O começo da fuga

25 de abril — 23:40 | Baile do Cerro Azul

O baile tava fervendo. A galera dançava como se o amanhã não existisse, o DJ mandava só pedrada, e o cheiro de churrasco e perfume barato misturava no ar quente da noite. Mas pra mim, o tempo tava mais lento. Eu ainda sentia o olhar do LK queimando em cima de mim.

Ele não era só mais um "dono da boca", como os jornais adoram rotular. Ele tinha presença. Tinha aquele tipo de postura que cala uma sala, que faz o bar parar só com um olhar. E ali, sentado do meu lado, parecia até calmo... perigoso, mas calmo.

LK: — Tu sabe que se quiser fugir de verdade, vai ter que deixar tudo pra trás, né?

Juju (encarando): — O que é “tudo”? Uma casa gelada, um sobrenome sem valor pra mim e um casamento forçado? Leva isso tudo e joga no lixo. Eu quero viver, LK. De verdade.

Ele sorriu de canto, pegou o isqueiro e acendeu o cigarro. O brilho laranja no escuro realçava os traços dele, e por um segundo eu só observei em silêncio.

LK:  — Tu tem coragem. Mas coragem sem direção vira só rebeldia.

Juju:  — E você? É direção ou é mais confusão na minha vida?

LK (soltando a fumaça):  — Posso ser os dois. A diferença é que comigo, tu escolhe o que quer. Teus pais te obrigam. Eu não.

Fiquei em silêncio. Ele estendeu a lata de cerveja, trocando por outra do isopor ao lado. Bebi mais um gole, e aí ele se aproximou, devagar, como se não quisesse assustar, mas sabendo exatamente o que tava fazendo.

LK (mais perto):  — Me diz aí... se cê pudesse sumir agora, pra onde iria? 

Juju: — Qualquer lugar onde eu não tenha que sorrir pra foto com um noivo que nem conheço.

Ele deu uma risadinha curta, depois passou os dedos nos próprios lábios e me olhou como quem lê pensamento.

LK:  — Então vamo planejar isso direito. Mas sem pressa. Tu volta pra casa amanhã, faz a sonsa, age normal. Enquanto isso eu vejo quem pode ajudar. Se tu topar, no dia 28, tu some. Antes de assinar qualquer merda. Fechou?

Juju: — Fechado. Mas tem um detalhe...

LK: — Qual? 

Juju (encarando de perto): — Se você me foder, LK... eu juro que levo teu nome junto comigo.

Ele sorriu de verdade agora. Um riso rouco, sem medo.

LK:  — Porra, garota... tu é braba mesmo. Tô começando a gostar de tu.

Um silêncio tenso se formou. Ele se aproximou mais, e eu não recuei. A respiração dele já batia no meu rosto. A música mudou para 150 BPM, mas eu nem ouvia mais nada.

E ali, no meio do morro, entre a multidão e o caos, ele me beijou novamente, só que dessa vez com muita mão boba. Um beijo cheio de raiva contida, vontade, liberdade. Um beijo que não era sobre amor, era sobre revolta, sobre ter escolha.

A Vick apareceu do nada, rindo e com a cara meio bêbada.

Vick:  — Ihhhh, peguei no flagra!

Juju (afastando, rindo): — Cala a boca, doida!

LK: — Avisa ela, hein... dia 28. Noite. Tu já vai tá longe dessa prisão.

Ele se levantou, deu um toque em dois caras dele que tavam de olho na movimentação e sumiu entre a multidão, como se nunca tivesse estado ali.

Olhei pro céu estrelado da favela e respirei fundo.

Agora era oficial.

Eu ia fugir

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Comments

Claudia

Claudia

isso aeeeeeeeeeee

2025-04-25

1

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