Obsessão Silenciosa: Aliança Fatal
Era uma noite fria. O tipo de frio que fazia o ar parecer mais pesado e o mundo, mais quieto. Eu estava sentada no banco de trás, enrolada no meu casaco favorito, aquele roxo com capuz de pelúcia. Meu pai dirigia com cuidado, os olhos fixos na estrada coberta por uma camada de neve fresca. Minha mãe estava ao lado dele, rindo de algo bobo que ele tinha acabado de dizer. Eu adorava aqueles momentos. Nós três, juntos, como uma pequena bolha de felicidade flutuando em um mar de gelo.
- Quando chegarmos em casa, podemos fazer chocolate quente! - minha mãe sugeriu, virando-se para mim com aquele sorriso caloroso que sempre fazia o mundo parecer um pouco mais brilhante.
- Com marshmallows? - perguntei, já animada só de pensar.
- Claro, com quantos você quiser! - meu pai respondeu, rindo.
Tudo parecia perfeito. A neve caía lentamente do lado de fora, e o som dos pneus deslizando suavemente sobre a pista escorregadia era quase relaxante. Eu nunca poderia imaginar o que viria a seguir.
De repente, um barulho ensurdecedor cortou o ar, e o mundo ao meu redor se desfez em um turbilhão de luzes e gritos. A pancada veio de lado, jogando o carro para fora da estrada. Tudo aconteceu rápido demais. Os gritos da minha mãe, o som de vidro quebrando, o metal rangendo. O carro girava como se estivesse fora de controle, e eu sentia meu corpo ser jogado de um lado para o outro, incapaz de entender o que estava acontecendo.
Então... silêncio.
A única coisa que conseguia ouvir era o som da minha própria respiração. Eu estava coberta de cacos de vidro, o gosto de sangue na boca. Olhei para frente, ainda tentando processar o que tinha acabado de acontecer.
- Mãe? - chamei, minha voz era apenas um sussurro. - Pai?
Eles não responderam.
O que antes era um carro confortável e quente agora era uma jaula de metal retorcido. Minha mãe estava imóvel, sua cabeça caída para o lado, um fio de sangue escorrendo por sua testa. Meu pai... Eu nem conseguia vê-lo direito. O volante tinha sido empurrado contra seu peito, e ele estava preso. Meus olhos se enchiam de lágrimas, mas eu não conseguia chorar. Tudo parecia distante, como se eu estivesse presa em um pesadelo do qual não conseguia acordar.
[...]
Perdi meus pais naquela noite. No hospital, disseram que eu tive sorte por ter sobrevivido, mas não parecia sorte. Não sem eles. Aos nove anos, o mundo que eu conhecia havia sido destruído em um instante. Eu me tornei órfã, e a dor de saber que nunca mais ouviria as risadas deles, nunca mais sentiria seus abraços, era insuportável.
Depois do funeral, fui levada para a casa dos meus tios. Eles me acolheram, mas não por bondade. Nunca houve amor ali. Meus tios eram pessoas frias, mais preocupados com o dinheiro e as aparências do que com qualquer outra coisa. O olhar de desprezo da minha tia me queimava cada vez que eu a encarava.
- Você deveria ser grata por termos aceitado cuidar de você - ela dizia, mas eu sabia que eles nunca me quiseram.
Os dias na casa dos meus tios eram longos e sombrios. Eles me faziam sentir como um fardo, um peso que eles não queriam carregar. Eu era forçada a fazer as tarefas da casa, mesmo quando estava exausta. Qualquer erro era punido com gritos ou, às vezes, com algo pior. Havia noites em que eu me encolhia na cama, chorando em silêncio, imaginando como seria minha vida se meus pais ainda estivessem vivos.
Os abraços calorosos de minha mãe foram substituídos pela frieza cruel de meus tios. O sorriso reconfortante do meu pai deu lugar às palavras duras e à indiferença. Eu era apenas uma criança, mas já entendia o que significava ser sozinha no mundo.
Foi ali, naquela casa, que eu percebi que não podia contar com ninguém. Se eu quisesse sobreviver, precisaria fazer isso sozinha.
E assim, aos poucos, a dor foi dando lugar à determinação.
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Atualizado até capítulo 39
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