Vozes no silêncio

A manhã chegou trazendo consigo um nevoeiro denso que se espalhava pela floresta, cobrindo tudo como um véu etéreo. O aroma úmido da terra misturava-se ao chá de ervas que Xīyán preparava, tentando afastar a estranha sensação que a acompanhava desde que despertara.

Seus olhos voltaram-se para a pequena gata branca ainda deitada sobre a almofada ao lado da lareira. Seus ferimentos estavam quase completamente cicatrizados, algo que parecia impossível considerando a gravidade em que a encontrou na noite anterior.

Xīyán suspirou. Talvez estivesse apenas cansada. Sua vida era dedicada a ajudar os outros—humanos e animais—mas, ultimamente, a exaustão estava pesando em seus ombros.

Ela se ajoelhou ao lado da gata e passou a mão suavemente sobre o pelo branco, sentindo a maciez sob seus dedos. A gata não recuou.

— Você é forte… — murmurou.

A gata abriu os olhos e encarou Xīyán. Aquele olhar…

Havia algo estranho nele. Profundo demais.

Xīyán se afastou, um incômodo crescendo em seu peito. Havia tratado inúmeros animais em sua vida, mas nenhum deles olhava para ela daquela forma. Como se compreendesse algo que ela não sabia.

A gata então fechou os olhos e, para a surpresa de Xīyán, murmurou algo.

— Xī… yán…

Xīyán congelou. Ela ouviu certo?

Seu corpo ficou tenso, o coração batendo forte dentro do peito. Seu nome… A gata acabara de chamá-la pelo nome?

— O quê…? — Sua voz saiu baixa, incerta.

A gata não respondeu. Seu peito subia e descia calmamente, como se nunca tivesse dito nada.

Xīyán levou uma mão à testa, sentindo um calafrio percorrer sua espinha.

Eu estou imaginando coisas?

Seu olhar voltou-se para a gata, que parecia dormir tranquilamente. Mas Xīyán não conseguiu afastar o desconforto.

De repente, o vento soprou pela janela, fazendo os sinos de bambu pendurados tocarem suavemente. Xīyán sentiu um arrepio subir por sua pele.

Ela não estava sozinha.

Havia algo ali. Algo invisível. Algo que estava ligado àquela gata branca.

E, no fundo, Xīyán sentiu que sua vida estava prestes a mudar de uma maneira que ela jamais poderia imaginar.

Xīyán permaneceu ajoelhada no chão de madeira, sentindo o coração bater forte contra o peito. O nome dela... A gata realmente o havia dito?

Ela estendeu a mão hesitante, aproximando-se da pequena criatura. O pelo branco parecia brilhar suavemente sob a luz fraca da manhã. A respiração da gata continuava tranquila, como se nunca tivesse emitido som algum.

— Eu… devo estar cansada. — Xīyán murmurou para si mesma, tentando afastar o calafrio que ainda subia por sua espinha.

Ela se levantou devagar e caminhou até a mesa onde havia deixado uma bacia de água limpa. Molhou um pano de linho e voltou para a gata, decidida a limpar os últimos vestígios de sangue seco de seus pelos.

Quando pressionou o pano úmido contra a pata da gata, um pequeno som ecoou.

— Mm… Xī…

Xīyán puxou a mão para trás imediatamente.

Seus olhos se arregalaram, e seu corpo ficou rígido.

Desta vez, ela tinha certeza.

A gata havia falado.

E não foi um miado estranho ou um som acidental. Foi um chamado. Um sussurro fraco, como alguém murmurando no meio de um sonho.

O silêncio que se seguiu foi sufocante. Xīyán sentiu a boca seca enquanto encarava o pequeno corpo adormecido diante dela.

Isso não é normal.

Seu instinto dizia para se afastar, mas, ao mesmo tempo, havia algo nela que não queria correr.

Ela inspirou fundo, tentando acalmar o turbilhão em sua mente. Com mãos trêmulas, tocou a gata novamente, desta vez com mais firmeza.

— Quem… o que você é?

A gata não respondeu.

Xīyán sentiu um nó na garganta. Tudo em sua vida havia sido previsível até então—ela conhecia o ritmo da floresta, dos animais, dos humanos que vinham até sua casa em busca de cura. Mas isso? Isso era algo que escapava de qualquer lógica.

Seu olhar percorreu o rosto adormecido da gata. Seus longos cílios brancos tremulavam levemente, como se estivesse sonhando.

Xīyán sentiu um aperto no peito. Aquela criatura não parecia ameaçadora… mas por que ela sentia que havia algo profundo e incompreensível escondido ali?

E, mais importante…

Por que sentia que essa gata não era um simples animal abandonado?

O que será que vem depois?

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