A manhã mal começava a clarear por entre as frestas da cortina fina do quarto hospitalar. O silêncio era raro, quebrado apenas pelos pequenos sons do bebê — grunhidos suaves, respiração ansiosa, e o ocasional barulhinho úmido de sucção.
Areum estava sentada na cama, encostada em travesseiros gastos, com o filho aconchegado contra seu peito. Ele mamava com vontade, como se a fome fosse uma urgência antiga. Os olhinhos fechados, mas as sobrancelhas franzidas, como se estivesse concentrado. Às vezes soltava o bico do seio por um segundo e soltava um resmungo, remexendo as perninhas gorduchas no ar, antes de se agarrar de novo, determinado.
Areum observava tudo com um sorriso calmo, os dedos acariciando os cabelos finos e negros do bebê.
Taehwan, ao lado da cama, sentou-se no banquinho de plástico desconfortável, com uma folha de registro nas mãos.
— A gente precisa escolher o nome — disse, olhando para ela, depois para o bebê. — Não dá pra escrever “Pequeno Furacão” na certidão.
Areum riu baixinho. — Ia combinar. Ele já chegou sacudindo tudo mesmo…
— Mas sério… o que você quer? Algo bonito, forte… ou diferente?
Ela pensou por alguns segundos, observando o bebê que agora chutava uma perninha no ritmo da própria mamada.
— Eu queria algo que não fosse pesado… algo que fizesse ele ser lembrado, mas sem carregar o mundo nas costas. Ele já vai ter muita coisa pra enfrentar por nascer de dois adolescentes.
Taehwan assentiu devagar, apoiando o cotovelo no joelho e o queixo na mão.
— E se for algo que soe... sereno? Tipo nome de quem é forte, mas não precisa gritar pra mostrar isso?
— Você tem alguma ideia?
Ele ficou em silêncio por um momento, e então disse:
— Jiwon.
Areum repetiu baixinho.
— Jiwon…
— Significa “vontade forte”, “desejo profundo”. Achei bonito. Parece com ele… parece com a gente também. A gente sempre quis continuar, mesmo quando tudo dizia pra parar.
Ela sorriu, os olhos marejando.
— Jiwon… é perfeito.
O bebê soltou o peito de repente, com um barulho estalado, e soltou um gritinho indignado como se estivesse reclamando de ter acabado.
Taehwan se aproximou, rindo, e passou o dedo no queixinho sujo de leite.
— Ei, calma, Pequeno Jiwon. Tem muito mais de onde isso veio.
Areum aconchegou o bebê nos braços, e ele já começava a cochilar, com o rostinho relaxado, os cílios longos tocando a pele pálida e suave. Ela olhou para Taehwan com doçura.
— Obrigada por ter ficado. Por ter me acolhido.
— Você me salvou antes de tudo isso. Agora é só eu tentando retribuir, do meu jeito torto.
E então, no silêncio daquela manhã de primavera em Seul, com cheiro de leite e futuro no ar, os dois se olharam — não mais como dois jovens assustados, mas como pais. Uma família.
Jiwon.
O nome dele seria esse.
E ele cresceria para carregar o mundo — mas com o coração cheio de amor.
---
Cena Extra – Um Alfa Chamado Quê?
— Você tem certeza que é aqui? — perguntou Taehwan, olhando para o letreiro gasto do prédio.
— É, amor. É o cartório. Tá escrito bem grande. “Cartório.” — Areum respondeu do outro lado da linha, rindo.
Taehwan bufou, o bebê Jiwon nos braços, enrolado num pano azul-claro que ele amarrou de qualquer jeito.
— Ok, vou entrar. Já volto com nosso guerreiro oficialmente no sistema do governo.
---
O lugar cheirava a papel antigo e desinfetante barato. O ar-condicionado fazia mais barulho que vento. E a fila... ah, a fila.
Taehwan entrou na fila segurando o filho, um pacote de documentos meio amassados e uma bolsa que ele definitivamente não sabia usar.
Na frente, uma senhora olhou para ele e fez aquele típico comentário de vó coreana:
— Sozinho com o bebê? Que moderno. Sua esposa morreu?
— Quê?! Não! Ela tá viva, só que ficou em casa descansando! — respondeu, vermelho, olhando em volta.
— Ah, desculpa. É que hoje em dia esses jovens fazem tudo diferente…
---
Depois de uma eternidade e meia, Taehwan chegou no balcão. A atendente mal ergueu os olhos.
— Nome da criança?
— Jiwon. J-I-W-O-N. Alfa. Forte. Vontade, sabe? Significado bonito.
— Ok… nome completo?
Taehwan travou.
— Eita… é… a gente não pensou nisso.
— Senhor?
— Tipo, a gente só pensou no "Jiwon". Não sei se vai o sobrenome dela ou o meu. Pode botar os dois?
— Preciso do nome completo da mãe.
— Kim Areum.
— E o seu nome completo?
— Jang Taehwan. Mas pode deixar só “Taehwan”, meu nome é meio complicado quando escreve todo.
A atendente ergueu as sobrancelhas.
— Isso é um cartório, senhor, não um grupo de WhatsApp.
---
Alguns minutos depois, ela passou o formulário de volta para revisão.
Taehwan leu e franziu a testa.
— “Jangkim Jiwon”? Por que tá assim?
— Você pediu pra colocar os dois sobrenomes.
— Mas grudado? Parece nome de biscoito!
— Senhor, é assim que se faz na Coreia. O sobrenome da mãe e do pai juntos, dependendo da escolha. Pode inverter se quiser.
— Então bota “Kim Jang Jiwon”. Soa melhor. Meio dramático. Tipo nome de protagonista de dorama. — Ele olhou pro filho. — Você merece.
O bebê soltou um ruído, como se estivesse rindo ou tendo cólica. Era difícil saber.
---
Depois de assinar onde mandaram, pagar uma taxa que ele não sabia que existia, e deixar cair metade dos papéis, Taehwan saiu do cartório suando e orgulhoso.
Parou na calçada, olhou para o céu nublado e ergueu o bebê como no Rei Leão.
— Senhoras e senhores, oficialmente: Kim Jang Jiwon! O bebê mais agitado da história dos registros civis!
O bebê arrotou em resposta.
Taehwan sorriu.
— É, moleque. A partir de agora, o mundo vai ter que aguentar a gente… legalmente.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 32
Comments