Eu quero contar uma experiência que aconteceu comigo quando eu era mais jovem. No penúltimo ano da faculdade eu consegui um estágio em um grande escritório de advocacia. Era um dos maiores escritórios do país e se dividia em equipes que tratavam de áreas específicas. Eu entrei para a equipe que atuava com Direito de Compliance. A equipe era relativamente pequena, composta pelo advogado sênior, que a liderava e cuidava dos casos mais complexos, dois advogados juniores que eram os responsáveis na grande maioria em atender os clientes e elaborar as petições e três assistentes que apoiavam nas tarefas operacionais, organizando a documentação e realizando pesquisas jurídicas, que acabou sendo também minha função como estagiário (eu era o único estagiando na equipe). O trabalho era intenso e tínhamos muitos clientes, pois nosso escritório se destacava na área, por ser um dos primeiros no país a atuar com Compliance. Um adendo aqui, para quem não sabe do que estou falando, Compliance é um termo que vem do inglês e que significa cumprir. Dentro disso, Compliance Jurídico é uma área que atua auxiliando as empresas a seguir em conformidade com as leis e padrões éticos, a partir da implantação de um conjunto de regras, processos e políticas para a empresa. O jurídico vai garantir o cumprimento desses, possibilitando que a empresa funcione bem, minimizando os riscos. Voltando para minha história...
Eu estava na minha última semana de estágio. Meu contrato encerraria ao final da semana, e eu já estava em negociação para assumir uma vaga em um pequeno escritório da minha cidade, que estava implementando a área de Compliance e, por indicação de um dos advogados juniores, me abordaram para assumi-la. Em paralelo, estava finalizando minha inscrição para a pós-graduação e concluindo os trabalhos finais, incluindo o meu TCC. Ou seja, não sei como estava sobrevivendo naquela época. Vida pessoal esquece, fazia anos que não sabia o que era beijar na boca ou até mesmo sair, sexo então... Acho que a última vez que socializei foi no primeiro ano. Bons tempos aqueles. Em relação ao trabalho, estávamos em um hiato entre os contratos, então no escritório as coisas estavam relativamente tranquilas, o que me permitia concluir minhas tarefas e aprender um pouco mais com os juniores. Nosso sênior tirou férias (se podemos dizer assim), se afastando por alguns dias. Ele voltaria na sexta, justamente o meu último dia na equipe.
Acho que tenho que fazer outro adendo aqui. Quero contar para vocês como era nosso sênior. Seu nome era Andrew. Ele estava na casa dos trinta, talvez trinta e cinco ou trinta e seis anos, e sua presença era tão marcante que era impossível ignorar. Alto, com cerca de 1,90m, seu corpo tinha a medida perfeita entre força e elegância. Não era magro nem exageradamente musculoso, mas seus contornos bem definidos ficavam evidentes sob o terno, como se o tecido fosse moldado para destacar sua forma (e eu acho que era). Seus olhos, de um castanho claro que brilhava sob a luz, pareciam capazes de desarmar qualquer pessoa com um único olhar. O nariz, perfeitamente reto, trazia um equilíbrio delicado ao rosto, enquanto sua boca, lindamente delineada e cheia, parecia formar um coração, com lábios naturalmente avermelhados que chamavam atenção. A barba por fazer acentuava ainda mais os detalhes de sua boca e era seu charme. As sobrancelhas, perfeitamente desenhadas, completavam o conjunto com uma elegância natural que realçava ainda mais sua beleza. O cabelo, preto e liso, estava sempre impecavelmente cortado. Ele o penteava para o lado em um estilo clássico, que, apesar de tradicional, lhe conferia um ar jovial e sofisticado. Seus ternos eram sempre impecáveis, feitos sob medida para abraçarem seu corpo como uma segunda pele, transformando cada aparição sua em um evento. Não havia quem não notasse sua presença, ele fazia os olhares se voltarem por onde passava. De ascendência coreana, Andrew possuía traços harmoniosos que lembravam os dos famosos atores de Dorama da atualidade, combinando delicadeza com uma masculinidade moderna e arrebatadora. Ele fora, sem dúvida, um jovem prodígio, formando-se na faculdade antes dos 22 anos e seguindo com seu desenvolvimento acadêmico, enquanto iniciava nesse mesmo escritório como estagiário. Ele sempre foi muito dinâmico e eficiente, por isso, ele se tornou o advogado mais jovem a chegar à senioridade e estava prestes a se tornar sócio. Por que estou contando isso? Porque desde a primeira vez que coloquei os olhos nele, eu o quis.
O dia que cheguei no escritório, passei pelo ritual de boas-vindas, juntamente com os demais estagiários que foram encaminhados para as outras equipes. Eu escolhi Compliance, por ser uma área nova de atuação e que refletia as necessidades atuais da sociedade. Como a equipe é relativamente pequena, havia apenas uma vaga, em comparação com Direito Criminal, que estava contratando seis estagiários. Naquele dia, passamos o dia na integração e os seniores das áreas foram se apresentar, menos Andrew, que estava em uma viagem de negócios e não conseguiu comparecer. Em seu lugar, o advogado júnior Matt apresentou a área e nos deu boas-vindas. Formalidades concluídas, com as devidas apresentações, fomos direcionados para nossas equipes. A equipe de Compliance ficava no 23º andar, juntamente com os escritórios dos sócios. Matt me acompanhou e fez as apresentações da equipe, explicando que Andrew se apresentaria formalmente quando retornasse. Eu agradeci e me direcionei a mesa indicada, arrumando minhas coisas. Naquele mesmo dia comecei a atuar, com a ajuda da Vic, a assistente que foi designada para me ensinar e treinar.
Dois dias depois, eu estava na fotocopiadora, copiando um processo para arquivá-lo, quando um homem alto, bem vestido, de ascendência oriental e principalmente, muito cheiroso (certeza que ele usava o Bleu de Chanel), parou ao meu lado e passou a observar o que eu fazia. Eu cumprimentei e perguntei se poderia ajudá-lo. Ele negou e se retirou caminhando em direção a sala de um dos sócios. Continuei realizando meu trabalho, a Vic me explicando sobre o arquivamento dos casos e a necessidade de manter as cópias físicas, além das digitais. Os demais estavam em suas mesas, realizando seus trabalhos. Aquele homem de mais cedo entrou em nossa sala, e todos se levantaram, cumprimentando-o. Eu fiz o mesmo, agora prestando atenção aos detalhes. “Que visão!”. Eu lembro de ter perdido o ar e ter me engasgado, com a Vic me socorrendo. Ele veio até nós e parou na minha frente, me fazendo corar na hora.
Victoria – Bom dia sr. Andrew. Esse é nosso novo estagiário. Ele ofereceu sua mão e eu a peguei, o cumprimentando.
Andrew – Victoria está responsável pelo seu treinamento, mas se precisar de algo ou se ela não estiver, pode solicitar aos juniores e a mim.
