Beatriz e Alicia, mais que amigas

Bia tinha um namorado, mas não era nada sério (pelo menos para ela), pois nunca conseguiu se apaixonar por ele. Ele, por sua vez, fazia quase tudo para que ela se sentisse bem ao seu lado, mas nada do que ele fizesse fazia com que ela ficasse apaixonada. Pelo contrário, ás vezes até a irritava com a sua exagerada dedicação. Em uma de suas conversas sérias com Alicia, ela confessou; ― Amiga, tenho que te confessar uma coisa: acho que vou terminar tudo com o André! Tenho muita pena dele, mas isso não é o suficiente, nem é um sentimento nobre. Imagina alguém ficar comigo por pura caridade… Deus me livre! Se eu fosse ele, não aceitaria essa porcaria de sentimento! O pobre faz de tudo para me agradar. Até acredita em minhas mentiras (que ele sabe bem que é mentira) só para não me perder. Mas estou cansada de viver assim, nessa farsa! Não é bom para ele, nem para mim. Preciso arejar minha cabeça, livre de qualquer compromisso. Imagina se o meu “príncipe encantado” aparece e me encontra indisponível? … ― Palhaça! ― Respondeu Alicia, sorrindo. ― Nem com uma coisa séria dessa você deixa de fazer os seus comentários bobos… você sabe bem o que eu penso dessa sua relação com o André! Sempre fui contra, porque sei que você não gosta dele do jeito que ele gosta de você, mas não posso me meter em sua vida, apenas dou a minha opinião. Mas pense bem antes de tomar qualquer decisão! ― Já viu o anel que ele me deu? ― Perguntou, Bia. ― Que horas são? Que dia é hoje? Estou meio perdida… ― Credo, uma pergunta de cada vez! Como você não sabe que dia é hoje? Está maluca? Hoje é o dia do seu jantar “romântico” com o seu namoradinho. 

Respondeu, Alicia, em tom de brincadeira. 

― Pois justamente hoje vou acabar com esse namoro. ― Disse, Bia, decidida. ― Tem certeza, Bia? ― Perguntou, Alicia, preocupada. ― Claro que tenho! E deixa ‑me ir embora, porque você mora muito mal (risos) e até que eu chegue a casa, vou levar um ano. O trânsito a essa hora é caótico. ― Está bem, realmente moro mal. ― Respondeu sua amiga, ainda rindo das bobeiras que disseram. ― Vá jantar com o seu futuro ex noivo, mas antes de dormir, me liga para contar como foi. Vou ficar aqui, louca para saber de tudo! Aliás, assim que estiver em casa, me dá uma ligadinha, porque com esse trânsito, fico preocupada. E vê se vai devagar. Despediram ‑se no portão e saíram uma para cada lado. Alicia voltou para a sua limpeza (estava faxinando a cozinha), e Beatriz entrou em seu carro, colocou sua música preferida e seguiu rumo a casa. Tinha muita coisa para resolver. Era preciso estar calma.

Como ela imaginava o trânsito estava um caos. Ainda por cima, havia começado a chover e cair raios, que Beatriz tinha verdadeiro pavor. Àquela hora era crítica para se andar de carro no Rio de Janeiro, principalmente com aquela tempestade horrível. Alicia vivia bastante longe, mas isso nunca a impediu de visitá‑la. Enquanto estava parada no engarrafamento, ouvia repetidas vezes a mesma música, mas não sabia por que gostava tanto…” 

Olhos fechados pra te encontrar. Não estou ao seu lado, mas posso sonhar “. Acabou se distraindo em seus pensamentos com o que ia dizer ao André, mas, por mais que pensasse, não encontrava uma melhor forma de abordar o assunto. Desistiu. Era melhor parar de pensar e deixar as coisas acontecerem naturalmente. “De qualquer maneira não existe uma “boa forma” para terminar um namoro. É sempre constrangedor e uma das partes perde mais que a outra…”. ― Pensou.

