Capítulo 2: O Peso da Excelência e a Solidão da Competição
Assim que Laura se retirou da sala, a atmosfera se transformou, o ar rarefeito e carregado de uma tensão palpável. O Dr. Henrique, um homem cuja presença dominava o ambiente, estava sentado atrás de uma mesa impecável, um santuário de organização onde pastas e documentos se alinhavam com precisão cirúrgica, como se cada papel tivesse seu lugar no intrincado quebra-cabeça do mundo jurídico. Seus olhos penetrantes, frios como o aço, se fixaram em mim assim que a porta se fechou, avaliando cada movimento, cada respiração.
"Catarina," começou ele, sua voz cortante como gelo, cada palavra pronunciada com uma clareza que não deixava espaço para dúvidas, "antes de começarmos, algumas regras são indispensáveis. Regras que regem este escritório e que você, a partir de agora, deverá seguir à risca." Ele ergueu a mão, enumerando com os dedos, cada um representando um mandamento a ser gravado na alma. "Primeira: pontualidade é inegociável. Se digo nove horas, quero você aqui às oito e cinquenta, pronta para começar o dia. Segunda: erros são intoleráveis. Seja uma vírgula deslocada ou uma citação incorreta, busco a perfeição, a excelência em cada detalhe. Terceira: pesquise antes de perguntar. Apenas questões pertinentes, fruto de sua própria investigação, serão aceitas."
Engoli em seco, sentindo o peso daquelas palavras esmagar qualquer resquício de confiança que eu pudesse ter. Mantive o olhar firme, tentando transmitir uma determinação que mal sentia. "Entendido, Dr. Henrique."
"Ótimo." Ele empurrou uma pilha de papéis em minha direção, um montante que parecia crescer a cada segundo. "Este é um caso complexo, uma disputa empresarial que envolve cifras astronômicas e interesses poderosos. Preciso de um resumo detalhado até o fim do dia, uma análise que demonstre sua capacidade de compreender a complexidade do caso. Prepare-se para discutir amanhã, pois cada palavra será minuciosamente analisada."
Peguei os papéis, sentindo o peso da tarefa, a responsabilidade que se depositava sobre meus ombros. "Começarei imediatamente, doutor."
Ele se inclinou ligeiramente para frente, os olhos estreitando, como se tentasse ler meus pensamentos. "Lembre-se, Catarina: excelência é o mínimo esperado neste escritório. Veremos se você está à altura do desafio."
Com isso, voltou sua atenção aos documentos, encerrando a conversa. Respirei fundo, tentando acalmar o turbilhão de emoções que me assolava, e me virei para sair da sala, determinada a superar suas expectativas, a provar que eu pertencia àquele lugar.
A pilha de documentos era avassaladora, cada página repleta de detalhes jurídicos intrincados, cláusulas complexas e jargões que desafiavam minha compreensão. Por horas a fio, me dediquei à tarefa, anotando cada ponto relevante, cada detalhe que pudesse ser crucial, buscando conexões entre as informações, como se estivesse montando um quebra-cabeça complexo. "Não posso errar," pensei, a voz do Dr. Henrique ecoando em minha mente, um lembrete constante da pressão que me esmagava.
Quando meus olhos começaram a arder, implorando por descanso, fiz uma pausa breve na pequena copa, um refúgio improvisado no meio do caos. Enquanto preparava um café, buscando na cafeína um aliado para me manter alerta, uma voz me chamou.
"Você deve ser Catarina." Um rapaz sorriu, um sorriso que parecia genuíno em meio à frieza do ambiente. Era Matheus, o outro candidato, um rosto que irradiava simpatia.
"Sim, Catarina," respondi, retribuindo o sorriso, grata por um momento de alívio. "Parece que estamos todos afogados em papelada."
"E como!" Ele riu, um som que ecoou estranhamente alegre no silêncio do escritório. "A Dra. Beatriz é exigente, mas acessível, uma mentora que nos guia com firmeza, mas com paciência. E você, como está se saindo com o Henrique?"
Suspirei, sentindo o peso da responsabilidade me esmagar. "Direto e implacável. Um caso enorme para analisar e entregar até o final do dia."
Matheus ergueu as sobrancelhas, impressionado com a magnitude da tarefa. "Você pegou o lado difícil da competição. Mas tenho certeza de que vai se sair bem, Catarina. Boa sorte com a Beatriz."
"Obrigada, Matheus. Boa sorte para você também."
Nos despedimos ali, cada um retornando ao seu labirinto de documentos. Voltei à minha mesa, renovada pela breve interação, mas consciente de que o tempo era meu inimigo. Aos poucos, comecei a decifrar os padrões nos documentos, encontrando meu ritmo, como se estivesse desvendando um código secreto. O tempo voou, e logo o sol se pôs, tingindo o céu de laranja e roxo.
Olhei para o relógio: quase seis da tarde. Ainda havia trabalho a fazer, detalhes a serem analisados, conclusões a serem tiradas. A cada descoberta, a cada ponto que se encaixava, me sentia mais perto de provar meu valor, de mostrar ao Dr. Henrique que eu era capaz de superar suas expectativas.
Às nove da noite, o escritório estava silencioso, apenas a luz fraca de algumas luminárias iluminando os corredores vazios. Respirei fundo, tentando acalmar os nervos, e bati na porta do Dr. Henrique.
"Entre."
Entreguei o resumo, sentindo o peso do meu trabalho em minhas mãos. Ele folheou as páginas, o silêncio pesado da sala amplificando o som dos papéis sendo virados. Finalmente, falou:
"Bom trabalho, Catarina. Identificou os pontos-chave do caso, as questões cruciais. Mas amanhã quero mais. Quero ver a profundidade de sua análise, a solidez de seus argumentos. Isso é só o começo."
Assenti, aliviada por ter superado o primeiro desafio, mas consciente de que a jornada estava apenas começando. "Entendido, doutor. Obrigada pela oportunidade."
"Pode ir, Catarina, mas esteja pronta amanhã. Não tolero mediocridade, nem mesmo o mínimo esforço."
Saí da sala, sentindo uma mistura de alívio e tensão. O dia foi exaustivo, uma maratona de trabalho e pressão, mas a satisfação de ter cumprido a tarefa era inegável. Amanhã seria um novo teste, um novo desafio a ser superado.
Em casa, após um banho rápido, atendi a ligação de Ana, mas o cansaço me venceu. Desliguei, pedindo desculpas pela falta de energia, e me entreguei ao sono, buscando um breve refúgio da realidade implacável que me aguardava.
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Atualizado até capítulo 120
Comments
Ione barbosa
meu Deus tomara que ela se saia bem
2025-04-25
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