Os dias se passaram, mas as pessoas não esqueciam. Maks estava furioso e queria, a todo custo, que Vicent desse uma entrevista, mas ele permanecia calado.
Decidi trabalhar em casa, já que o escritório tinha se tornado um verdadeiro caos, com um tsunami de perguntas e informações circulando sem parar. As meninas faziam companhia para mim, sempre repetindo que, com o tempo, as pessoas esqueceriam.
Eu estava concentrada em um projeto quando a campainha tocou. Pensei que fossem as meninas, mas, ao abrir a porta, me deparei com ele.
Vicent Han estava ali, parado na minha frente, vestindo roupas pretas, uma blusa de capuz e óculos escuros. Sem pedir permissão, ele me empurrou levemente para dentro e entrou no meu apartamento.
- O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI? - perguntei, irritada.
Ele tirou os óculos com calma, como se nada estivesse acontecendo.
- Calma, não precisa fazer um escândalo. E, por favor, sem correr como da última vez - disse ele, lançando um olhar divertido. - Como é difícil entrar em contato com você.
Cruzei os braços, tentando esconder minha frustração.
- Por favor, vai embora, ou eu chamo a polícia.
Ele riu de leve, como se minha ameaça fosse uma piada.
- Quer criar outro escândalo? - perguntou, me analisando. - Eu vim conversar, Evellin. Quero acabar logo com essa situação.
Seu tom sério me fez hesitar por um momento. O que ele realmente queria?
- Você tinha que cair na piscina - ele sussurrou para si mesmo, com um olhar de culpa.
- Agora a culpa é minha? - eu perguntei, sentindo uma mistura de raiva e confusão.
- Não é isso que você queria dizer... - Ele respondeu.
- Olha, se você não for embora agora, eu vou chamar a polícia - eu disse, pegando o celular da mesa.
Mas quando eu comecei a digitar, ele agarrou meu pulso, impedindo-me de continuar.
- Me dá aqui, lunático - eu disse, tentando me soltar.
- Calma, mulher, escuta o que tenho a te dizer primeiro - ele pediu, com um tom de voz que era ao mesmo tempo suplicante e autoritário.
Mas eu estava com tanta raiva que não consegui me controlar. Antes que ele pudesse continuar, eu dei um chute no meio das suas pernas.
Ele se abaixou e eu consegui pegar o celular
- Eu deveria ter deixado você naquela piscina. - Ele murmurou, ainda sentindo o impacto do chute.
Cruzei os braços, sem paciência.
- Deveria mesmo.
Vicent respirou fundo, tentando manter a calma.
- Não chame a polícia, eu já estou indo. - Ele disse, endireitando-se. - Só queria conversar, mas parece que ter uma conversa com você é simplesmente impossível.
Revirei os olhos.
- Talvez se você não invadisse a casa dos outros, as coisas fossem mais fáceis.
Vicent soltou um suspiro frustrado e deu um passo para trás, passando a mão pelo rosto.
- Sabe de uma coisa? Esquece. Eu já devia ter imaginado que você não ouviria... - Ele virou-se, pronto para sair, mas antes que pudesse alcançar a maçaneta, alguém bateu na porta.
Eu franzi o cenho, ainda segurando o celular com força. Vicent também parou, olhando para mim antes de deslizar as mãos pelos bolsos da calça, como se tentasse manter a paciência.
A batida se repetiu, dessa vez mais forte.
- Você está esperando alguém? - Ele perguntou, estreitando os olhos.
- Não é da sua conta. - Respondi, mas, no fundo, meu estômago revirou. Quem poderia ser a essa hora?
Assim que ouvi a batida na porta, entrei em pânico. Sem pensar muito, agarrei Vicent pelo braço e o puxei em direção ao meu quarto.
- O quê você pensa que está fazendo? - Ele sussurrou, tentando resistir.
- Você quer que minhas amigas te vejam aqui? - Respondi entre dentes, empurrando-o para dentro do quarto.
Ele bufou, mas entrou, e eu fechei a porta rapidamente antes de correr até a entrada e destrancar.
Joyce e Sendy entraram animadas, como sempre, mas logo começaram a falar sobre o assunto que eu menos queria ouvir naquele momento.
- Evellin, você não vai acreditar! - Joyce disse, jogando a bolsa no sofá. - Acabei de ouvir umas mulheres falando daquele arrogante do Vicent Han!