Eu – Obrigado senhor.
Andrew – Seja bem-vindo. Virando-se para Vic. – Por favor, agende uma reunião de equipe para depois do almoço. Olhei a agenda e todos estão internos hoje. Se houver alguma reunião no horário, remarque.
Vic assentiu e imediatamente encaminhou o invite da reunião solicitada por nosso sênior, enquanto ele se dirigiu a sua sala. Eu soltei um suspiro, voltando a respirar. Vic sorriu, notando que eu estivera segurando o ar até aquele momento.
Victoria – Não se preocupe. Ele tem esse ar de formalidade e austeridade, mas na verdade, ele é gentil. Com o tempo você perceberá.
Eu assenti. Por dentro, estava rindo, perdi o ar, não por seu tom sério, mas por sua beleza. “Não é hora de pensar em pegar o chefe!”. Eu voltei a tarefa que Vic havia me direcionado. A manhã passou rápido e logo estávamos todos na sala de reunião, aguardando nosso sênior. Andrew entrou, sua presença imponente preenchendo a lugar. Perdi o ar pela segunda vez naquele dia. Ele sorriu ao entrar, cumprimentando a todos e se sentou.
Andrew – Boa tarde a todos! Todos na mesa responderam. – Antes de iniciarmos, quero dar as boas-vindas oficialmente ao novo membro da nossa equipe, nosso novo estagiário.
Eu agradeci, assentindo com a cabeça, enquanto os demais me cumprimentavam. Seguindo com a reunião, Andrew contou que conseguiu fechar o contrato com a Siderúrgica que visitara, mas que o caso era mais complexo e delicado e que precisaria do foco de todos nas próximas semanas para elaborar um plano de ação para a implantação de Compliance.
Andrew – Teremos que trabalhar do zero. Atualmente eles não possuem uma política de atuação, então teremos que criá-la e implantá-la. Vou precisar que vocês me ajudem com o projeto. Ele havia se dirigido aos dois advogados juniores. – Vic, preciso que você e os demais levantem todos os processos passados e em andamento contra a empresa. Vic assente. – Enquanto a você... Ele estava olhando para mim. – Quero que você auxilie os assistentes, mas deverá acompanhar os demais advogados no planejamento do projeto. É importante que você comece a conhecer nossa área de atuação, aprendendo com os demais.
Eu assenti, quando os demais concordaram. Ele seguiu com a reunião, apresentando alguns dados e rascunhando o plano de estratégia. Os demais casos em andamento deveriam ser mantidos e, qualquer empecilho, ele deveria ser acionado imediatamente. A reunião encerrou e, imediatamente, Vic estruturou a equipe de assistentes para iniciar a pesquisa. Eu admirei a eficiência com que todos trabalhavam e, naquele momento, só esperava conseguir me encaixar. Por volta das 16:00 horas, Matt foi a minha mesa, informando que eu deveria participar da próxima reunião. Assenti, salvando os arquivos que havia conseguido e encaminhando para Vic. Segui para a sala de reunião, onde Andrew e os demais juniores aguardavam.
Eu – Me desculpe.
Andrew – Não tem o que se desculpar. Chamei vocês aqui para iniciarmos o projeto. Vic e sua equipe já estão levantando os dados, mas podemos começar com os parâmetros padrões. Ele seguiu direcionando, apresentando dados de projetos parecidos. A reunião se estendeu pelo resto da tarde. Quando deu 18:15, Andrew me dispensou, pois já passara do meu horário.
Eu – Gostaria de continuar, se não se importar.
Ele sorriu. – Você não tem aula?
Eu – Eu teria prática de júri, mas já fechei os créditos dessa matéria. Só preciso comparecer para entregar o relatório. Se não se importar, quero continuar na reunião. Andrew assente e segue. Por volta das 21:00 ele realiza uma pausa, pedindo comida para o pessoal. Matt se aproxima de mim, sorrindo.
Matt – Você não precisa acompanhar essa reunião. Já passou e muito do seu horário.
Eu – Sem problemas, na verdade aprendi mais nessas poucas horas, do que nos semestres de aula teórica da faculdade.
Matt – Só fique ciente que esse tipo de reunião costuma varar noite adentro.
Eu sorri para ele e assenti, valia a pena. Eu olhei em direção aos demais e Andrew estava nos observando. Seu olhar era intenso, perscrutador, como se estivesse tentando decifrar algo em mim. Antes que eu pudesse reagir, ele desviou a atenção para atender o telefone, o que me deu um momento para recompor meus pensamentos. Eu voltei para a mesa e revi minhas anotações, tentando organizá-las. Andrew saiu da sala, involuntariamente, meus olhos o seguiram, acompanhando cada passo. Era difícil não notar como ele chamava atenção, sua presença sendo tão marcante indo quanto era vindo. Alguns minutos depois ele retornou, com algumas sacolas de restaurante. Ele as colocou sobre a mesa e chamou a todos para comerem. Afastamos os documentos da mesa e nos servimos. Andrew se aproximou, estendendo-me uma lata de Coca-Cola. Seus dedos roçaram nos meus e eu senti um pequeno choque, como se uma corrente elétrica suave atravessasse de sua pele para a minha. Meu olhar encontrou o dele, e seus olhos brilharam com algo que parecia reconhecer aquela mesma sensação. Ele sorriu, confirmando o que palavras não precisavam dizer. Eu sorri de volta, tentando manter a compostura enquanto pegava a latinha. O primeiro gole desceu suave, aliviando minha sede, mas minha mente estava longe de se acalmar. Andrew, por sua vez, não desviava o olhar. Seus olhos acompanhavam cada um dos meus movimentos, e um sorriso de canto de boca brincava em seus lábios, mexendo com meus pensamentos. Forcei-me a desviar o olhar, a ignorar a ideia insana que começava a tomar forma na minha cabeça. Não podia me apegar a algo tão impossível, tão fora de alcance. Ele era meu chefe, e este era apenas o meu primeiro dia trabalhando com ele. Durante o jantar, porém, não pude evitar. Peguei-o me observando algumas vezes. Seus olhos eram intensos, como se me estudassem em silêncio, mas eu simplesmente não conseguia encará-lo de volta. A reunião se estendeu por mais algumas horas e Andrew se deu por satisfeito, com o primeiro esboço da proposta. Olhei no relógio e passavam da 01:00 hora. Todos se despediram. Fui a minha mesa, onde Vic tinha deixado um recado me agradecendo pelo trabalho do dia. Guardei minhas coisas e peguei minha bolsa, seguindo para o elevador. Encontrei com Matt que aguardava no hall.
Matt – E então?! Cansado?
Eu – Não, imagina. Gostei muito de participar da reunião. Aprendi muito.
Matt – Está de carro?
Eu – Não, mas vou chamar um carro de aplicativo. Eu pretendia voltar de metrô, mas não estão mais circulando a esse horário.
Matt – Te avisei que varamos a noite.
