A maçaneta girou, e a porta se abriu sem aviso. Samanta se virou rapidamente, os punhos cerrados, mas não avançou. Yuri entrou com passos calmos, as mãos nos bolsos do sobretudo preto, o rosto inexpressivo.
Yuri
Levante-se.
A voz dele não era alta, nem ameaçadora. Era fria. Como gelo rachando lentamente. Ela se levantou, contrariada, mas sem demonstrar fraqueza. Ao se aproximar dele, percebeu o quanto a presença de Yuri era intensa mesmo no silêncio. Ele não precisava gritar. Não precisava tocar. A frieza dele era sufocante.
Atravessaram o corredor em silêncio. Ela esperava ver o mesmo quarto, mas foi guiada até outra sala — ampla, vazia, com janelas altas cobertas por cortinas pesadas. No centro, apenas uma cadeira.
Yuri
Sente-se.
Samanta
E se eu não quiser
Yuri
Vai querer.
Ela hesitou, mas se sentou. Cruzou os braços, tentando esconder o nervosismo. Yuri ficou de pé, à sua frente, como uma estátua viva.
Yuri
Seu irmão nos enganou. Usou o nome da minha família para fechar negócios sujos. Agora está desaparecido. Isso te torna um risco.
Samanta
Eu não sabia de nada!
Yuri
Isso não importa.
O silêncio caiu como uma sentença. Ela engoliu seco.
Samanta
Por que me trouxe até aqui, então? Por que não me entregou?
Yuri
Porque não confio em ninguém. E ver você... tão parecida com ele... me ajuda a lembrar do que está em jogo.
Samanta sentiu um calafrio. Ele não queria aproximação. Ele queria controle.
Samanta
Você é um psicopata.
Ele inclinou a cabeça levemente.
Yuri
Talvez. Mas psicopatas não hesitam. Eu poderia ter te matado. E ainda não o fiz.
Ele se virou, caminhando até a porta.
Yuri
(sem olhar para trás): Você vai ficar aqui. Quando estiver pronta para cooperar... talvez a gente fale sobre liberdade.
E então saiu. A porta se fechou com um clique baixo.
Samanta, sozinha outra vez, sentiu o frio se arrastar por sua pele. Mas agora, ela sabia: Yuri era muito mais perigoso do que pensava. E muito mais difícil de entender.
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