Capítulo 2

Os primeiros dias passaram em silêncio.

Areum escondia o enjoo como podia, dizendo que era só uma virose. Começou a usar roupas mais largas, prendia o cabelo de forma diferente, evitava o espelho. Na escola, tentava manter o foco nas aulas, mas tudo parecia mais distante agora, como se ela estivesse assistindo à própria vida de fora.

Ela não contou a ninguém.

Nem para as amigas — que eram mais colegas do que confidentes — nem para a mãe, que andava ocupada demais reclamando das contas. O pai quase não falava com ela, e quando falava, era para cobrar, exigir, ordenar.

Mas o corpo dela começou a mudar.

Era sutil no início: a pele mais sensível, os seios inchando, um brilho estranho no olhar. Depois veio o inchaço no abdômen, leve, como se o próprio corpo quisesse gritar o que ela tanto tentava esconder. E então, a mãe notou.

Não perguntou. Invadiu o quarto num fim de tarde e puxou Areum pela blusa. Gritou.

Chamou de mentirosa, de vergonha, de tudo o que Areum temia ser.

O pai ficou em silêncio por longos segundos. Depois, soltou um suspiro pesado e virou as costas. Como se ela tivesse deixado de existir ali mesmo.

Naquela noite, a casa virou ruína. As palavras voaram afiadas, as portas bateram.

E Areum, com os olhos cheios de lágrimas e uma mochila nas costas, foi expulsa.

A rua parecia mais fria do que nunca.

O vento cortava a pele como julgamento.

Ela andou por quase uma hora até chegar no apartamento de Taehwan.

Era um prédio velho, com escadas barulhentas e paredes mofadas. O cheiro de cigarro era mais forte do que ela lembrava. Quando ele abriu a porta, estava de camiseta larga e olhos vermelhos — provavelmente fumando alguma coisa que deixava o mundo mais leve.

Areum estava tremendo.

Mas não chorou.

— Eles me expulsaram — ela disse, baixinho. — Descobriram. Eu… não tenho pra onde ir.

Taehwan ficou parado por alguns segundos. O coração dele deu um pulo estranho, algo entre pânico e amor bruto. Ele olhou para ela, para a barriga ainda pequena, para os olhos cheios de medo — e não pensou duas vezes.

— Vem. Entra.

Ele sabia que não era o homem ideal. Sabia que tinha vícios, que sua vida era um emaranhado de tentativas falhas e arrependimentos abafados. Mas também sabia de uma coisa: ele amava aquela garota.

Areum era a única luz em meio à sua bagunça silenciosa. E agora, ela carregava algo que também era dele. Algo que poderia mudar tudo.

Ele limpou o canto da sala, colocou um colchão extra no chão, pegou travesseiros velhos e tentou deixar o espaço menos hostil. Prometeu, em silêncio, que ia tentar.

Tentar ser melhor.

Tentar ser mais presente.

Tentar fazer dar certo — nem que fosse pela primeira vez na vida.

Não seria perfeito.

Ele ainda fumaria às escondidas. Ainda sumiria em pensamentos que Areum não entenderia. Mas, agora, ele tinha um motivo. Tinha uma chance.

E chances, para quem veio do nada, são mais valiosas do que qualquer promessa de final feliz.

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Comments

Escarlathe ( >~< )

Escarlathe ( >~< )

Meu Deus a pobre tá sozinha no sentido figurado......kakkakaak/Whimper/

2025-04-21

1

Escarlathe ( >~< )

Escarlathe ( >~< )

Que mãe é essa.....eu pensei que ela ia da consolo pra ela...../Shame//Sweat/

2025-04-21

2

Escarlathe ( >~< )

Escarlathe ( >~< )

Nosa ela ta sofrendo imagina quando a barriga crescer.......

2025-04-21

1

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