Eu sorri. O elevador parou no hall e foi só então que percebi que Andrew estava próximo a nós. Entramos no elevador e seguimos em silêncio, com Matt se despendido na entrada. Andrew fez um breve aceno e seguiu para o estacionamento. Eu tentei chamar um carro pelo aplicativo, mas nenhum respondia. Um Porsche 911 prata parou em frente ao prédio, próximo de onde eu estava. Seus vidros eram escuros e não consegui identificar o motorista. O vidro do passageiro abaixou e Andrew se curvou, para falar comigo.
Andrew – Não conseguiu carro?
Eu – Não, parece que não tem carros disponíveis no momento, nem no modo Black.
Andrew – Entra, eu te dou uma carona. Eu neguei, não queria incomodá-lo. – Vamos, você não sabe quanto tempo demorará para conseguir um carro, mais fácil eu te dar uma carona. Eu assenti. Entrei no carro e agradeci o gesto. Ele me pediu para colocar o endereço no aplicativo de navegação e sorriu. – Você mora perto.
De carro, eu morava a uns vinte minutos. Tive sorte que o escritório ficasse perto da Universidade e do meu apartamento. Andrew ajustou a marcha (aquela máquina tinha câmbio manual) e acelerou. Ao trocar a marcha, seus dedos tocaram de leve em minha coxa. Foi um toque sutil, mas suficiente para fazer um arrepio subir por minha espinha, como uma descarga elétrica de alta voltagem. Era impressionante como esse homem conseguia mexer com todos os meus sentidos sem o menor esforço. Eu estremeci, tentando afastar os pensamentos intrusivos, mas eles insistiam em permanecer. Chegamos em menos de oito minutos na minha casa. Eu agradeci e ele se inclinou em minha direção, estendendo a mão para desafivelar o cinto. O movimento fez com que seu perfume me atingisse em cheio, um aroma intenso e marcante que parecia feito sob medida para ele. Sem perceber, soltei um leve suspiro, denunciando o impacto que ele causava. Ele sorriu, aquele sorriso de quem sabe exatamente o poder que exerce sobre os outros. Havia algo em sua expressão que exalava confiança e mistério, como se ele estivesse sempre um passo à frente. Tentei manter a compostura, agradeci novamente pela carona e saí do carro, o ar puro clareando meus pensamentos. “Pelo amor de Deus, se recomponha! Ele é seu chefe!”
Entrei e fui direto para o banho. Precisava esfriar, em todos os sentidos. A água fria escorria pelo meu corpo, mas não era suficiente para apagar o calor que ele havia acendido em mim. Precisei “bater uma” em homenagem àquele homem. Não me repreendam, eu estava na seca a muito tempo e resistir a um homem tão bonito e cheiroso era uma tarefa impossível até para os mais fortes. O problema, porém, era a linha tênue que eu não deveria cruzar. Ele era meu chefe, o advogado sênior da firma, e, por mais tentador que fosse, nem em meus sonhos, eu pensaria em cruzar essa linha... bom... talvez nas minhas fantasias...
***
Dizem que a primeira impressão é a que fica, e a que tive de Andrew, sem dúvida, me marcou profundamente. Desde o início, ele parecia carregar um magnetismo difícil de ignorar, algo que tornava impossível não notar sua presença. E conforme o tempo passava, trabalhando ao seu lado, meus pensamentos começaram a trilhar caminhos perigosos que, por vezes, estreitava ainda mais, a linha tênue entre chefe e estagiário. Durante esses dois anos que estagiei, tivemos diversos momentos em que me pareceu que Andrew estava interessado. Por vezes, o pegava me observando, seus olhos fixos nos meus com uma intensidade quase indecifrável, às vezes carregados de algo que parecia desejo. Pequenos toques furtivos se tornaram frequentes, o roçar sutil dos dedos, um esbarrão aparentemente casual, sempre acompanhados por aquela corrente elétrica que percorria meu corpo, me tornando ainda mais consciente de sua proximidade. Quando ele se aproximava, sua presença me envolvia por completo. Era algo quase palpável, que fazia minha respiração hesitar e meus sentidos despertarem. Eu sentia cada detalhe, o tom baixo e envolvente de sua voz, o perfume que parecia se prender à minha pele, a maneira como sua simples existência tornava o ambiente menor, mais quente. Nessas horas, eu me obrigava a controlar os pensamentos que irrompiam sem permissão, a intrusão dos desejos que ele me despertava. Eu sempre mantive meu interesse por ele escondido, não ousava nem admitir em voz alta para mim mesmo. O que foi torturante, pois não podia dividi-lo com mais ninguém, tornando cada interação ainda mais intensa. Essas situações que nos aproximavam, pareciam testar aquela linha estipulada por nosso tipo de relação, como um jogo silencioso e arriscado que me deixava à beira do abismo. O desejo queimava dentro de mim, e havia momentos em que meu autocontrole vacilava. Quando isso acontecia, a única saída era me afastar. Saía do ambiente sob qualquer pretexto, respirava fundo e tentava me recompor.
Falando assim, parece que eu era muito sensível e sugestionável, por isso, me permitam relatar um ou dois acontecimentos anteriores ao fato que realmente quero contar, para exemplificar a intensidade que, por vezes, permeava nossa interação.
Já fazia um pouco mais de um ano que eu havia entrado para o escritório. Estávamos revisando o processo de Compliance de uma multinacional que havia aberto sua primeira filial no país. Como da primeira vez, passamos a varar noites debruçados nesse projeto. Nosso prazo era muito curto, pois a empresa tinha urgência em iniciar suas atividades, mas queria essa parte regulamentada antes. Eu já havia me acostumado com as reuniões até mais tarde, mas dessa vez, estendemos até as 03:00 horas da manhã. Era madrugada de sexta para sábado e fomos até mais tarde para, justamente, não trabalharmos no fim de semana. Eu estava exausto nesses dias, pois era semana de provas e calhou de eu não ter avaliação nesse dia, por isso, acompanhei a reunião. Após o encerramento, fui a minha mesa pegar minha bolsa e aproveitei para chamar um carro de aplicativo. Matt e Thomas passaram por mim se despedindo. Andrew estava em sua sala. Eu peguei minhas coisas e fui para o hall, ainda aguardando que algum carro respondesse. O elevador estava demorando e enquanto esperava, aproveitei para responder algumas mensagens. Andrew parou na minha frente, apertando o botão do elevador.
Andrew – Por que não chamou o elevador?
Eu – Pensei que tivesse chamado, estou tão cansado que não percebi. Obrigado.
