Capítulo 5

O céu já começava a se tingir de tons escuros quando Roger e Clara voltaram para o trailer, caminhando lado a lado. Clara ainda sorria, sentindo as folhas nos cabelos e a brisa fresca da floresta no rosto. Austin balbuciava baixo, abraçado ao peito do pai, com os olhos já meio fechados de sono.

Ao entrarem no trailer, o ar aconchegante contrastava com o frescor da floresta. Lauren ainda estava deitada no quarto, em completo silêncio.

Roger: Vamos preparar o jantar?

Clara: Vamos. Eu cuido da massa se você cortar os legumes.

Roger riu, tirando a jaqueta e pendurando perto da porta. Austin foi colocado por um momento no carrinho acolchoado, onde se entreteve com o cata-vento que Clara havia lhe dado mais cedo.

Clara colocou água para ferver, começou a mexer nos temperos e sorriu quando o cheiro de alho e cebola fritando tomou conta do ar. Roger cortava os vegetais com destreza, brincando com Clara de vez em quando, batendo de leve no ombro dela com uma colher de pau ou jogando um pedacinho de pimentão só para provocá-la.

Era um momento leve. Quase como se tudo estivesse bem.

Logo o jantar ficou pronto — uma massa simples com molho cremoso, cheia de legumes. Clara arrumou a pequena mesa do trailer com cuidado, enquanto Roger chamava Lauren novamente. Ela, sem dizer nada, respondeu apenas que estava com enxaqueca. Roger suspirou, mas não insistiu.

Roger: Clara, você se importa de Austin dormir aqui com você hoje?

Clara: Não! Eu prefiro assim. Pelo menos tenho companhia.

Roger sorriu. Juntos, eles ajeitaram o sofá-cama de Clara, prepararam o bercinho portátil de Austin ao lado e foram terminando os últimos detalhes da noite. Roger pegou Austin no colo e começou a balançá-lo suavemente, andando de um lado para o outro, enquanto Clara lia um dos livros que havia trazido sobre plantas e flores do Oregon.

Minutos depois, Austin adormeceu tranquilo. Roger o colocou no berço com cuidado e olhou para Clara, com aquele orgulho silencioso no olhar. Sua filha estava crescendo… e resistindo a tudo.

Roger: Boa noite, meu amor.

Clara: Boa noite, pai.

Ele se aproximou, apagando a luz com o interruptor próximo à porta.

Clara: Pode deixar uma luzinha acesa? Só um pouco?

Ele se aproxima, fechando o livro que estava nas mãos dela.

Roger: Já é tarde e amanhã iremos acordar cedo.

Clara assentiu, embora chateada. Roger se aproximou de novo, ajeitou a coberta sobre ela e a beijou na testa.

Roger: Você sempre vai ser minha menina, não importa a idade.

Clara sorriu. Roger foi para o quarto, fechando a porta com cuidado. O silêncio se espalhou de novo, e Clara ficou ali, ouvindo a brisa leve do lado de fora, o som tranquilo da respiração de Austin e o leve ranger da estrutura do trailer.

Pela primeira vez em muito tempo, ela sentiu que talvez estivesse tudo se encaixando. Talvez aquele recomeço fosse mesmo necessário. E com o pai ao seu lado… ela se sentia segura.

Quando estava prestes a se render ao sono, ela sentiu o trailer balançar. Ela se senta rapidamente, assustada, mas logo entendeu o motivo de estar tremendo.

Era seus pais, provavelmente tendo relações sexu@is, Clara se deita novamente, tentando ignorar. Não era a primeira vez que ela já viu ou ouviu.

No quarto, Roger havia acabado de chegar ao seu limite. Por outro lado, Lauren estava normal, como se tivesse sentindo prazer. Isso irritava Roger, pois ela era muito fria e literalmente, ela deixa ele a usar. Faz tempo que ele teve uma boa trans@

Na manhã seguinte, Clara acordou ao sentir passos suaves passando por perto. Ainda sonolenta, ela se sentou devagar no sofá-cama, bocejando e espreguiçando os braços. Roger passava por ela, já de roupa trocada, com os cabelos meio bagunçados e uma xícara de café na mão.

Roger: Bom dia, dorminhoca.

Clara: Bom dia… — respondeu com a voz rouca de sono, esfregando os olhos. Ela olhou em direção ao berço e sorriu. — Austin ainda tá dormindo.

Roger: Tá mesmo. Aproveita o silêncio, porque daqui a pouco o despertador de dois pés acorda querendo atenção.

Clara riu baixo e começou a se levantar.

Clara: Vou preparar o café da manhã.

Roger: Ah-ah, nada disso. Hoje você vai receber café na cama!

Clara: No sofá, você quer dizer. — disse ela, com um sorriso divertido.

