nunca.
Foi Pedro quem notou Luana primeiro, subindo pela escadaria de concreto com a papelada na mão, vestida do mesmo jeito simples de sempre. Mas os olhos... os olhos já não eram os mesmos.
— O que você tá fazendo aqui? — perguntou, desconfiado.
— Preciso de uma assinatura do Rafael pra um documento da defensoria. Só isso. Posso esperar.
— Entra.
Lá dentro, Renato estava largado no sofá, rindo de alguma piada interna, com duas garotas sentadas em volta. Ao ver Luana, ele arregalou os olhos, curioso.
— Quem é essa, Pedro? Nova aquisição?
Pedro bufou. — É a garota da papelada. Fica na tua.
Rafael apareceu logo em seguida. Ao ver Luana, franziu o cenho. Reconheceu de longe, mas levou um tempo pra conectar. Ela estendeu o documento, direta.
— Só preciso disso assinado pra oficializar minha entrada no estágio fora da comunidade.
— Vai sair do morro? — ele perguntou, pegando o papel.
— Sim. Não nasci pra ficar vendo vocês se matarem por território. Quero salvar gente, não enterrar.
Houve silêncio. Renato levantou uma sobrancelha, impressionado. Pedro soltou um assovio, discreto. Rafael, por outro lado, demorou mais pra reagir. Assinou o documento sem desviar o olhar dela.
— Vai fazer falta... no caos.
— No caos talvez. No resto, ninguém nunca sentiu — respondeu com firmeza.
Ela pegou a folha, agradeceu e virou as costas. Mas antes de sair, ouviu Pedro comentar:
— Essa aí vai voar alto. Tomara que não esqueça de onde veio.
Lá fora, Cíntia a esperava encostada na moto.
— E aí?
Luana sorriu. — Assinado. Agora... o mundo que me espere.
Na favela, o baile se preparava com armas, estratégias e sangue. Mas lá fora, o destino de Luana começava a ser traçado com tinta, coragem — e um salto que ninguém esperava.
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Atualizado até capítulo 37
Comments
Leitora compulsiva
e vai voar mto alto, mais irá pisar mto de salto 15 em cima de gente invejosa kkkkk
2025-04-29
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