Ele sorriu. Mesmo após uma semana exaustiva e um dia interminável, aquele homem continuava impecável. Meu olhar caiu involuntariamente para baixo, onde os músculos de suas coxas eram destacados pela calça social azul-marinho, cada detalhe perfeitamente delineado. Subindo o olhar, pude notar os contornos sutis de seu abdômen sob a camisa social branca, que parecia moldada ao seu corpo. Engoli em seco, sentindo o calor subir pelo rosto. O som do elevador chegando ao andar me trouxe de volta à realidade, e quando olhei para ele, percebi que segurava a porta, um sorriso malicioso brincando no canto de seus lábios. Baixei os olhos antes de entrar, escorando-me no fundo do elevador enquanto tentava recuperar o bom senso. Ele apertou o botão da garagem e se posicionou dois passos à minha frente, deixando-me com uma visão privilegiada de suas costas largas e da perfeição de sua bunda, que a calça social realçava de forma quase cruel. Naquele momento, pensei seriamente em pedir demissão. Trabalhar ao lado de um homem assim, todos os dias, estava sendo um verdadeiro teste para minha sanidade. Eu apertei o botão do térreo e ele me encarou, uma sobrancelha levantada, questionando minha ação.
Eu – Vou esperar o carro na entrada.
Andrew – Cancele a corrida, eu te levo.
Eu – Não consegui um carro ainda, mas não é necessário, posso esperar. Andrew me encarou. Seu olhar era sério e impositivo. Eu baixei o olhar, cancelando a corrida. – Obrigado.
Chegamos ao estacionamento e ele segurou a porta esperando que eu saísse. Andamos até seu carro e ele o destrancou, abrindo a porta do passageiro para mim. Eu me sentei e ele fechou a porta, contornando a frente do carro, enquanto afrouxava o nó da gravata. Ele entrou no carro e terminou de tirá-la, colocando-a no banco de trás. Enquanto dava a partida, desabotoava dois botões de sua camisa, revelando um pouco mais de sua pele. Não preciso dizer que estava hipnotizado por aquela cena. Ele buscou meu endereço no aplicativo de navegação e colocou o cinto.
Andrew – Melhor você colocar o cinto também.
Eu – Ahñ?! Claro.
Endireitei-me no banco e coloquei meu cinto, tentando manter a compostura. Ele engatou a marcha e saiu, e eu fiz o possível para me controlar, focando meu olhar na estrada à frente, evitando encará-lo. Mas o trajeto parecia mais longo do que o normal, cada minuto dentro daquele carro estendendo a tensão silenciosa entre nós. O cansaço me venceu, e, sem perceber, acabei cochilando. A última coisa que me lembro antes de apagar foi o ronronar suave do motor e o perfume sutil que impregnava o espaço ao meu redor. Quando acordei, já estávamos em frente ao meu prédio. Pisquei algumas vezes, desorientado, e encontrei Andrew me observando. Seus lábios estavam curvados em um sorriso doce, mas havia algo a mais ali, uma ponta de malícia e um brilho intenso nos olhos castanhos que me fizeram prender a respiração. Ajeitei-me rapidamente, lutando contra a vergonha que subiu quente pelo meu rosto. Tentei tirar o cinto, mas não conseguia abrir o fecho. Antes que eu pudesse insistir, ele se inclinou em minha direção, soltando meu cinto de segurança, sem desviar o olhar. Sua proximidade me fez congelar no lugar. Ele não recuou. Pelo contrário, aproximou-se ainda mais, até que nossos rostos ficaram a poucos centímetros de distância. Sem dizer nada, ele ergueu a mão e passou o polegar pelo canto da minha boca, limpando um resquício de sono com seu polegar. Minha pele formigou com aquele toque, como se todas as células do meu corpo tivessem despertado ao mesmo tempo.
Andrew – Você está muito cansado, mesmo dormindo por alguns minutos, foi um sono profundo, que até te fez babar. Eu coloquei a mão em meu rosto, limpando o local, mortalmente envergonhado pela cena. Andrew sorriu. – Você fica uma graça quando dorme. E mais fofo ainda quando envergonhado.
Senti meu rosto queimar. A proximidade daquele homem e o que acabara de dizer, me fizeram corar, como uma adolescente. Num impulso, abri a porta do carro e murmurei um agradecimento apressado, evitando seu olhar a todo custo. Sem me dar tempo para hesitar, saí em disparada em direção à portaria do meu prédio, quase tropeçando nos próprios passos. Meu corpo estava em chamas, e minha mente, um caos absoluto. Estava consternado. Apesar de ter sido apenas um breve toque, foi íntimo e intenso. Sua fala, à primeira vista casual, foi carregada de malícia e solicitude, empregando um significado oculto. Não dormi naquela noite. Me virei na cama incontáveis vezes, relembrando cada detalhe daquele encontro no carro, cada olhar, cada nuance do seu toque. Acho que foi ali que percebi, pela primeira vez, que minhas fantasias estavam beirando a realidade. O que me salvou, me dando tempo para pensar e organizar meus pensamentos e emoções, foi o fim de semana. Enterrei-me nos estudos, tentando usar a rotina como distração, buscando qualquer coisa que me afastasse da tentação que seu toque e sua presença despertaram em mim. Na segunda-feira Andrew agiu como se nada tivesse acontecido, me tratando como habitualmente fazia.
Os toques e as aproximações continuaram acontecendo, mas de uma forma mais sutil, quase imperceptível para quem não estivesse atento. Pequenos gestos, roçares de dedos, a proximidade calculada que parecia casual, mas nunca era. Eu me pegava observando-o, absorvendo cada detalhe de sua figura e, muitas vezes, era retribuído. Andrew nunca desviava primeiro. Seu olhar permanecia fixo, intenso e inquisitivo, como se estivesse esperando algo, testando minha resistência. E, inevitavelmente, eu sempre era o primeiro a desviar o olhar, como se fugir daqueles olhos intensos e penetrantes fosse a única forma de manter o controle. Esse jogo silencioso continuou ao longo dos meses seguintes do estágio. Mas, com o tempo, aprendi a lidar com as emoções e sensações que sua simples presença evocava em mim. Ou, pelo menos, aprendi a escondê-las melhor.
Faltando dois ou três meses para o fim do meu estágio, nossa equipe saiu para jantar e comemorar um grande contrato recém-fechado com uma renomada indústria alimentícia. Andrew havia feito o convite, um gesto de reconhecimento pelo trabalho árduo e a dedicação de todos. Além dos advogados, os assistentes também estavam presentes, tornando a noite ainda mais animada. Matt e Thomas, sempre os primeiros a garantir a diversão, pediram algumas bebidas, com o aval de Andrew. Entre elas, uma garrafa de whisky e outra de saquê foram colocadas sobre a mesa, e os copos começaram a se encher com frequência. Entre conversas sobre trabalho, risadas, comida e álcool, as horas passaram sem que eu percebesse. Matt, atento, certificava-se de que ninguém ficasse com o copo vazio e eu, sem muita resistência, deixei-me levar pelo clima da noite.
