Capítulo 5

NARRADOR ONISCIENTE.

No coração da floresta, o Conselho de Anciãos da alcateia Lupinville se reuniu para deliberar sobre um assunto que diz respeito a todos: "A humana".

No grande salão, um a um os membros do conselho foram tomando seus assentos, posicionando-se estrategicamente ao redor de uma grande mesa de carvalho. No centro da mesa, uma escultura da deusa lua precede a sala, o ambiente está tenso e entre os lobos de maior idade e sabedoria, inicia-se a sessão por Lopin, o principal responsável por ter convocado a reunião.

—José, como pôde ser capaz de trazer uma humana à nossa comunidade, conhecendo as circunstâncias? Sabe o que está em jogo! Os lobos brancos estão sendo aniquilados em diferentes regiões, e agora, de repente, você decide ignorar nossas normas trazendo uma humana ao território. Está expondo não só o seu próprio filho, mas toda a nossa espécie!

—Entendemos que ela é importante para você, —falou Felipe, com mais sutileza —mas o fato de Albert ter sido de grande ajuda nestes anos não justifica nem nos compete o cuidado de sua filha.

—É isso que creem? —consultou José com calma.

—As evidências são claras, José —expressou Valentino —O retorno de Lycaon está próximo, sua maldição recai sobre o sangue de seu filho, e você sabe! Não podemos nos permitir correr riscos desnecessários. Trazer essa jovem aqui, em um momento tão crítico como este, não é algo que podemos ignorar.

—Estimados membros, a predição de Circe foi clara. Não estão vendo além de suas palavras, o que os faz pensar que a humana não poderia ser parte da solução, e não do problema?

—Então, é assim que decidiu honrar a memória de seu amigo? Sacrificando a filha dele? —cuspiu Lopin com frieza —Se permitir que essa humana desperte a verdadeira natureza de seu filho, tem consciência do que desencadeará? —seus olhos se fixaram em José, com a intenção de provocá-lo, mas ele permaneceu impassível—. Essa escuridão que levamos anos contendo o devorará por dentro e todos os nossos esforços para controlá-lo terão sido em vão.

—Conheço melhor do que ninguém o risco.

—Então sabe que o que diz é absurdo! Se ela despertar o que dorme nele, acabará com todos nós! —arremeteu Valentino completamente irritado.

—Acha que não estou consciente da ameaça que meu filho representa?! —respondeu José batendo na mesa, provocando que o som se disperse por toda a sala—. Ninguém melhor do que eu sabe o que significa. Mas se creem que selar sua natureza ou consumar sua união com sua companheira conterá o que ele leva dentro, estão enganados. Nada evitará o inevitável.

—Foram as palavras de Circe, José —advertiu Felipe—Só sua companheira tem o poder de curar sua alma ferida e corrompida pelas mãos dos humanos.

—Decidiu ignorar a outra parte?

—E o que sugere então? —Falou Lupin com um tom profundo e severo —Que permitamos que a humana fique? Sabemos o que a maldição dita, José. Se sua natureza escura despertar, não haverá retorno. Ele não distinguirá entre nenhum de nós.

—Não me subestime, Lupin. Vocês falam da destruição da alcateia como se fosse um fato inevitável, mas também lembrem-se de que essa mesma maldição prediz uma rendição. E essa rendição pode vir da mesma fonte que vocês temem. A humana. Valentino apertou os dentes, completamente frustrado.

—E se estiver errado? Se, em vez de redimi-lo, o transformar no que mais tememos? Parece-me que está tomando decisões baseadas em uma esperança vazia quando o verdadeiro perigo cresce em nossas costas.

—E o que evitou que Lycaon ressurja? Nada. Nem emparelhar Demian desde o nascimento nem manter sua natureza escura adormecida impediu que a ameaça continue crescendo. Nada do que fizemos mudou isso. Se eu estiver errado, o resultado será o mesmo. Mas se eu estiver certo com a humana, não será só uma esperança, mas uma realidade que poderemos utilizar para erradicar definitivamente Lycaon.

—Ainda que isso, em última instância, implique que se desfaça dela?

—Isso não está em discussão! Se algo representa um perigo, não terei receio em destruí-lo. Não importa de quem se trate, nada se interporá no caminho de nossa espécie.

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