 Enquanto pensava, se esqueceu de que estava no meio do trânsito. Apenas se deu conta com o barulho ensurdecedor das buzinas. Os carros haviam começado a andar e ela estava parada, feito tonta… O telefone tocou. Era o André, que já estava esperando no portal do seu prédio. “Coitado, não sabe o que lhe espera”. ― Pensou, enquanto batia com a porta. Entrou no carro e o clima parecia um pouco tenso. Parecia que ele sabia o que estava à sua espera. Ela ficou em silêncio… 

― O que foi amor? ― Perguntou, André, com um ar desconfiado. ― Algum problema? ― Não, nenhum. Por que? ― Respondeu Bia, com uma voz seca, emendando outra pergunta. ― Porque você está muito estranha. Não me deu nem um beijo… ― Respondeu, André, lamuriento. Bia olhou em seus olhos e disse, séria: ― André, temos que conversar… ― Sei, Bia. Temos que conversar sempre. Por isso estamos aqui, não? ―Sim, mas é grave. Temos que conversar sério! ― Disse, Bia, com um jeito decidido. Ele nem olhou em seus olhos. Parecia estar fugindo do assunto. Parou o carro em frente ao restaurante e, antes que ela abrisse a porta, deu a volta para abrir e ajudá-la a sair. ― Obrigada, mas não precisava. ― Disse, ela, meio antipática. ― É sempre um prazer. 

Sentaram em uma mesa que estava reservada em um cantinho especial. Se eles fossem um casal normal, estaria perfeito. O lugar era lindo e romântico.

― Posso começar? ― Perguntou, Bia, ansiosa para acabar logo com aquele jogo. 

― Primeiro vamos escolher o que vamos pedir. Disse André, tentando fugir de novo da tal conversa. ― Você quer comer o quê? ― Qualquer coisa. Estou sem fome. Bia estava irritada e com vontade de acabar logo com tudo aquilo e se ver livre de uma vez, enquanto André tentava fingir que não estava acontecendo nada… 

― Amor, estive pensando em aceitar aquela proposta que lhe falei na semana passada, lembra? Vai ser um bom investimento… 

O garçom chegou com o vinho e o interrompeu. Ele levantou a taça e propôs um brinde; ― Ao nosso amor! E ao novo negócio! 

Beatriz já estava irritada. Nem sequer levantou a taça. Alterou a voz: ― André, por favor, para de fingir que não está acontecendo nada! Eu não posso brindar contigo um amor que é só seu! Quero que você me perdoe, mas… Ele arregalou os olhos e disse, assustado: 

― Bia, por favor! Não faz isso comigo! Pare! Não diga mais nada! Tudo o que você quiser, farei por você, meu amor. Eu te amo! Você não pode me deixar! … ― André, pare, por favor! Escuta… 

Enxugou as lágrimas que caíam em seu rosto, deu um trago no vinho e disse: ― Infelizmente você sabe que nunca te amei, mas sabe também que nunca o enganei. Tenho um carinho enorme por você, mas isso não basta para manter uma relação. É preciso que ambas as partes estejam sentindo a mesma coisa. É melhor a gente terminar agora do que mais tarde! ― Não, meu amor! ― Suplicou o pobre rapaz, totalmente em desespero de causa. ― Você não pode fazer isso comigo! Farei o que você quiser, mas, por favor, não me deixe! ― Por favor, digo eu, André! Amor não se escolhe. Nasce do nada, naturalmente e isso eu não tenho o poder para fazer, porque se tivesse escolheria amá-lo. ― Mas eu amo você e serei paciente. Você acabará se apaixonando… 

Antes que ele terminasse, ela se levantou, olhou em seus olhos e gritou: ― Chega! Eu não te causarei mal maior. Desculpa ‑me… 

Saiu sem olhar para trás, sem mesmo ouvir o que ele lhe havia respondido. Entrou em um táxi e pediu o taxista para que a levasse em qualquer lado que ela pudesse beber. O taxista não entendeu muito bem, mas obedeceu.

Parou em frente a um bar e perguntou se ela estava bem, ou se precisava de que ele a acompanhasse (devido ao seu estado lamentável de pranto). Ela se limitou em pagar e agradecer. Entrou no bar e foi direto ao balcão pedir um uísque duplo. O bar estava cheio. Pegou sua bebida e foi se sentar em uma mesa que estava mais escondida. Chorou amargamente, como uma criança, sem vergonha de quem estivesse olhando. Tomou um e outro, até que se sentiu tão estranha que preferiu parar. Pagou a conta e saiu. Estava angustiada, mas não entendia o porquê. Havia acabado com um namoro de quase dois anos, mas que para ela era um alívio, então por que estava se sentindo tão triste? Tinha muita pena do André, mas no fundo sentia maior pena de si mesma… esse era o momento em que precisava pôr em ordem a sua cabeça e seus pensamentos. Precisava estar sozinha. 