Eu havia bebido um pouco a mais e estava ligeiramente embriagado. Me recordo de Andrew sair em direção ao banheiro e Matt ter me servido mais uma dose de whisky. Sem pensar, virei o copo em um único gole, sentindo o líquido quente descer queimando pela garganta. Algo dentro de mim, provavelmente a coragem etílica, fez com que eu me levantasse e fosse atrás dele. Meus filtros estavam praticamente inexistentes naquele momento e o desejo, a necessidade de saber tomaram conta de mim. Precisava entender por que Andrew sempre me provocava, sempre testava meus limites. Sim, estava caminhando para uma situação que eu me arrependeria depois, mas naquele momento o álcool estava comandando. Entrei no banheiro e, assim que fechei a porta atrás de mim, dei de cara com ele. Andrew estava diante da pia, lavando as mãos. Ao notar minha presença, ergueu o olhar, encontrando o meu através do reflexo do espelho.
Eu – Por que você faz isso? Por que você se aproxima assim? Por que seu olhar tem que ser tão intenso?
Andrew se virou, uma ponta de sorriso brincando em seus lábios, carregada de algo entre diversão e malícia. Eu avancei alguns passos e tropecei. Antes que pudesse cair, senti suas mãos firmes me segurarem, meu corpo colidindo contra o seu. Seu peito foi meu ponto de apoio, enquanto seus dedos deslizaram para minha cintura, mantendo-me perto. Sua respiração estava próxima demais, seus lábios a meros centímetros dos meus. O olhar intenso que ele me lançou me fez perder o ar. Antes que eu pudesse reagir, ouvi vozes que se aproximavam da porta. O som da maçaneta girando nos alertou. Num movimento rápido, Andrew me puxou para dentro de um dos boxes do banheiro, fechando a porta atrás de nós. Seu corpo estava ainda mais próximo ao meu. O calor que irradiava dele, combinado com a fragrância de seu perfume, nublou completamente meus pensamentos. Eu ainda queria uma resposta, ainda queria confrontá-lo, mas antes que pudesse abrir a boca, senti seus dedos tocarem meus lábios, silenciando-me, enquanto mantinha a outra mão em minha cintura. A conversa do lado de fora confirmou que eram Matt e um dos assistentes, rindo e comentando sobre o novo contrato. Andrew manteve os olhos fixos nos meus, um aviso silencioso para que eu permanecesse calado. Seu toque era firme, autoritário, mas sem agressividade. Depois de alguns segundos, ele retirou a mão da minha boca, deslizando-a devagar até meu quadril. Eu continuei a encará-lo, desafiando-o. Não ia ceder dessa vez. Andrew sorriu. Mas aquele não era um sorriso qualquer, era malícia pura, o desejo estampado em seus lábios perfeitamente contornados. A tensão entre nós se tornou insuportável e, antes que pudesse me conter, encostei meus lábios nos dele. Talvez não tenha sido um beijo propriamente dito, apenas um breve toque. Mas foi o suficiente para a realidade me atingir. Percebi o que estava fazendo e tentei me afastar. Ele, no entanto, não me soltou. Seu aperto em meu quadril se intensificou, mantendo-me preso em seus braços. O olhar que me lançou era intenso, faminto. Então, era sua vez de me beijar. Dessa vez, foi um beijo de verdade. Seus lábios eram ávidos, sua língua exigindo passagem com uma ousadia que me deixou sem fôlego. Ainda enebriado pelo álcool e pelo momento, cedi. Enlacei seu pescoço, aprofundando o beijo, entregando-me ao desejo que há tempos me consumia. As mãos dele começaram a explorar meu corpo, deslizando até minha bunda. Seus dedos apertaram com vontade, me fazendo arfar. Andrew afastou-se apenas alguns centímetros, o suficiente para que eu visse a mudança em seu olhar, agora mais escuro, carregado de desejo. Foi quando a porta do banheiro se abriu novamente. A voz de Matt ecoou pelo espaço, interrompendo o momento e nos trazendo de volta à realidade.
Matt – Achei que Andrew havia dito que viria ao banheiro...
Ficamos em silencio absoluto, Andrew me encarava, seus olhos carregando algo que eu não conseguia decifrar. Meu peito subia e descia em um ritmo acelerado, ainda tomado pelo turbilhão do que acabara de acontecer. Matt fechou a porta e Andrew finalmente se afastou, ajeitando minha camisa e abrindo a porta do box. Saí, caminhando até a pia, encarando meu reflexo e me apoiei na borda fria da bancada. Minha respiração ainda estava descompassada e minha pele queimava, não apenas pelo álcool, mas pela lembrança do toque de Andrew, do seu beijo, do desejo que ele não tentou esconder. Ele encontrou meu olhar pelo espelho antes de sair do banheiro, e sorriu. Um arrepio de desejo e prazer subiu por minha espinha. Respirei fundo, tentando recobrar a sanidade. Inclinei-me sobre a pia e lavei o rosto algumas vezes, na esperança de reduzir a vermelhidão do meu rosto e, com sorte, apagar as marcas invisíveis daquele momento.
Quando achei que estava minimamente apresentável, voltei para o salão do restaurante. Andrew já estava sentado em seu lugar ao lado de Matt, conversando como se nada tivesse acontecido. Sua postura era impecável, a expressão relaxada, como se o episódio no banheiro não passasse de uma ilusão minha. Segui para meu lugar, do outro lado da mesa, ainda sentindo meu rosto quente. Vic me perguntou se eu estava bem, pois estava muito vermelho. Pisquei algumas vezes antes de responder, tentando soar despreocupado, dizendo que era apenas o efeito da bebida. Não sei se fui convincente, mas ela não insistiu. Desviei o olhar, tentando ignorar a sensação de que alguém me observava. Mas quando olhei de relance para o canto onde Matt e Andrew conversavam, lá estava ele. Andrew me encarava. A ponta de um sorriso brincava em seus lábios, carregada daquela mesma malícia que já me era familiar. O calor tomou conta de mim novamente e eu decidi que era hora de encerrar. Alguns colegas já haviam partido e achei melhor fazer o mesmo. Me levantei e me despedi, saindo rapidamente. O ar frio da noite foi bem-vindo, aliviando o calor que me consumia. Respirei fundo, tentando acalmar os pensamentos caóticos em minha mente. Chamei um carro, que respondeu quase que imediatamente. Assim que entrei no banco de trás, afundei no assento, exausto. Meu cérebro girava, tentando encontrar uma explicação racional para tudo aquilo. Só havia uma possibilidade, eu devia estar sonhando. Nada daquilo poderia ter sido real. Tudo era uma criação da minha imaginação. Quando cheguei em casa, joguei-me na cama. Eu precisava esquecer. Ou, pelo menos, tentar.
