A tensão no ar era palpável, quase física, enquanto Azrael e Elyra permaneciam no limite do que poderiam suportar. A lua, agora encoberta por nuvens pesadas, lançava uma luz trêmula sobre o submundo, criando sombras que pareciam se esticar para engolir os dois seres condenados. O silêncio entre eles era quebrado apenas pelo som do vento que sussurrava, como se o próprio universo estivesse esperando que tomassem uma decisão.
Azrael não conseguia desviar os olhos do humano. O rosto dele estava gravado em sua mente, seus gestos, sua voz... Tudo sobre ele parecia chamar o demônio para uma atração que ele não poderia controlar. Mas o pacto que havia feito com os superiores ainda o mantinha refém. Ele não podia tocar o homem, não podia fazer mais do que observá-lo à distância. E isso o corroía.
— Ele está perto, Elyra. — A voz de Azrael soou mais baixa do que pretendia, carregada de uma dor que ele raramente deixava transparecer. — Eu sinto o calor dele, e tudo em mim grita para ficar ao lado dele.
Elyra olhou para Azrael, seus olhos azuis refletindo a mesma angústia. Ela sabia que o demônio não seria o único a sofrer. O amor que ela sentia pela humana também estava destruindo-a aos poucos. Cada vez que via a jovem, sua alma se quebrava mais um pouco, e a dor só aumentava.
Mas como poderiam viver com isso? Como poderiam continuar existindo quando o amor era o veneno que os corrompia?
— Não podemos fazer nada, Azrael. — Ela respondeu, a voz suave, mas firme. — O que sentimos por eles... é impossível. Eles não pertencem ao nosso mundo. O amor deles, nosso amor, é uma falha no tecido que mantém as coisas em equilíbrio.
Azrael não respondeu imediatamente. Ele estava lutando contra si mesmo, contra a necessidade de fugir daquele destino cruel que o amaldiçoava. Não poderia permitir que o que sentia pelo humano arruinasse tudo. Não poderia quebrar o pacto. Não poderia colocar em risco a própria existência de todos os mundos que estavam conectados por esses juramentos sagrados.
Mas, por um momento, ele se questionou: E se o amor fosse a única coisa verdadeira entre eles? Se o desejo que sentiam fosse, na verdade, a chave para algo mais? Algo que transcendesse os pactos e as regras imutáveis?
— Eu não posso simplesmente ficar longe dele, Elyra. — Sua voz vacilou, e a raiva misturou-se com a dor. — Não posso viver assim.
Elyra sentiu o peso daquelas palavras, sabendo que o que Azrael dizia não era uma simples declaração. Era um grito de angústia que ressoava em sua própria alma. Mas, por mais que ela entendesse o que ele estava sentindo, ela também sabia que ceder a essa tentação significaria a ruína para ambos.
— O que estamos fazendo é insustentável. — Elyra disse, com os olhos cheios de uma tristeza profunda, enquanto a imagem da humana surgia em sua mente. — Eles não sabem, mas... se não nos afastarmos, vamos destruí-los. E a única coisa que podemos fazer por eles é garantir que continuem a viver, sem saber o que estamos sacrificando.
Azrael se aproximou lentamente de Elyra, seu olhar fixo nela, como se procurasse alguma resposta que pudesse acalmá-lo, mas não havia nenhuma. Eles estavam presos, ambos tão fracos diante do poder do amor, mas tão fortes nas suas decisões. Eles se haviam comprometido a proteger quem amavam, mas nunca imaginaram que isso os tornaria prisioneiros do próprio desejo.
— Então, o que devemos fazer agora? — A pergunta de Azrael foi mais uma súplica do que uma exigência. — Eu... não posso continuar assim. O amor por ele está me destruindo.
Elyra sabia que não poderia dar uma resposta simples. Não havia resposta fácil. As regras do submundo, o pacto, tudo o que era sagrado estava em risco. Mas, ao mesmo tempo, ela sabia que seus sentimentos não poderiam ser ignorados para sempre.
— Precisamos encontrar uma maneira de viver com isso, Azrael. Ou, ao menos, tentar. — Ela pausou, como se pesasse suas palavras. — O amor é um obstáculo, mas também pode ser nossa força. Talvez não possamos tê-los da forma que queremos, mas podemos protegê-los. E isso deve ser suficiente, por agora.
Azrael olhou para ela, o coração cheio de conflito. Ele sabia que as palavras de Elyra eram verdadeiras. Mas como poderiam viver com um amor que nunca poderiam tocar, nunca poderiam experimentar de verdade? Era como uma chama que queimava dentro deles, mas que estava longe demais para alcançar.
Enquanto o vento soprava ao redor deles, um silêncio pesado se estabeleceu. Eles estavam, mais do que nunca, conscientes do peso do que haviam prometido. As regras, os pactos e a dor que os consumia. Eles não podiam voltar atrás agora.
Azrael suspirou, sentindo o gosto amargo da verdade. Ele não sabia o que o futuro lhes reservava, mas sabia que, por agora, o único caminho era seguir em frente, com a dor do amor proibido queimando silenciosamente dentro deles.
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Atualizado até capítulo 27
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