TELMA E EU

Telma é uma mulher de 37 anos, uma advogada reconhecida em sua cidade, Balneário Camboriú, Santa Catarina.

Conheci Telma quando viajei para conhecer as belas e bem preservadas praias da região, acompanhada de duas amigas. Na época, ela havia terminado um relacionamento há pouco tempo, enquanto eu já estava solteira há mais de um ano. Nossa primeira troca de olhares aconteceu em uma boate chamada Império, uma balada LGBTQIAP+. Ela estava linda, com seus longos cabelos lisos soltos, que às vezes caíam sobre seu rosto. Vestia um macacão folgado sobre uma camiseta, deixando à mostra as tatuagens que cobriam todo o seu braço direito.

Fiquei encantada por suas tatuagens e passei a noite inteira observando-a, sem coragem de me aproximar. Até que ela percebeu meus olhares e veio até mim, segurando dois shots de tequila e sorrindo.

— Você deveria beber para criar coragem e me beijar.

Rimos juntas da sua audácia. Aceitei a tequila, fiz careta com o gosto forte e ri da situação.

— De fato, agora tenho uma desculpa para te beijar. "É culpa da tequila" — falei, encarando-a.

Sem esperar mais, Telma me beijou suavemente, e assim passamos a noite inteira conversando sobre nossas vidas. Contei que partiria em dez dias, que havia sido demitida e, por isso, decidi viajar antes de procurar outro emprego. No dia seguinte, nos encontramos de novo, e ela passou os dez dias da viagem ao meu lado.

No aeroporto, enquanto esperava meu voo, Telma segurou minha mão e me fez um pedido inesperado:

— Volta. Mas, dessa vez, para morar comigo.

Fiquei surpresa demais para responder.

Quando voltei para Recife, parte de mim queria aceitar o convite. Estava envolvida demais com Telma, e sabia que ela sentia o mesmo. Mas meu lado racional me fazia hesitar. Namoramos à distância por dois meses, até que, um dia, ela simplesmente veio até Recife para me buscar.

Eu ainda não havia conseguido um emprego, pois queria abrir minha própria loja e estudava o mercado. Mas Telma não se importou. Apenas me levou com ela. No fundo, era o que eu queria desde o início, mas não tinha coragem de admitir. Sempre fui insegura, enquanto Telma esbanjava confiança, e isso me fazia admirá-la ainda mais.

No auge dos meus 26 anos, me vi morando em outro estado, ao lado de uma mulher determinada, dona de um pequeno escritório de advocacia que cresceu e se tornou reconhecido durante os dez anos em que estivemos juntas. Confesso que, muitas vezes, me escondi nela, vivendo sua vida e esquecendo da minha. A culpa não era dela. Era minha.

Em Recife, eu morava com uma amiga após a morte da minha mãe. Quando conheci Telma, agarrei-me a ela com toda a força. Eu a admirava tanto, a amava tanto, que acabei me perdendo de mim mesma. Mas agora, a ausência dela me fazia sentir ainda mais insegura.

Observo Telma se arrumando diante do espelho, vestindo um lindo macacão social. Aproveito o momento para tentar conversar:

— Você vai me evitar por quanto tempo? Já faz cinco dias que não fala uma palavra comigo. Dessa forma, não vamos conseguir recuperar nosso casamento.

Respiro fundo, tentando segurar as lágrimas. Ela continua se maquiando, preparando-se para visitar clientes. Seu silêncio me machuca, mas insisto:

— Telma, eu te amo. Sei que você me ama. Não me ignora.

Ela finaliza a maquiagem e se vira para me encarar. Seu olhar é frio quando responde:

— Você está assim porque não estamos transando. Porque eu não estou "comparecendo na cama".

Suas palavras ríspidas me atingem como um soco no estômago. As lágrimas escapam sem que eu consiga conter. Tento explicar, mas sei que ela está magoada e acha que estou exagerando por causa de sexo.

— Não é só por causa de sexo, Telma. Nosso relacionamento está frio e você sabe disso. Estamos como duas amigas… ou melhor, como duas estranhas que dividem a mesma cama.

Suspiro, já sem forças para continuar essa conversa. Telma apenas balança a cabeça em negação, pega sua bolsa e sai, me deixando sozinha no quarto.

As lágrimas voltam com mais intensidade. Pego o celular e envio uma mensagem para Paula, avisando que tirarei o dia de folga. Não tenho condições de ir trabalhar. Perder Telma é como ter o chão arrancado dos meus pés.

A culpa consome-me. Será que fiz o certo ao pedir um tempo? Talvez tivesse sido melhor ficar em silêncio e deixar as coisas seguirem, sem lutar.

Permaneço no quarto, envolvida em meus sentimentos, e não consigo conter as lágrimas. O choro me envolve, e fico ali, imersa em minha dor e tristeza.

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