No dia seguinte não sabia como agir. Embora estivesse embriagado quando nos beijamos, cada detalhe daquela noite permanecia gravado em minha mente com uma nitidez perturbadora. Eu lembrava do toque firme de Andrew em minha cintura, da forma como seus lábios exigiram os meus, do calor de suas mãos explorando meu corpo. E se eu me recordava de tudo com tamanha clareza, ele, sóbrio, provavelmente lembrava ainda mais. Cheguei no escritório e me sentei em minha cadeira, evitando olhar para a sala de Andrew. Mas ele não estava, tinha uma reunião externa, como Vic me avisara quando chegou. Soltei um suspiro aliviado, poderia respirar mais tranquilamente, pelo menos, até a hora em que ele chegasse. Joguei-me no trabalho, fugindo das minhas lembranças que insistiam em voltar, cada vez mais vívidas. O resto do dia passei sem avistá-lo, ele não retornou ao escritório. Em seguida veio o final de semana. E, na semana seguinte, quando ele retornou ao escritório, seu comportamento foi absolutamente profissional, como se nada houvesse ocorrido naquele banheiro do restaurante. E assim se seguiu as demais semanas, com ele se mantendo a uma distância segura. Foi Matt que me contou que Andrew precisou tirar uns dias e que aproveitou o período de tranquilidade que estávamos passando no escritório. Meu contrato se encerraria em menos de duas semanas, então, não o veria mais. Cheguei a considerar que era um alívio não precisar me despedir dele, mas Vic me contou que ele estaria presente no meu último dia de trabalho.
***
Meu último dia de estágio chegou rápido. Ainda lidando com os detalhes da minha contratação no novo escritório e as últimas entregas da faculdade, aquele era um dia muito importante para mim. Eu aprendi mais do que poderia imaginar com aquela equipe o que me possibilitou assumir a responsabilidade da área de Compliance no escritório para o qual eu estava entrando. Acho que vocês estão curiosos para saber por que não continuei no mesmo escritório... Eu recebi uma proposta para atuar como advogado júnior, mas não ficaria na mesma equipe, pois não havia vaga em Compliance. Além disso, essa nova oportunidade me permitiria montar a equipe, que seria menor, mas ficaria sob minha responsabilidade. Então resolvi encarar esse novo projeto. Mas voltando para meu último dia...
Quando cheguei ao escritório, fui surpreendido por Vic e os outros assistentes com um bolo e alguns cartões em minha mesa. Vic me felicitara pelo meu novo ciclo e exprimia sua chateação por não me ter mais na equipe. Ela sempre foi muito amável, paciente nos ensinamentos e generosa em sua ajuda durante esses dois anos. Eu agradeci a todos e voltei ao trabalho, ainda tinha algumas pendências para concluir antes de finalmente encerrar minha jornada ali. Matt e Thomas me levaram para almoçar, como um presente pela minha formatura e pelo emprego novo. Durante o almoço, Matt reclamou de Andrew, que deveria estar ali, para se despedir também. Segundo ele, Andrew teve uma emergência e precisou de mais um dia de folga. Tentei manter a expressão neutra, mas a verdade era que sua ausência me incomodava mais do que eu gostaria de admitir. Apesar de ainda me sentir desconfortável, tímido talvez, por conta do que ocorrera naquele jantar, eu queria que ele estivesse ali. Senti sua falta esses dias, e agora que a derradeira hora chegou, a ideia de não o ver mais com frequência pesava mais do que eu esperava. Eu queria vê-lo uma última vez antes de partir. O almoço se estendeu por algumas horas, com Matt e Thomas me dando vários conselhos valiosos e se dispondo a me ajudar no que fosse necessário. Matt contava a Thomas que o escritório que me contratou estava em expansão e vinha em uma crescente desde sua abertura, podendo se tornar, em alguns anos, um dos grandes escritórios do país.
Matt – Andrew não tem bons modos, mas é um cara legal. Ele tentou conseguir uma vaga para você como advogado em nossa equipe, mas os sócios consideram que ainda não é o momento para expandirmos nossa equipe. Você sabia que foi ele quem te indicou para a vaga? Eu me surpreendi e neguei com a cabeça. Matt sorriu. – Ele estudou com o CEO daquele escritório e te indicou pessoalmente.
Eu – Pensei que tinha sido uma indicação sua.
Matt negou com a cabeça. – Eu só cuidei das papeladas e te preparei para a entrevista, a pedido do nosso amável chefe.
Eu estava surpreso e chocado. Não imaginava que ele seria capaz de me conseguir uma vaga como essa. Depois de um delicioso almoço, com ares de despedidas e promessas de mantermos contato, voltamos para o escritório. Como não havia contratos em andamento, a equipe iria sair mais cedo, as 16:00 horas. Aproveitei o restante do tempo para encaixotar minhas coisas e me despedir de outros colegas. Vic e os assistentes se despediram de mim, me desejando sorte no novo escritório. Matt e Thomas estavam em uma reunião com outra equipe, para auxiliar em alguns processos. Eu já me despedira deles. Peguei minhas coisas e saí, dando uma última olhada no escritório. Um misto de nostalgia e rompimento pesava sobre meus ombros, mas era hora de encerrar. Segui até o elevador e pressionei o botão, aguardando sua chegada. Tentava equilibrar a caixa com uma mão, apoiando-a em meu corpo, enquanto usava a outra para chamar um carro. O elevador chegou e me assustei com o barulho, deixando a caixa cair, espalhando meus pertences pelo chão.
Soltei um suspiro frustrado e me abaixei rapidamente para recolhê-los. Antes que eu conseguisse juntar tudo, um par de mãos surgiu, ajudando-me. Agradeci, levantando o olhar para encontrar Andrew na minha frente. Ele estava lindo. Vestia uma camisa de linho preta, casualmente desabotoada no topo, as mangas dobradas até os cotovelos, revelando os antebraços definidos. O jeans claro contrastava perfeitamente com os sapatos pretos. Seu cabelo estava penteado para trás, deixando-o mais jovial ainda. E então, o golpe fatal, seu perfume. Aquele perfume tão familiar, tão inebriante, me envolveu antes mesmo que eu pudesse me recompor. Engoli em seco e me apressei a terminar de recolher minhas coisas, forçando minha mente a se concentrar na tarefa. Andrew me estendeu um porta-retrato, seus dedos roçando brevemente nos meus. Foi o suficiente para que causasse arrepios em minha pele. Ele me ajudou a me levantar, sua mão se demorando sobre a minha, enquanto apoiava a caixa.
Andrew – Você já está de saída? Eu assenti, incapaz de emitir qualquer palavra. Queria tanto vê-lo, e agora não sabia como agir. – E você estava pedindo um carro?
Eu assenti novamente, mantendo meu olhar baixo, não conseguia encará-lo. A lembrança de todo o flerte, todos os toques, o gosto do beijo... tudo me invadiu de uma vez. Não podia olhar para ele. Mas conseguia sentir a intensidade de seu olhar em mim. Ficamos por alguns instantes em silêncio, o ar carregado pelas coisas não ditas. Ouvimos as vozes de Matt e Thomas que voltavam para o escritório. Andrew abriu a porta da escada de incêndio que ficava próxima ao elevador e me puxou para dentro com ele. Após fechar a porta, pegou a caixa de minha mão e colocou no chão. Eu encostei na parede, ainda olhando para o chão, tomado pela surpresa daquela ação. Andrew se aproximou de mim, me fazendo sentir o calor do seu corpo, a energia entre nós. Sua mão deslizou até meu queixo, seus dedos roçando minha pele com delicadeza antes de erguer meu rosto. Meu coração acelerou. Eu suspirei e, finalmente, o encarei.
