Capítulo 4

≈NAOMI≈

Anoche sonhei com um pequeno lobo. Sim, um lobo branco que me olhava oculto em meio a uma plantação de algodão com olhos curiosos. Ao me notar caminhar, em vez de se afastar, me permitiu aproximar e sentir a suavidade de sua pelagem entre minhas mãos. Foi estranho, porque enquanto o fazia, o lobo pareceu se comunicar comigo mentalmente, como se entendesse meus pensamentos e o que estava sentindo…

De repente, a voz de Mariel me tirou do meu transe.

—Acorda, dorminhoca, que chegaremos tarde ao instituto! — me chamou da porta. Sorri ao ouvi-la e, depois de me espreguiçar, me recostei sobre o encosto da cama.

—Bom dia — lhe disse com um sorriso, enquanto a observava deixar um uniforme aos pés da cama. —Vou te deixar trocar de roupa, te espero no refeitório para tomarmos café da manhã juntas. Não demore muito, Demian odeia impontualidade e irá embora sem nós. Assenti enquanto ela retornava à porta e a fechava atrás de si. Assim que me levantei, fui ao banheiro e tomei um banho rápido, deixando que a água quente me despertasse por completo. Ao terminar, troquei de roupa, escovei os dentes e, depois de arrumar o cabelo com um rabo de cavalo, fui ao refeitório onde Mariel já me esperava.

Ao chegar, cumprimentei as mulheres do serviço que estavam ocupadas na cozinha. Ambas se entreolharam com estranheza e começaram a cochichar às minhas costas, perceberam que eu não era uma loba. “Oh, chocolate pela notícia! Não era óbvio?!” Pensei mentalmente, me contendo para não revirar os olhos.

Tentando disfarçar, sentei-me para tomar café da manhã com Mariel e Lesly, que me deu bom dia de maneira calorosa e maternal. Eu gostava dessa mulher.

—Desculpe seu padrinho Naomi, — disse assim que notou que eu o estava procurando com o olhar —José está em uma reunião importante, por isso não nos acompanha neste momento.

—Demian também não — soltou Mariel com a boca cheia, engolindo uma torrada —que não te pareça estranho, não é por sua causa. Ele simplesmente não costuma tomar café da manhã conosco.

—Pensei que era porque não gosto dele. — Mariel e Lesly sorriram. —Ele é algo… relutante com os humanos, mas você verá, depois passa. — disse Lesly me dedicando um sorriso —Como passou a noite? Conseguiu descansar bem? — me perguntou mudando de assunto.

—Sim, obrigada, Lesly. Tudo está perfeito. —Não sabe o quanto me alegra ouvir isso.

"BIP BIP!" se ouviu de repente, o constante som de uma buzina.

—Não pode ser possível… — se queixou Mariel, olhando a hora em seu relógio de mão. BIP BIP!

—Já vou! — exclamou irritada se levantando —Hora de irmos, Nao. Como verá, meu irmão está um pouco impaciente. Adeus, mãe!

—Até logo, senhora Lesly.

—Até breve, meninas. Tenham um bom dia! — disse enquanto nos afastávamos em direção à entrada principal. Ao sair da mansão, Mariel não tardou em se fazer ouvir…

—Qual é o seu problema? — lhe reclamou. Demian me examinou de cima a baixo e respondeu: —Está dizendo além de ter que cuidar da humana? — aludiu me apontando com desdém —Porque, caso não note, tenho assuntos próprios para tratar. Abaixei a cabeça e caminhei até o carro em silêncio. Não é que não tivesse vontade de respondê-lo, mas o fato de ele ser o filho do meu padrinho me limitava a mandá-lo para a puta que pariu…

“Ignore o idiota. Não vale a pena”, me autoconvenci subindo no carro, me acomodando na parte posterior do carro, enquanto ele colocava a chave na ignição e Mariel se sentava ao seu lado.

—Coloque — me ordenou, me olhando pelo espelho retrovisor.

—Perdão? — indaguei franzindo a testa.

—Se refere ao cinto de segurança, — interveio Mariel com um sorriso sarcástico —Desculpe-o Naomi, ele assume que ao dizer “coloque” todos entendemos do que se trata.

Apertei o queixo e, com um movimento brusco, lhe dei o prazer de colocá-lo. Ele esboçou um sorriso de lado, quase como se gozasse de ter controle sobre mim.

À medida que pôs o carro em marcha e avançou para a saída, olhei pela janela. Acho que foi a única maneira que encontrei de não perder a compostura. Finalmente, quando ele se direcionou à estrada, contemplei o panorama do dia, a vila não era tão diferente da minha cidade natal, de fato, era mais parecida do que pensava.

Graças a Deus, o trajeto até o instituto só durou alguns poucos minutos, mas se soubesse o que me esperava, de antemão teria me entrincheirado no veículo…

Assim que Demian estacionou o automóvel e descemos, todos os olhares se centraram em nós, ou, melhor dizendo, em mim.

—Será uma humana popular, — expressou Demian mordazmente —Não se afaste muito, Chapeuzinho, ou se tornará o almoço de algum lobo.

—Ha, ha que engraçado. —O repreendeu Mariel. —Enfim chega, Demi! — Exclamou Úrsula, que chegou correndo e se lançou em seus braços. Mariel revirou os olhos, além de fazer gestos de nojo quando o beijou.

—Vamos Naomi, te ensinarei um lugar prioritário que deve conhecer.

—Um lugar prioritário?

—Sim, querida — revalidou entrelaçando seu braço com o meu —Em casos como estes, deve saber onde vomitar.

—Tão logo vão, cunhadinha? — perguntou Úrsula ao nos observar partir. Mariel deteve o passo em seco.

—Não me chame de cunhadinha. Sabe muito bem que não simpatizo com essa palavra. — lhe advertiu com um mohín —E se não tem nada mais interessante para me sugerir além de que não seja ficar aqui vendo como beija meu irmão, agradeceria que se abstivesse de dizer algo. Minha paciência tem um limite, e acredite que você já os superou com folga.

—Você se encarrega? — lhe consultou Demian ignorando o comentário.

—Sim, eu me encarrego. Vamos, Naomi. —Se encarregar de quê? — a escutei Úrsula perguntar. Afinei o ouvido, mas não consegui ouvir nada.

—É impressão minha ou Úrsula não te cai bem? — lhe perguntei a Mariel, quando nos afastamos o suficiente.

—Nunca me caiu bem. — Admitiu —Não é uma companheira adequada para meu irmão. Há milhares de mulheres muito melhores que ela, mas não, ele idiota parece empenhado em ficar com ela. Te juro Naomi, não consigo entender sua obsessão, nem sequer a marcou, pode acreditar?

—Marcou? — Perguntei lutando para não rir. Em minha mente, “mal pensada” por certo, imaginei a forma natural em que os lobos marcam território. Será que as perseguem por aí para uriná-las? —Oh, pequena diabinha! Em que está pensando?!— disse rindo. —Não é nada disso! — me reclamou.

—Sinto muito! — me desculpei, rindo — É que, quando disse “marcou”, a ideia de que um lobo evite um ato tão instintivo como urinar, me resulta tão absurdo que me é difícil manter a seriedade.

—Não é dessa forma que os lobos marcam sua companheira. — disse sorrindo —Há muitas coisas que deve aprender, mas já haverá tempo para isso. Vamos para dentro, ainda temos muitas coisas para fazer.

[…]

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