- O quê? O que estavam dizendo? - Perguntei, tentando parecer desinteressada enquanto meu coração martelava no peito.
- Que ele é um prepotente insuportável! - Sendy revirou os olhos. - Acha que só porque tem dinheiro e poder pode fazer o que quiser.
- Exatamente! - Joyce cruzou os braços. - Você teve sorte de não ter se envolvido com ele. Aposto que ele ficou morrendo de raiva por não ter conseguido sair como o herói da história depois do escândalo na festa.
Eu engoli em seco. Dentro do meu quarto, Vicent estava ouvindo tudo. E eu sabia que ele não era do tipo que deixava esse tipo de comentário passar em branco.
- E o pior de tudo - Joyce continuou, cruzando os braços -, é que ele não faz nada para acabar com essa história!
- Pois é! - Sendy concordou, bufando. - Se ele desse uma entrevista, esclarecesse tudo, já teria acabado com esse boato ridículo. Mas não, prefere ficar calado, como se estivesse acima de tudo.
- Isso só mostra o tipo de cara que ele é - Joyce balançou a cabeça. - Aposto que ele gosta da atenção.
Minha garganta secou.
Atrás da porta do meu quarto, Vicent estava ouvindo cada palavra. E conhecendo ele, aquilo devia estar o deixando furioso.
- Enfim, não vamos perder tempo falando desse idiota - Sendy revirou os olhos e se jogou no sofá. - Vamos pedir comida?
- Sim! - Joyce concordou animada.
- Eu... eu já comi - menti, sentindo meu estômago revirar.
Eu só queria que elas fossem embora logo. Vicent não ia deixar aquilo passar, eu sabia. A única dúvida era: o que ele ia fazer quando saísse daquele quarto?
- Meninas, eu estou muito cansada hoje, cheia de trabalho acumulado. Que tal deixarmos a comida para outro dia? - tentei, forçando um sorriso.
- Sério? Mas hoje é sexta-feira! - Joyce reclamou.
- É, Evellin, você está se trancando demais ultimamente. Isso é por causa do Maks? - Sendy arqueou uma sobrancelha.
- O quê? Não! - respondi rápido demais.
- Sei... - ela sorriu de lado, desconfiada.
Antes que eu pudesse inventar outra desculpa, um barulho veio do meu quarto. Meu coração disparou. As meninas se entreolharam.
- O que foi isso? - Joyce perguntou, franzindo a testa.
- Nada! Acho que foi o vizinho. Ele anda meio barulhento esses dias. - Falei rápido, torcendo para que elas acreditassem.
- Você está muito nervosa... - Sendy me olhou com atenção.
- Vamos deixar você descansar então. - Joyce disse, se levantando.
Antes que elas saíssem, Sendy me lançou um olhar desconfiado. Segurei a respiração, esperando que ela não notasse nada. Assim que ouvi a porta se fechar e os passos delas sumirem pelo corredor, corri para o quarto para tirar Vicent de lá.
Abri a porta e olhei ao redor, mas não o vi imediatamente.
- Vicent?
- Aqui. - Sua voz veio abafada debaixo da cama.
Me abaixei e o vi espremido lá embaixo, os braços cruzados e uma expressão de tédio.
- Elas já foram? - Ele sussurrou.
- Já! Sai daí rápido!
Ele deslizou para fora, batendo a poeira da roupa e olhando para mim com um semblante nada satisfeito.
- Eu não acredito que me fez passar por isso.
- Como se fosse minha culpa! - Retruquei, cruzando os braços. - Se você não tivesse aparecido do nada, eu não precisaria esconder você.
Vicent me encarou com intensidade, como se tentasse entender o que se passava na minha cabeça.
- Eu só queria conversar, mas já vi que isso é impossível com você.
Revirei os olhos, impaciente.
- Então fala logo e some daqui antes que alguém volte.
Ele respirou fundo, passou a mão pelos cabelos e, com um olhar sério, disse:
- Você pode não gostar de mim, mas está envolvida nisso tanto quanto eu. Se não resolvermos essa situação, as coisas podem ficar piores para ambos.
Cruzei os braços, cética.
- E o que você sugere?
Ele se aproximou um pouco, e mesmo contra minha vontade, senti um frio na barriga.
- Um acordo. - Sua voz saiu baixa e controlada. - Fingimos que estamos juntos até essa poeira abaixar.
Soltei uma risada irônica.
- Você só pode estar brincando.
- Estou falando sério. É a melhor forma de virar o jogo a nosso favor.