Andrew – Você já assinou a rescisão do seu contrato?
Eu assenti. Ele não disse mais nada. Seus lábios encontram o meu, a urgência e o desejo o guiando. Eu me entreguei. A lembrança do nosso beijo não fazia jus à realidade. A forma como sua boca me consumia, como me tomava por inteiro, era ainda mais arrebatadora do que eu me lembrava. Suas mãos passaram a percorrer pelo meu corpo, encontrando minha pele, despertando arrepios por onde passavam. O calor dele se misturou ao meu, e por um momento, esqueci-me de tudo. De onde estávamos. De qualquer resquício de hesitação. Ofegante, me afastei em busca de ar.
Andrew – Faz dois anos que quero você! Desde aquela entrevista para o estágio.
Eu o encarei. – Você...
Andrew sorriu, enquanto beijou levemente meus lábios. – Eu estava na sua entrevista. A vontade de aprender, o entusiasmo em seu olhar, me chamou a atenção. Mas mais ainda, me interessei por você assim que você entrou naquela sala. Se você não tivesse escolhido a minha equipe, já teria tentado algo muito antes. Naquele dia, no banheiro, eu quase não me segurei. Mas agora, não preciso me segurar, não sou mais seu chefe.
Ele voltou a me beijar, sua língua traçando um caminho lento e provocador pelos meus lábios antes de mergulhar em um beijo mais profundo, exigente. Seu toque era pura fome, incendiando cada célula do meu corpo. Suas mãos deslizaram para dentro da minha calça, o toque de seus dedos fazendo meu corpo estremecer. Eu não tinha intenção de me refrear. Queria mais. Precisava de mais. Minhas mãos se afundaram em seus cabelos, puxando-o para mais perto, aprofundando o beijo, fazendo-o arfar. Desci os lábios para seu queixo, mordiscando-o suavemente, sentindo sua respiração acelerar. Meus dedos exploraram sua pele, desenhando o contorno de seus músculos, descendo por seu abdômen, memorizando cada curva. Com a boca, tracei um caminho quente por seu pescoço, deslizando os lábios sobre seu pomo de adão e continuando até a curva atrás de sua orelha, onde o senti estremecer sob meu toque. Foi quando ele intensificou a pegada, arrancando um gemido dos meus lábios. Eu continuei, abri sua camisa, percorrendo seu peito com meus beijos. Minha língua brincou com seu mamilo, enquanto meus dedos desciam para sua cintura, abrindo o botão de sua calça. Ele me deteve.
Andrew – Tem certeza de que quer continuar aqui?
Eu – Quero você desde o dia que te vi na fotocopiadora, não vou esperar nem mais um minuto.
Dizendo isso, abri sua calça e comecei a acariciá-lo lentamente, arrancando um gemido rouco de seus lábios. Andrew inclinou-se, sua boca buscando a minha em um beijo intenso, urgente. Enquanto continuava a provocá-lo com as mãos, voltei a percorrer seu corpo com a boca. Seu abdômen era uma verdadeira escultura, cada músculo perfeitamente desenhado sob a pele quente. Sob a camisa, uma verdadeira obra de arte. Minha língua traçou um caminho pelo seu torso, contornando cada linha até alcançar a região inguinal, fazendo sua respiração ficar ainda mais pesada. O “V” bem marcado em sua pele direcionava meu olhar para onde eu mais queria estar. A visão era pura luxúria. Sem desviar meu olhar do dele, passei a língua lentamente pela ponta, saboreando-o. Andrew estremeceu, sua mão se enterrando em meus cabelos. Já ajoelhado, comecei a chupá-lo, alternando entre movimentos profundos e provocantes lambidas que percorriam toda a sua extensão. Minha mão acompanhava o ritmo, acelerando aos poucos, arrancando dele gemidos cada vez mais intensos. Seu corpo tensionou, estremecendo mais uma vez. E ele me parou, me erguendo e me puxando para um beijo.
Andrew – Assim você me fará gozar.
Ele me virou, me apoiando contra a parede. Seu corpo quente colou-se ao meu enquanto seus lábios percorriam minha nuca, deixando beijos molhados e mordiscadas suaves. Seus dedos exploravam meu abdômen, subindo lentamente até meu peito, provocando-me ao brincar com meu mamilo. Ele levantou minha camisa e continuou sua jornada com a boca. Beijos e lambidas desciam lentamente pela minha coluna, arrancando de mim um arrepio intenso. Meu corpo já estava à beira do abismo, apenas com seus toques e seus lábios. Senti seus dedos abrindo minha calça. Com um único movimento, ele a desliza para baixo, seus lábios descendo logo em seguida. O primeiro contato de sua boca em minha pele, já sensível, me fez arfar. Sua língua explorando cada curva enquanto seus dentes provocavam mordiscadas sutis em minha bunda. Eu me entreguei, perdido naquele prazer avassalador. Avisei que se continuasse eu iria gozar. Sem hesitar, Andrew me virou de frente para ele, seu olhar carregado de desejo. Sua boca envolveu meu pau, me arrancando um gemido rouco e urgente. “Meu Deus! Que boca gulosa!” Foram apenas duas chupadas, e eu perdi o controle, deixando um gemido escapar, ecoando pela escada. Andrew se levantou rapidamente e, com um sorriso de satisfação, tampou minha boca com a mão, abafando qualquer som que pudesse nos denunciar. Mas seus lábios não me deram trégua, descendo por meu pescoço, deixando rastros de prazer por onde passavam. Sem desviar o olhar do meu, ele deslizou dois dedos em minha boca. Eu os suguei lentamente, provocando, enquanto via seus olhos escurecerem ainda mais. Ele se afastou, sentando-se na escada. Seu olhar intenso, fazendo o convite silencioso. Eu dei alguns passos até alcançá-lo. Ele me puxou, sentando-me em seu colo.
Eu – Quero você! Quero você dentro de mim!
