A estrada parecia infinita, um túnel escuro que engolia Lara a cada quilômetro. O silêncio dentro do carro era esmagador, e o homem ao seu lado era um mistério envolto em perigo.
Seu cheiro — uma mistura de chuva, sangue e algo puramente masculino — preenchia o espaço apertado do veículo. Lara tentava ignorar a forma como sua presença afetava seus sentidos, mas era impossível. Ele irradiava algo bruto, como um predador à espreita.
— Qual o seu nome? — Ela quebrou o silêncio, sua voz soando mais fraca do que gostaria.
O homem virou a cabeça lentamente para encará-la. Seus olhos eram intensos, analisando-a como se pudesse ver através dela.
— Você faz muitas perguntas.
Lara apertou os lábios, mantendo as mãos firmes no volante.
— Você entra no meu carro no meio da noite, sangrando e armado, e acha que não devo perguntar nada?
Um sorriso lento e perigoso surgiu no canto de seus lábios.
— Justo.
Ele se inclinou um pouco para trás, os músculos se movendo sob a camisa molhada.
— Me chame de Damien.
Lara sentiu o nome rolar por sua mente, encaixando-se nele de um jeito estranho. Não sabia se era verdadeiro, mas isso pouco importava.
Ela olhou de relance para ele antes de voltar os olhos para a estrada.
— O que aconteceu com você, Damien?
Ele suspirou, passando a língua pelos lábios.
— Digamos que eu estava no lugar errado, na hora errada.
— Isso não me diz nada.
— Exatamente.
A resposta dela foi uma bufada de irritação.
Damien riu baixo.
— Você é sempre assim, teimosa?
— Apenas com estranhos suspeitos que entram no meu carro à força.
Ele soltou outro riso curto e rouco.
Lara percebeu que ele estava estudando-a, cada mínimo detalhe — a tensão em seus ombros, o jeito que seus dedos seguravam o volante com força demais, a forma como sua respiração estava ligeiramente irregular.
E aquilo a incomodava.
— Você mora sozinha? — A pergunta veio casual demais.
Lara sentiu o coração bater mais forte.
— Por que quer saber?
Damien sorriu.
— Precaução.
Ela não respondeu. Apenas voltou os olhos para a estrada e rezou para que aquele caminho terminasse logo.
Mas, no fundo, sabia que a verdadeira tempestade ainda estava por vir.
O Refúgio na Montanha
Quando o carro finalmente cruzou os portões de ferro de sua propriedade, Lara sentiu um alívio momentâneo. Sua cabana ficava no topo de uma colina isolada, cercada por floresta densa e longe de qualquer vizinho. Um refúgio de solidão que, agora, parecia um erro.
Ela estacionou o carro e ficou imóvel por um segundo.
— Chegamos. Agora você pode ir.
Damien ergueu uma sobrancelha, o sorriso desaparecendo lentamente.
— Eu disse que precisava de um lugar para ficar.
O estômago de Lara se revirou.
— Eu não disse que você podia ficar aqui.
O silêncio que se seguiu foi espesso.
Então, Damien se inclinou levemente, sua presença queimando contra a pele dela.
— Você acha que eu sou uma ameaça.
Ela virou o rosto para encará-lo.
— Não acho. Tenho certeza.
Os olhos dele brilharam com algo indecifrável.
— Boa garota. Isso pode te salvar um dia.
Lara sentiu um arrepio deslizar por sua espinha.
Ela sabia que o certo seria mandá-lo embora. Mas, contra toda lógica, não o fez.
Damien abriu a porta e saiu primeiro. A chuva tinha diminuído, mas o cheiro de terra molhada ainda impregnava o ar.
Lara respirou fundo antes de sair do carro também.
O vento frio mordeu sua pele, e ela puxou o casaco contra o corpo enquanto caminhava até a porta da cabana. Quando olhou para trás, Damien ainda estava ali, encostado no carro, observando-a.
— Você vem ou não? — As palavras escaparam antes que pudesse se conter.
Um sorriso sombrio brincou nos lábios dele.
— Eu sabia que você não ia me deixar do lado de fora.
Lara estreitou os olhos.
— Só por esta noite. Amanhã, você segue seu caminho.
Damien apenas assentiu, mas havia algo em sua expressão que dizia que ele não ia embora tão fácil.
Ela destrancou a porta e entrou primeiro. A cabana estava quente, iluminada apenas por uma fraca luz no corredor.
Ela se virou para encontrá-lo parado na porta, observando o ambiente com um olhar calculista.
— Bonito lugar. Isolado. Seguro.
Lara cruzou os braços.
— Exatamente por isso não preciso de um desconhecido aqui.
Damien deu um passo à frente, e ela percebeu como ele parecia maior ali dentro, sua presença dominando o espaço.
— Se eu quisesse fazer algo com você, já teria feito.
O silêncio se instalou entre eles.
Então, Damien tirou a camisa ensopada e jogou-a de lado.
Lara prendeu a respiração.
Seu corpo era um mapa de cicatrizes e músculos definidos. O corte recente ainda escorria sangue lentamente, atravessando sua barriga de forma perigosa.
Ele seguiu seu olhar e arqueou uma sobrancelha.
— Vai ficar olhando ou vai me ajudar?
Lara mordeu o lábio, irritada consigo mesma por se sentir afetada.
— Fique parado.
Ela foi até o banheiro e pegou um kit de primeiros socorros. Ao voltar, Damien já estava sentado no sofá de couro, os olhos acompanhando cada um de seus movimentos.
Ela se ajoelhou ao lado dele e abriu o kit.
Quando tocou sua pele quente, um arrepio percorreu seu corpo.
Damien percebeu.
O sorriso dele era puro pecado.
— Você está nervosa.
— Cala a boca.
Ele riu, um som rouco e baixo que ecoou no silêncio.
Lara pegou um algodão embebido em álcool e pressionou contra o corte. Damien nem sequer piscou.
Ela deveria sentir medo. Deveria mandá-lo embora.
Mas então, Damien ergueu a mão e segurou seu pulso com força.
— Obrigado.
Lara piscou, surpresa.
E antes que pudesse processar, ele puxou sua mão até seus lábios e roçou um beijo contra seus dedos.
O choque percorreu seu corpo como fogo.
Ela puxou a mão rapidamente, levantando-se de um pulo.
— Eu vou dormir.
Damien apenas a observou, um olhar carregado de promessas sombrias.
— Durma bem, Lara.
Mas ela sabia que não dormiria.
Não com aquele homem em sua casa.
Não com o perigo pulsando no ar como um segredo prestes a ser revelado.
Continua…
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Atualizado até capítulo 20
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