Capítulo Quatro – Jogo de Poder
O relógio marcava sete da manhã no morro, mas ali o tempo corria em outro ritmo. Enquanto a cidade acordava devagar, Rafael já estava no alto da laje, camisa jogada no ombro, observando o movimento. Os olhos escuros varriam as vielas como quem carrega o peso do mundo nas costas — e, de certa forma, carregava.
Ao lado dele, Pedro organizava os homens. Era sempre direto, sem tempo pra enrolação.
— O dinheiro do ponto do alto tá atrasado. Se não cair até o meio-dia, a gente vai subir pra cobrar — avisou, passando as ordens.
Rafael não respondeu. Estava absorto. A imagem de Luana ajoelhada na lama dois dias antes ainda voltava como um soco no estômago. Aquela cena não queria sair da cabeça dele, embora ele mesmo não soubesse por quê.
— Tá pensando nela, né? — Pedro soltou, sem rodeios.
Rafael olhou de lado, sério.
— Cuidado com isso, irmão. Coração é fraqueza nesse mundo aqui.
Do outro lado do morro, no duplex que ficava aos fundos da quadra, Renato acordava de um jeito mais... agitado. O lençol mal cobria os corpos sobre a cama. A luz entrava pela fresta da janela, revelando a tatuagem no abdômen definido dele — um lobo de olhos vermelhos, igual ao do irmão. Mas só a aparência era parecida. Renato era o caos em forma de homem.
Renata estava deitada de bruços, sorrindo, tentando se virar para puxar conversa.
— Você é mesmo diferente do Rafael — disse, puxando o lençol pra cobrir os seios. — Mais quente... mais solto.
Renato riu de canto. — Eu sou tudo que ele tenta esconder, gata.
Levantou da cama com calma, nu, e andou até o frigobar. Pegou um energético, deu um gole e depois olhou pra ela.
— Traz meu pet, vai.
Renata arregalou os olhos, sem acreditar. — O quê?
— O pet. Meu vape. Tá na mesinha do lado do sofá.
Ela hesitou, mas se levantou. Enrolada no lençol, foi até lá buscar, sem entender se estava sendo tratada como mulher ou como coisa.
Quando voltou, ele já vestia a calça jeans e pegava o celular.
— Já vai? — perguntou, tentando soar casual.
— Tenho mais o que fazer. Sexo foi bom, mas você fala demais depois — disse, com um sorriso debochado, pegando o vape da mão dela.
Renata sentiu o sangue ferver, mas se conteve. Sabia que discutir com Renato era perder tempo. Ele era volúvel, imprevisível, e perigosamente sedutor. Mas também era o irmão de Rafael — e, no fundo, ela queria o chefe.
— Você devia me respeitar mais — tentou dizer, forçando firmeza.
Renato chegou mais perto, roçando os lábios no pescoço dela, fazendo-a arrepiar.
— E você devia aprender a separar cama de coração.
Saiu do quarto sem olhar pra trás.
Na laje, minutos depois, os três se encontraram. Rafael, Pedro e Renato lado a lado, como nos velhos tempos — só que agora, com muito mais coisa em jogo.
— Dormiu onde? — perguntou Rafael, desconfiado, olhando o irmão de cima a baixo.
— Onde deu vontade — respondeu Renato, jogando o vape na boca e soltando a fumaça com um sorriso cínico.
Pedro revirou os olhos. — O moleque não muda nunca.
Rafael não comentou. Mas no fundo, sabia que o retorno do irmão traria mais problemas do que soluções.
Mal sabiam eles que, naquele mesmo momento, Luana lia uma carta de estágio na defensoria pública. O mundo dela e o deles estava prestes a colidir — e ninguém ali estava preparado pro que viria.
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Atualizado até capítulo 37
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