A casa de Alicia era o refúgio para Beatriz

Quando Alicia chegou do trabalho, estiveram horas conversando sobre os acontecimentos recentes.

— André ligou várias vezes, Bia! — disse Alicia, intrigada.

― E?…

― E como ele sabe que nós somos “muy” amigas, me implorou para que eu te convencer a voltar para ele.

― Sem chance! ― Gritou Bia. ― Nem se atreva a pedir nada!

― Já sei, boba! Você pensa que eu, que fui sempre contra esse namoro, vou te pedir uma coisa absurda dessa?! Não sei onde o André tem a cabeça! Coitado, mas dá pena.

― Fica com ele, então! ― Respondeu, Beatriz, em tom de brincadeira.

As duas começaram a rir…

― Só mesmo você para melhorar o meu humor hoje! E obrigada pelo bolo! Estava uma delícia, como sempre Penso que engordei uns três quilos… Beatriz tinha muito cuidado com a linha (tinha tendência para engordar), menos nos dias em que estava com TPM. Comia tudo o que aparecesse na sua frente. Chegava a devorar uma barra de chocolate enorme. Principalmente o tal bolo de fubá que Alicia fazia e ela adorava! E nesse dia, além de tudo, ainda estava com essa tensão, que deixa muitas mulheres de rastros. Alicia, que já conhece bem esse seu lado, sabe quando ela começa a ficar assim. Às vezes percebe antes mesmo da própria Bia.

― Amiga, ainda bem que eu fiz esse bolo, se não, não tinha quem te aguentasse! ― Disse Alicia, sorrindo. — Nem mesmo o pobre André, que está agora fora da sua vida. ― Graças a Deus! ― Suspirou, aliviada.

― Falamos tanto de mim, que já ia me esquecendo de perguntar quem era o “misterioso” de ontem, mas não pense que vai me enrolar! Quem era? 

Alicia olhou para fora e desconversou. ― Bia, você vai embora hoje ou não? Está armando um enorme temporal. Se for, tem que ser agora, se não, fica perigoso. Você sabe…

― Está me mandando embora ou desconversando? Não quer falar, não fala, mas vou ficar triste. Não confia mais em sua amiga? ― Não é nada disso amiga, mas também não é nada importante. Depois te conto. Agora estou cansada. Vou tomar um banho. Fica aí, já volto… Quando Alícia voltou do banho, já veio com outra conversa e Bia acabou esquecendo-se de perguntar quem era o amigo misterioso da noite anterior. Como Alicia havia dito, a chuva começou a cair e não teve como Bia ir embora. Elas ficaram conversando até tarde e acabou dormindo por lá mesmo, pois havia acabado a energia e não tinha como fazer mais nada. Beatriz tinha pavor dos trovões e se deitou junto com sua amiga até adormecer. As férias já estavam chegando e o pai de Bia tinha lhe prometido uma viagem pela Europa. Ele era um homem muito influente, mas para ela, isso era indiferente. Para a tristeza de seu pai, Beatriz não se interessava minimamente pela empresa. Tinha um irmão mais velho, que trabalhava com o seu pai e a pequena Letícia, de apenas nove anos. Era a sua grande paixão e a única pessoa que realmente se importava em sua família. Bia tinha escolhido essa viagem, pensando em Alicia. Sabia que ela ia ficar radiante em conhecer um pouco da velha Europa. E por outro lado, ela mesma adorava viajar e já estava com saudades. Ia ser muito divertido para as duas, sair de férias pela Europa. Seus pais não tinham a mínima ideia de que a sua melhor amiga era pobre e vivia em um subúrbio do Rio de Janeiro. Também não se interessavam muito em saber. Sua mãe era alheia aos acontecimentos. Vivia de aparências com o seu pai, e assim, cada um fazia a sua própria vida. Beatriz já havia conseguido o que queria de seu pai: um apartamento. Estava tão feliz que não via a hora de poder mudar. Afinal, já tinha 29 anos. Estava mais do que na hora de ter sua liberdade. As chaves já estavam nas mãos. Só faltava contar a Alicia. Depois que saiu da faculdade ligou para Alicia e disse que tinha duas surpresas. Combinaram de se encontrar mais tarde em sua casa.

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