Andou pelas ruas sentindo por primeira vez, uma enorme sensação de liberdade. Pela primeira vez estava livre e havia sido capaz de tomar uma decisão sem ajuda de ninguém. Deixou a chuva bater em seu rosto e seguiu. Andou até a praia, tirou as sandálias, e caminhou para perto da água. Parecia uma louca, caminhando pela areia, de noite e debaixo de chuva. Não se deu conta de quanto tempo ficou ali, mas sentiu frio. Estava completamente encharcada. A chuva estava mais forte. Era hora de regressar a casa… 

Abriu a porta devagar para que ninguém se desse conta de sua presença. Não queria correr o risco de ter que dar explicações a ninguém. Tomou um banho quente, colocou seu pijama e mais uma vez pôs sua música para tocar. Agora sim, a música começava a fazer sentido. Alicia ligou. Estava preocupada. Havia mil chamadas não atendidas. Umas do André, outras dela. Bia só conseguiu dizer uma coisa à sua amiga;

― Amiga, estou livre! Consegui me libertar!

― Caramba, estava preocupada. Você não ligou. ― Reclamou Alicia, bem baixinho. Mas Beatriz, não estava para conversas. Queria curtir esse momento em silêncio e sozinha.

― Amanhã a gente se fala e conto tudo. Hoje não tenho condições para nada, só para dormir. Bebi demais…

― Mas me liga sem falta, assim que você acordar. Estarei ansiosa. Você está bem? Vai ficar bem? Tem certeza que já está em casa?

― Chega, “mãe”! ― Respondeu Bia. ― Claro que estou bem, senão, não estaria falando contigo, não acha? Estou em casa, na cama e com muito sono. Obrigada pela preocupação! Até amanhã! Boa noite! Beijo. Mas espera; amanhã você vai me contar quem está dormindo aí, do seu ladinho, porque você está falando assim, baixinho. 

Alicia sorriu e disse: ― Boa noite, curiosa! 

Foi só desligar o telefone, que ela também desligou. Jogou ‑se em cima da cama e apagou. Na manhã seguinte acordou com uma dor de cabeça terrível, devido à ressaca, mas mesmo assim estava se sentindo leve. Lembrou ‑se de tudo o que havia passado na noite anterior, mas principalmente, se lembrou de que não tinha mais “André” para dar satisfação e inventar desculpas, mas também não havia mais quem lhe mandasse flores, levasse a jantares românticos… Pensou em tudo isso e se deu conta de seu egoísmo. No seu íntimo, havia uma pessoa insaciável e carente de amor. Tinha necessidade de se sentir amada e desejada por alguém, mas principalmente, tinha necessidade de amar alguém. 

A primeira coisa que fez antes de sair para a faculdade foi ligar para Alicia e contar o que havia acontecido na noite anterior, mas ela estava trabalhando e não podia ficar muito tempo ao telefone, por isso combinaram que mais tarde se encontrariam. 

Na sala de aulas não conseguia se concentrar, então inventou que estava passando mal e pediu para sair. Entrou em seu carro e seguiu rumo ao subúrbio. Não podia esperar mais tempo. Tinha que contar à sua amiga como ela estava se sentindo e também saber quem era o tal homem que estava com ela na noite passada… Chegou lá, Alicia ainda estava trabalhando, mas havia um truque que ela sabia para entrar na casa; a chave estava no vaso de planta. E ela tinha total liberdade para entrar e sair daquela casa quando quisesse, por isso não se sentiu uma invasora. Em cima da mesa da cozinha, havia um bilhete; “Sabia que você viria mais cedo, por isso fiz o bolo que você gosta, para lhe acalmar e aliviar o stress até eu chegar. Estou ralando. Não tenho a sua sorte de ter nascido de “bumbum virado para a lua”. Me espera… beijos, Alicia”. 

