(Narrado em terceira pessoa)
A biblioteca da cidade era uma espécie de abrigo secreto para eles quando crianças.
Um mundo de silêncio onde a amizade floresceu entre páginas amareladas e risadas contidas.
Agora, tantos anos depois, o lugar ainda era o mesmo. As mesas de madeira, as cadeiras rangendo baixinho, o mesmo relógio antigo marcando o tempo devagar… como se soubesse que ali, a vida caminhava diferente.
Matteo arrumou a mesa no canto mais escondido, perto da janela. O coração acelerado, as mãos suadas, o cheiro do papel trazendo lembranças como fantasmas suaves.
Foi ali que ela entrou.
Celeste.
Com o mesmo jeito delicado de andar. Com os olhos atentos, procurando ele no meio dos estantes — e achando. Porque ela sempre achava.
— Oi — ela disse, parando diante dele.
Matteo levantou devagar, como se qualquer movimento brusco quebrasse a delicadeza daquele momento. Ele sorriu pequeno, e ela também. Mas os olhos… os olhos diziam tanto.
— Achei que nunca mais fosse te ver aqui — ele disse, puxando a cadeira ao lado da sua.
— E eu… achei que nunca teria coragem de voltar.
Sentaram-se em silêncio por alguns segundos. Apenas se olhando. Como se cada traço novo no rosto do outro fosse parte de um livro que ainda precisavam reler.
— Sabe o que é estranho? — Matteo começou. — Mesmo depois de tudo, você ainda parece… minha casa.
Celeste mordeu o lábio, segurando o choro.
— E você… parece o capítulo que eu nunca consegui escrever com final.
Ele riu baixinho, com aquela tristeza boa. Aquela que machuca, mas aquece.
— Eu tentei seguir, Celeste. Juro que tentei. Mas tudo que eu fazia… era você que eu enxergava no fundo.
— Eu também tentei — ela confessou. — Mas tem coisa que não se esquece. Que fica gravado. Como a nossa música. Como você me chamando pra fugir da aula só pra vir aqui, esconder entre os livros.
— E ler poemas que a gente fingia entender — ele completou, rindo.
Ela riu também. Os olhos marejados. As mãos quase se tocando sobre a mesa.
— Eu senti você — Matteo disse de repente, mais baixo. — Na loja. Quando a música tocou… eu soube. Você tinha voltado. Eu sempre soube que você voltaria... - falo sorrindo - não sabia quando, mas sabia que voltaria
— Era pra ser — ela sussurrou. - Não importasse o quanto eu tentava fugir, meu coração sempre esteve aqui. Aqui com você...
Silêncio. Um silêncio cheio de sentimento.
Então ele estendeu a mão, hesitante. Ela aceitou.
— A gente tem tanto pra conversar, né? — ele disse, apertando de leve os dedos dela.
— Tem. Mas agora… a gente tem tempo. Minha ideia era só passar uns dias, mas agora tenho um motivo pra ficar a vida toda - fala sorriso-
E ali, no lugar onde tudo começou, com o cheiro de livros antigos e promessas novas no ar, eles iniciaram um novo capítulo.
Um capítulo escrito com mais calma, mais verdade.
Mais amor.
Porque, às vezes, tudo o que a gente precisa é voltar ao lugar onde foi feliz…
pra lembrar que ainda é possível ser de novo.
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Atualizado até capítulo 46
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