04
Gabriel saiu de casa no horário exato. O trânsito estava como sempre: previsível. Ele escolhia o mesmo caminho para o trabalho todos os dias porque sabia exatamente quanto tempo levaria.
Nada de surpresas, nada de desvios desnecessários.
Quando chegou ao escritório, foi direto para sua mesa. Ligou o computador e começou a revisar os documentos que precisava analisar.
Seu chefe, Henrique, passou por ele e deu um aceno breve.
Henrique
Gabriel, preciso falar com você na sala de reuniões em cinco minutos
Gabriel olhou para o relógio. Oito e cinquenta e cinco. Ele não tinha nada agendado para aquele horário. Isso o incomodou.
Gabriel
Algum problema?
× perguntou, já sentindo um incômodo na nuca. ×
O chefe saiu sem mais explicações.
Gabriel respirou fundo, tentando não se deixar levar pela ansiedade. Ele odiava surpresas.
Ao entrar na sala, encontrou Henrique e mais dois sócios do escritório.
Henrique
Feche a porta, Gabriel.
Gabriel
× Fechei a porta e sentei-me ×
Henrique
Gabriel, você é um dos advogados mais promissores do escritório. Dedicado, organizado, sempre eficiente.
Gabriel
× assentiu, esperando a continuação ×
Henrique
Mas você cometeu um erro.
Gabriel
[ caralho, essa frase atingiu-me como um soco... ]
Henrique virou a tela do laptop em sua direção
Henrique
O contrato que você enviou para o cliente ontem… tem uma cláusula incorreta. E isso pode nos custar muito dinheiro.
Gabriel pegou o documento e analisou rapidamente. Seus olhos correram pelas linhas, o coração acelerando.
Gabriel
[ Como isso é possível? Eu conferir tudo, sempre. Meu trabalho era impecável. ]
Mas a cláusula estava lá. Errada.
Gabriel
[ Sinto o meu estômago revirar. ]
Gabriel
Eu… eu não sei como isso aconteceu.
Henrique
Também não sabemos. Mas precisamos consertar isso agora. O cliente ainda não assinou, então temos uma chance.
× Suspira ×
Henrique
Mas, Gabriel...
× Olha para Gabriel com seriedade ×
Henrique
Isso não pode se repetir.
Gabriel assentiu, sentindo um gosto amargo na boca
Gabriel
Eu resolvo isso agora.
× Firme ×
Henrique
Ótimo. Espero que sim.
Ele saiu da sala com o documento em mãos, sentindo algo que não sentia há muito tempo: medo.
O resto do dia foi um turbilhão. Arthur refez o contrato, conferiu cada detalhe dez vezes antes de enviá-lo. Mas a sensação ruim não passava. Sua confiança estava abalada
Quando finalmente saiu do escritório, já passava das oito da noite. Ele não queria ir para casa. Sentia-se inquieto, como se precisasse de algo para aliviar aquela sensação sufocante
Foi então que, sem perceber, seus passos o levaram até a livraria.
Era um lugar que ele raramente visitava. Mas, naquele momento, a ideia de entrar em um ambiente tranquilo parecia atraente.
Gabriel
Não custa nada entrar para olhar alguns livros...
× Adentra a livraria ×
Gabriel
[ Que sensação gostosa... O local é geladinho, mas não ao ponto das pessoas passarem frio... É confortável aqui. ]
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