Ela não pode deixar de rir ao olhar o bolo e a garrafa térmica cheia de café. Sua amiga realmente a conhecia melhor que ninguém! Sentiu ‑se feliz ao ter o privilégio em tê‑ la como a sua melhor amiga. ― “Tenho sorte”. ― Pensou, enquanto comia um pedaço daquele delicioso bolo de fubá (que ela adorava). 

Capítulos
1 Beatriz
2 Beatriz e Alicia
3 Beatriz e Alicia: Uma Amizade Além das Convenções Sociais
4 Beatriz e Alicia, mais que amigas
5 A casa de Alicia era o refúgio para Beatriz
6 Beatriz em sua casa nova
7 A primeira briga e a preparação para a viagem
8 A viagem das amigas
9 Encantadora Europa
10 Aventura de duas brasileiras na Alemanha
11 A romântica Paris
12 A gloriosa Luxemburgo
13 Maravilhosa Andorra
14 Em Barcelona a cidade é vivida
15 Magnífica Madrid
16 Maravilhosa La Coruna
17 A linda cidade do Porto
18 A linda e histórica Coimbra
19 A linda e romântica Lisboa
20 Um pouco sobre a cultura de Lisboa e sua história
21 de volta para casa
22 De volta a realidade do Rio de Janeiro
23 Beatriz decide morar na Irlanda
24 A mudança para a Irlanda
25 Novas espectativas
26 Se adaptando em Dublin
27 Alessandra
28 Alícia terá gêmeos
29 A reviravolta da vida
30 Alicia, Bia e Léo Encontros e Despedidas
31 Fugindo de si mesma
32 Surpresa no sítio
33 E agora, o que vamos fazer?
34 O inevitável aconteceu
35 Minha culpa é te amar
36 De volta a realidade cruel
37 De volta para a Irlanda
38 Longe daqui, longe de tudo, meus sonhos vão te buscar...
39 Grávida! E agora?
40 O frio estava de volta e suas inseguranças também
41 Se esconder para que?
42 A visita de Alessandra
43 A difícil conversa entre Alicia e Léo
44 O nascimento de Maria Alice
45 Está mais perto que nunca
46 Ao encontro com seu passado
47 O grande reencontro Léo e Bia
48 A verdade veio à tona
49 O amor venceu! Final feliz
Capítulos

Atualizado até capítulo 49

1
Beatriz
2
Beatriz e Alicia
3
Beatriz e Alicia: Uma Amizade Além das Convenções Sociais
4
Beatriz e Alicia, mais que amigas
5
A casa de Alicia era o refúgio para Beatriz
6
Beatriz em sua casa nova
7
A primeira briga e a preparação para a viagem
8
A viagem das amigas
9
Encantadora Europa
10
Aventura de duas brasileiras na Alemanha
11
A romântica Paris
12
A gloriosa Luxemburgo
13
Maravilhosa Andorra
14
Em Barcelona a cidade é vivida
15
Magnífica Madrid
16
Maravilhosa La Coruna
17
A linda cidade do Porto
18
A linda e histórica Coimbra
19
A linda e romântica Lisboa
20
Um pouco sobre a cultura de Lisboa e sua história
21
de volta para casa
22
De volta a realidade do Rio de Janeiro
23
Beatriz decide morar na Irlanda
24
A mudança para a Irlanda
25
Novas espectativas
26
Se adaptando em Dublin
27
Alessandra
28
Alícia terá gêmeos
29
A reviravolta da vida
30
Alicia, Bia e Léo Encontros e Despedidas
31
Fugindo de si mesma
32
Surpresa no sítio
33
E agora, o que vamos fazer?
34
O inevitável aconteceu
35
Minha culpa é te amar
36
De volta a realidade cruel
37
De volta para a Irlanda
38
Longe daqui, longe de tudo, meus sonhos vão te buscar...
39
Grávida! E agora?
40
O frio estava de volta e suas inseguranças também
41
Se esconder para que?
42
A visita de Alessandra
43
A difícil conversa entre Alicia e Léo
44
O nascimento de Maria Alice
45
Está mais perto que nunca
46
Ao encontro com seu passado
47
O grande reencontro Léo e Bia
48
A verdade veio à tona
49
O amor venceu! Final feliz

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