Roger: No seu trono, princesa. — respondeu ele com uma reverência exagerada, fazendo Clara rir.

Roger: E aí, majestade, o que deseja para o banquete real?

Clara: Um sanduíche já tá ótimo. Algo simples.

Mas é claro que Roger não ficou só no sanduíche.

Pouco tempo depois, ele apareceu com uma bandeja caprichada — tinha dois sanduíches quentinhos, frutas cortadas, panquecas com mel, suco de laranja e uma xícara de café com leite do jeito que Clara gostava. Os olhos dela se arregalaram.

Clara: Pai! Eu disse simples!

Roger: E eu ouvi ‘faça tudo que tiver direito’.

Ela riu e pegou um morango da bandeja, mas antes de dar a primeira mordida, ouviram um resmungo vindo do berço. Austin acordava, espreguiçando os bracinhos e fazendo sons fofos com a boca.

Roger: Olha só quem acordou na hora certa! — disse ele, pegando Austin no colo e enchendo o menino de beijinhos barulhentos que arrancaram risadas de Clara.

Logo os três estavam juntos, sentados no sofá, dividindo o café da manhã. Austin beliscava pedacinhos de panqueca que Clara cortava para ele, enquanto Roger contava piadas bobas para animar a manhã. Por um momento, Clara sentiu que aquele era o tipo de vida que ela queria guardar para sempre.

Pouco tempo depois, os três ainda estavam terminando o café da manhã no sofá quando ouviram a porta do quarto se abrir. Lauren surgiu, com os cabelos amarrados em um coque apressado e expressão cansada, mas serena. Ela olhou na direção deles.

Lauren: Bom dia.

Roger e Clara: Bom dia. — responderam quase ao mesmo tempo.

Lauren foi direto até a cozinha. Pegou algumas torradas, passou algo rapidamente nelas, serviu-se de um pouco de café e, sem dizer mais nada, voltou para o quarto com o prato na mão.

Clara observou a cena com os olhos baixos e então desviou o olhar para o pai.

Clara: Eu achava que ela ia gostar… de vir pra cá.

Roger soltou um sopro e encostou-se no encosto do sofá, com Austin sentado no seu colo, distraído com o cata-vento colorido.

Roger: Ela só precisa de tempo.

Clara: Tempo? Faz anos que ela tá assim. — Clara disse em voz baixa, contendo a amargura. — Mas pelo menos, até agora, ela não reclamou de nada… não me criticou, nem brigou.

Roger olhou para a filha com carinho, tentando encontrar as palavras certas.

Roger: Lauren ama você, Clara.

Ela balançou a cabeça lentamente, um sorriso triste se formando nos lábios.

Clara: Não ama. Ela me odeia.

Roger ia protestar, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Clara já estava longe dali — perdida dentro das próprias lembranças, revivendo feridas que ainda sangravam em silêncio.

Foi naquela época… Lauren estava grávida de Austin. A casa vivia silenciosa, pesada. Clara tentava se aproximar, queria ajudar, participar, fazer parte daquilo — mas Lauren sempre a afastava. Com os olhos cheios de medo, dizia:

Lauren (no passado): Não chega perto de mim, Clara. Eu não posso correr o risco… não posso perder esse bebê também. Não depois de…

Clara nunca esqueceu. Aquilo a dilacerava. Ela não queria machucar ninguém — muito menos o bebê. Ela só queria… amor. Só queria fazer parte da família. Mas quando Austin nasceu, foi ainda pior. Lauren não deixou que ela o pegasse no colo. Não deixava Clara tocar nele. Não deixava cuidar, ajudar, nada.

Roger teve que brigar. Teve que insistir. Só depois de um bom tempo é que Lauren, aos poucos, foi permitindo. Mas não por querer, e sim por cansaço. Hoje em dia, era Clara quem trocava as fraldas, dava banho, alimentava, colocava Austin pra dormir… enquanto Lauren mal olhava para o menino.

Voltando ao presente, Clara piscou, tentando afastar as lágrimas. Ela forçou um sorriso para o pai, disfarçando.

Clara: Talvez um dia ela mude.

Roger a olhou com pesar, desejando poder apagar todos os machucados dela com um simples toque.

Roger: Ela vai mudar. E até lá… eu tô aqui, sempre. Prometi, lembra?

Clara assentiu lentamente. E, naquele momento, por mais que o coração ainda estivesse cheio de dúvidas e dores antigas, ela sentiu que não estava completamente sozinha.

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Comments

Ester

Ester

eu já tô torcendo pra mãe morrer logo o ser humano imprestável

2025-07-13

1

Patricia Sousa

Patricia Sousa

nossa a clara sofre muito e ela não teve culpa

2025-04-21

3

Ver todos

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