Balancei a cabeça, incrédula.
- Isso nunca daria certo.
Vicent inclinou a cabeça, um pequeno sorriso surgindo no canto dos lábios.
- Tem certeza? Porque, pelo que vejo, você não tem muitas opções.
- Mesmo que eu precisasse, eu nunca aceitaria me juntar a você. - Cruzei os braços, mantendo minha expressão firme. - Você é um lunático, um louco que acha que está acima de qualquer pessoa.
Vicent suspirou, balançando a cabeça.
- Acho que você tem ideias erradas sobre mim.
- A primeira impressão é a que fica, e a sua foi horrível.
Ele soltou uma risada baixa e descrente.
- Você fala isso por causa do pedido de casamento? Aquilo era uma brincadeira. Você me encarava demais, e achei estranho não ter me reconhecido.
Minha boca se abriu em indignação.
- Eu te encarava?! - Minha voz subiu um tom.
- Sim. - Ele sorriu de canto. - Por isso perguntei aquilo. Eu sei que sou irresistível e que todas as mulheres querem cair aos meus pés, mas você... me chamou de louco e saiu correndo.
Revirei os olhos, bufando.
- Você realmente acha isso normal?
- Bom... - Ele ergueu as mãos em um gesto despreocupado. - Quando descobri que você era a arquiteta renomada que me sugeriram, fiquei envergonhado e tentei me redimir, mas...
- Mas eu saí correndo de novo. - Completei, impaciente.
Ele me observou por alguns segundos, como se tentasse medir minha reação.
- Olha, eu só estou tentando conversar.
- Eu não quero ouvir suas explicações. - Cruzei os braços novamente. - Mesmo que você tente se justificar, eu nunca vou aceitar esse absurdo.
Ele arqueou uma sobrancelha.
- Isso é por causa do seu namorado, Maks?
Hesitei por um segundo. Maks não era exatamente meu namorado, mas... talvez eu tivesse pensado que ele poderia ser.
- Ele não é meu namorado. Bem... - Murmurei, desviando o olhar.
Vicent se inclinou um pouco, analisando minha reação.
- Posso te dizer uma coisa? - Ele abaixou o tom de voz.
- O quê?
- Maks não é uma pessoa confiável.
Soltei uma risada irônica, cruzando os braços.
- E você é?
Vicent não recuou diante do meu tom sarcástico. Pelo contrário, ele deu um passo à frente, me encarando com aquela expressão séria e misteriosa que me irritava profundamente.
- Eu não sou santo, Evellin. - Ele disse com a voz firme. - Mas pelo menos eu não finjo ser algo que não sou.
Franzi a testa, tentando entender o que ele queria insinuar.
- O que você está querendo dizer com isso?
Ele desviou o olhar por um momento, como se estivesse ponderando se deveria ou não continuar.
- Maks não é quem você pensa que ele é.
Soltei uma risada descrente.
- Ah, claro. Agora vai inventar alguma história para me afastar dele? É esse o seu plano?
- Eu não preciso inventar nada. - Ele disse simplesmente. - Só estou te avisando.
- Avisando? - Cruzei os braços, bufando. - Como se você fosse um exemplo de moralidade, né?
Vicent suspirou, passando a mão pelos cabelos, claramente frustrado.
- Eu já esperava essa reação.
- Então por que ainda está aqui? - Levantei a sobrancelha. - Achei que já tinha falado tudo o que queria.
Ele me encarou por um longo momento, e por um segundo, vi algo diferente em seus olhos. Não era arrogância, nem prepotência... era algo mais profundo, mas não tive tempo de identificar.
- Eu vou embora. - Ele disse por fim, virando-se em direção à porta.
Por um instante, senti um incômodo estranho. Era como se algo não estivesse certo, como se houvesse algo mais que eu precisava ouvir. Mas meu orgulho não me deixou dizer nada.
Quando ele abriu a porta e pisou no corredor, uma última frase escapou de seus lábios antes de partir:
- Cuidado em quem você confia, Evellin.
E então, ele se foi.
Fiquei parada por um instante, sentindo meu coração bater acelerado sem motivo aparente. Maks não era confiável? O que Vicent sabia que eu não sabia?
Sacudi a cabeça, afastando aqueles pensamentos. Eu não ia deixar Vicent me confundir. Ele era o problema, não Maks.
Ou pelo menos, era isso que eu queria acreditar.
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Atualizado até capítulo 28
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