Seu olhar brilhou ainda mais, fome e desejo consumindo-o por inteiro. Sem hesitar, ele me posicionou e me puxou para si, entrando de uma só vez. Eu fiquei sem ar. Meu corpo se retesou por um instante, a dor dando lugar a uma onda avassaladora de prazer. Um prazer que me incendiava de dentro para fora. Andrew chupou meu mamilo, sua língua quente e voraz intensificando ainda mais a sensação. Suas mãos ávidas, exploravam meu corpo, apertando minha pele com uma necessidade crua e urgente. Cada estocada era mais intensa que a anterior. Eu estava completamente entregue. Ele me possuía como se aquela fosse sua última chance de me ter, como se o mundo lá fora não existisse. E, naquele instante, realmente não existia. Meu corpo começou a estremecer, aquela tensão deliciosa se acumulando, anunciando o inevitável. O prazer subiu como uma onda arrebatadora, tomando cada nervo do meu corpo, até que explodi em um orgasmo tão intenso que me fez perder o controle. Um gemido alto escapou dos meus lábios, ecoando pela escada. Andrew não parou. Em vez disso, me puxou para um beijo profundo e possessivo, abafando qualquer outro som enquanto intensificava ainda mais seus movimentos. Poucos instantes depois, senti seu corpo tensionando sob o meu, se entregando completamente ao prazer e gozando com um gemido rouco contra minha boca. Eu deixei o peso do meu corpo cair sobre ele, que agora se apoiava na escada. Ele sorriu para mim e me deu mais um beijo, agora mais demorado e terno, explorando vagarosamente meus lábios, enquanto acariciava meus cabelos.
Andrew – Valeu esperar esses dois anos.
Eu – Por que você esperou?
Andrew riu. – Somos do Compliance, se eu não seguir as regras, como vou cobrar os demais de segui-las? Eu o encarei, sem entender. – Sabe que não pode haver relacionamentos entre líderes e subordinados em nosso escritório, por conta de assédio moral e sexual...
Eu – Apesar de eu saber, isso nunca havia passado pela minha cabeça. A minha única preocupação era você rejeitar meus avanços, por isso nunca tentei.
Andrew me encara, um sorriso malicioso despontando em seus lábios. – Então quem foi que me atacou naquele jantar da empresa?
Eu – Eu não te ataquei! Nossos lábios só se encontraram, por alguns instantes.
Andrew riu. – Benditos instantes. Se não fosse Matt, teria te comido ali mesmo.
Eu – Não teria. Eu sei que você é muito sério em relação as regras.
Andrew – Mas naquela noite eu tinha deixado tudo de lado. Depois agradeci por Matt ter nos interrompido. Ele continuou acariciando meu cabelo e me deu outro beijo. – Como você se sente?
Eu ri. – Realizado, mas ainda não estou satisfeito.
A fome atravessou o olhar de Andrew novamente. – Vamos sair daqui, também não estou satisfeito ainda.
Nos ajeitamos o melhor que pudemos e descemos um lance de escada, não queríamos encontrar com algum colega da equipe. Seguimos para a garagem e entramos no carro. Eu comecei a digitar meu endereço no aplicativo, que completou a informação sozinho.
Andrew sorriu. – Não apaguei desde que te dei a primeira carona.
Eu o beijei mais uma vez e coloquei o cinto. O trânsito estava horrível e um trajeto que ele levava menos de dez minutos para percorrer, já ultrapassava os vinte minutos e não tínhamos percorrido nem a metade do caminho. Eu queria mais, queria tocá-lo e beijá-lo. Escorreguei minha mão por sua coxa, acariciando-a. Ele manteve os olhos no trânsito, os lábios apertados. Deslizei minha mão para seu pau, acariciando-o sobre a calça. As janelas escuras estavam fechadas, nos dando toda a privacidade que eu precisava. Puxei o meu cinto, me aproximando dele, beijando seu pescoço. Desabotoei sua calça, avançando com minha mão. Ele já estava duro novamente. O percorri com meus dedos, segurando-o firme, masturbando-o. Andrew soltou um palavrão logo após gemer, se virando para me beijar. Eu não deixei.
Eu – Se concentra na estrada, enquanto eu me concentro em você. Mas se demorar muito eu terei que te chupar aqui mesmo, no trânsito.
O sorriso malicioso voltou aos lábios de Andrew quando ele finalmente conseguiu mudar de faixa, dirigindo com mais liberdade agora. Seu olhar carregava um brilho de triunfo, e eu não perdi tempo, mantendo minhas carícias enquanto meus lábios percorriam seu pescoço, sentindo seu cheiro e sua pele quente sob minha boca. Em poucos minutos chegamos ao meu prédio e consegui rapidamente uma permissão para que ele usasse uma das vagas disponíveis, subindo imediatamente para meu apartamento. Mal tive tempo de girar a maçaneta. Assim que a porta se abriu, Andrew me pegou no colo, minhas costas encontrando a parede com impacto. Seu beijo veio voraz, exigente, explorando meus lábios, meu queixo, descendo por meu pescoço com mordidas e chupadas que me fizeram perder o ar. Eu bato a porta e entrelaço seu pescoço, enquanto ele segue para o sofá.
Assim que me colocou ali, começou a se livrar das minhas roupas, seus lábios quentes traçando um caminho de desejo por cada centímetro exposto. Suas mãos lascivas, percorriam minha pele, apertando-me com avidez, como se quisesse me marcar. Cada toque seu emitindo pequenos choques, pequenas correntes elétricas que atravessavam meu corpo. Ofegante, me virei, ajoelhando no sofá e me apoiando no encosto. Andrew permaneceu de pé atrás de mim, suas mãos deslizando por minhas costas até meus quadris, puxando-me mais para si. Seus lábios roçaram meu ombro, um toque suave em contraste com seu próximo movimento. Ele me penetrou de uma vez, profundo e certeiro. Um gemido escapou dos meus lábios, abafado contra o tecido do sofá. Suas mãos se cravaram em meu quadril enquanto ele aumentava o ritmo, suas estocadas ficando mais intensas, mais fundas. O controle já não existia mais. Eu senti seu corpo retesar atrás de mim, sua respiração cada vez mais acelerada contra minha pele. Ele estava chegando ao ápice e sua mão deslizou até meu pau, envolvendo-o, sincronizando seus movimentos.
Andrew – Goza comigo!
Aquela voz grave, me comandando em um sussurro, me fez arfar, e na próxima estocada gozei, com ele gozando quase que ao mesmo tempo. Ele se jogou no sofá, me puxando para ele. Suas mãos percorrendo minhas costas, em um vai e vem delicado e aconchegante. Adormecemos assim. Posso dizer que esse foi um dos melhores finais de semana da minha vida. Andrew ficou em meu apartamento naqueles dois dias, o que me permitiu conhecer cada pedacinho de seu corpo.
E foi isso... Dois anos de tesão reprimido pelo meu chefe, consumado em um final de semana que começou na escada de incêndio do escritório onde eu trabalhava... Eu sei, eu sei! Vocês querem saber o que aconteceu depois... Nós tivemos um breve romance, que acabou sendo interrompido por muitos compromissos de trabalho e minha mudança para outro estado. Mas nossa amizade continuou e, sempre que nos encontramos, a colorimos um pouco mais...
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Atualizado até capítulo 22
Comments
ღPastille 🍬
Isso que é profissional
2025-05-04
1
ღPastille 🍬
pensei merd4
2025-05-04
1
Kellyla Nunes
Quanto fogo acumulado...
2025-03-21
2