Na movimentada rua do mercado, um alvoroço tomou conta da cena. Um garoto corria com todas as suas forças, seus pulmões ardendo a cada passo, uma pequena sacola de pães firmemente apertada em seu peito. Atrás dele, um homem baixo e rechonchudo o seguia, gritando e gesticulando como se estivesse em uma corrida desesperada.
Gael, com suas roupas rasgadas e uma determinação indomável, se esgueirava pelas vielas estreitas, contornando barracas e se esquivando de transeuntes. A adrenalina pulsava em suas veias, e, por um momento, a fome e o medo se dissipavam, substituídos por uma única ideia: salvar o que havia conseguido.
Pensamentos sombrios passavam por sua mente; ele havia cogitado desistir da vida muitas vezes. Mas, ao lembrar-se de Lia, sua irmãzinha, a única razão pela qual ainda lutava, a determinação retornava. Viver, apesar de tudo, era a única opção.
Finalmente, em um lugar remoto da cidade, onde apenas humanos de classe inferior, principalmente professores, habitavam, Gael alcançou sua casa improvisada. Era uma construção precária, feita de tábuas desgastadas e lonas puídas. A caminhada do mercado até ali era sempre longa e cansativa, e a chuva insistente tornava tudo mais difícil. Contudo, ao olhar para Lia, envolta em seu pedaço de lençol, a esperança ressurgia em seu coração.
— Gael, você demorou dessa vez. Eu fiquei com medo — disse Lia, seus olhos grandes e preocupados.
— Desculpe, Lia! Mas olha o que eu trouxe! — Gael exclamou, exibindo a sacola. — Pães fresquinhos do mercado! Eu sei que você gosta.
— E você não vai comer? — a pequena perguntou, sua voz refletindo uma inocente preocupação.
— Não se preocupe comigo. Sou bem resistente à fome — respondeu ele, tentando esconder a verdade.
Nesse momento, o estômago de Gael roncou, denunciando sua mentira. Lia riu, uma risada leve que trouxe um momento de alívio em meio às dificuldades.
— Mentiroso! Toma um pelo menos — insistiu, estendendo-lhe um dos pães.
Ele hesitou, mas a doçura do gesto a fez aceitar. A bondade de sua irmã sempre o tocava de uma forma que nenhuma dor conseguia apagar. Gael olhou para o pão, depois para Lia, e finalmente decidiu morder um pequeno pedaço, engolindo em seco, enquanto seu coração se aquecia.
A vida não era fácil. Gael se tornara órfão há cinco anos, com a morte prematura de sua mãe logo após o nascimento de Lia. Seu pai nunca chegou a conhecê-la; rumores diziam que ele era um jogador, um enganador que havia iludido uma simples garçonete. Após a tragédia, Gael se viu sozinho. Ninguém queria assumir a responsabilidade de cuidar de duas crianças da classe inferior, pois, segundo eles, só seriam um peso morto.
Assim, ele lutava todos os dias para sobreviver, não apenas por si mesmo, mas pelo bem da sua irmã. Cada dia era um novo desafio, uma batalha constante contra a fome e a miséria. Ele sonhava com um futuro melhor, um lugar onde não precisassem mais viver nas sombras da cidade, onde a esperança não fosse apenas uma palavra vazia.
Enquanto eles compartilhavam o pão, o olhar de Gael se fixou na janela, perdida na escuridão da noite. Ele sabia que havia mais do que aquele mundo ao seu redor. Havia lendas de criaturas poderosas, de magia e de mudanças, e ele se perguntava se, algum dia, poderia escapar daquela vida limitada. Mas por enquanto, sua prioridade era Lia, e tudo o que fazia era por ela.
— Um dia, Lia — disse ele, mais para si mesmo do que para a irmã. — Um dia, vamos encontrar um lugar melhor. Prometo.
E naquele momento, mesmo em meio à adversidade, um fio de esperança se entrelaçou entre os dois, iluminando a escuridão que os cercava.
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Atualizado até capítulo 84
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