O hospital parecia respirar junto com o desespero da família. As paredes brancas, o cheiro de álcool, o tique-taque do relógio — tudo se tornava sufocante. A sala de espera estava lotada de silêncio e apreensão. Luciana e Mateus permaneciam abraçados, tentando acalmar Luiza, que chorava baixinho no colo da mãe. Enrico estava recostado em uma das paredes, sério, os braços cruzados e o olhar perdido.
Foi então que Elisa entrou.
Os olhos marejados, a respiração acelerada, os cabelos bagunçados pelo vento da pressa. Ao avistar a família, seu olhar percorreu cada rosto até encontrar o de Luiggi. Por um segundo, ele hesitou. Sabia que aquele momento chegaria. E não podia mais se calar.
— Como ele está? — perguntou ela, se aproximando rapidamente de Mateus.
Antes que alguém respondesse, Luiggi deu um passo à frente, os olhos baixos, a voz embargada.
— Elisa… fui eu.
Ela o olhou, confusa.
— O quê?
— A culpa é minha. O vô Fabrício... ele ouviu tudo. — Ele respirou fundo, tentando conter as lágrimas que já se formavam. — Ele ouviu quando eu disse ao meu pai que você tinha mentido pra mim. Que me envenenou com histórias falsas… Disse que Mateus tinha me sequestrado quando criança, a mando do Fabrício. E eu acreditei. Eu realmente acreditei que ele tinha me tirado da minha vida. Que todos vocês tinham mentido desde o começo.
Os olhos de Elisa se arregalaram, mas antes que ela dissesse qualquer coisa, Luiggi continuou:
— O vô escutou tudo, escondido, atrás da porta. Ele escutou quando eu disse que achava que ele era um monstro. Que nunca confiaria nele de novo. E... e foi aí que ele caiu. Teve o infarto logo depois.
Elisa deu um passo para trás, como se as palavras dele tivessem acertado um ponto vital. A raiva subiu aos olhos, quente e furiosa.
— Você... — Ela balançou a cabeça, incrédula. — Você realmente acreditou? Depois de tudo que a gente fez por você? Depois de tudo o que viveu aqui? Você preferiu ouvir mentiras ao invés de confiar em quem te criou?
— Eu estava confuso. Eu... eu me senti traído.
— Confuso? — ela explodiu. — Você teve uma crise existencial e destruiu uma família inteira! Você traiu o amor de quinze anos que meu pai e minha mãe te deram. Que Mateus e Luciana te deram! Você cuspiu no prato em que comeu, Luiggi! Jogou fora cada abraço, cada gesto, cada cuidado!
Ele abaixou a cabeça, as lágrimas escorrendo silenciosas.
— Você não sabe o que é amar — ela continuou, a voz trêmula de raiva — porque quem ama não machuca desse jeito. E se acontecer alguma coisa com o meu pai... — A voz falhou por um segundo, mas logo voltou mais firme — se ele não sair dessa... eu juro, Luiggi... eu vou esquecer que um dia você fez parte da nossa família.
Ela virou as costas sem esperar resposta, o corpo tremendo de emoção. Luiggi ficou parado, em silêncio, como se as palavras dela tivessem arrancado o pouco que ainda restava inteiro dentro dele. Então saiu, cambaleando pelos corredores do hospital até alcançar a porta da entrada.
Do lado de fora, a noite parecia ainda mais cruel. Ele se sentou na calçada, as mãos no rosto, se perguntando onde exatamente havia perdido tudo. E se ainda havia um caminho de volta.
O vento frio da noite soprava leve, trazendo com ele o som abafado dos carros ao longe e o eco distante da cidade que não parava. Sentado na calçada em frente ao hospital, Luiggi mantinha o rosto entre as mãos, os olhos vermelhos e a alma esmagada pelo peso da culpa. Seu peito doía mais do que nunca. As palavras de Elisa ainda ressoavam como punhais.
Foi quando sentiu uma mão suave pousar em seu ombro.
Ele ergueu os olhos devagar e viu Luciana ali, ajoelhada ao seu lado. O olhar dela, tão cheio de ternura e dor ao mesmo tempo, dizia mais do que qualquer palavra.
— Filho... — disse ela, com a voz baixa — você está perdoado.
Luiggi engoliu em seco.
— Mãe... você ouviu tudo?
Ela assentiu com a cabeça, um leve sorriso triste nos lábios.
— Ouvi. Mas eu não te culpo, Luiggi. Você foi ferido, enganado... estava tentando entender quem é, e isso é parte do crescimento. Não se carrega o mundo sozinho, meu amor.
Ele deixou uma lágrima escorrer, e Luciana enxugou com carinho.
— O seu avô te ama. Nós todos te amamos. Não importa o que digam, ou quantas vezes você caia. A gente sempre vai estar aqui pra te levantar.
Luiggi a abraçou forte, como se aquele gesto pudesse remendar as rachaduras por dentro.
— Me desculpa, mãe…
— Já está desculpado. Agora vamos… — ela disse, ajudando-o a se levantar — seu lugar é com a gente. Lá dentro.
Juntos, de mãos dadas, entraram novamente no hospital, em silêncio, mas com o coração mais leve. Porque o perdão de uma mãe tem o poder de curar até as dores que a alma teme nomear.
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Atualizado até capítulo 49
Comments
Regilene Avelino
amor infinito e de uma mãe verdadeira 💕
2025-04-17
1
Antonilde Oliveira Alves
capítulo emocionante
2025-04-21
0
Marli Batista
Mãe perdoar tudo ❤️♥️❤️♥️
2025-04-19
0