O Sangue da Duquesa (Dark Romance)
DEDICATÓRIA
Para você, leitor que ama o tipo de amor que arde mais do que salva.
Esta história é sua — porque você entende o que é se perder na névoa de um toque perigoso, desejar demais, mesmo sabendo que isso pode te consumir.
Você, que nunca se assusta com personagens quebrados, com sentimentos possessivos, com promessas feitas entre beijos e ameaças.
Você que lê sobre um coração que diria “eu deixaria o mundo queimar por você” — e sorri, porque entende.
Aqui, o amor não é leve. Ele sufoca, queima, marca.
Mas é exatamente por isso que ele é inesquecível.
Bem-vindo ao incêndio.
Se for amar aqui, que seja até as cinzas.
A madrugada vestia-se de véus espessos de névoa, como se o próprio céu tivesse decidido esconder o que a terra prestes estava a testemunhar. As árvores rangiam sob ventos errantes, e cada folha parecia carregar um segredo milenar sussurrando nas dobras do tempo. Era uma noite em que o mundo parecia conter a respiração, temeroso do que se desenrolava sob seu próprio véu.
Na estrada de cascalhos úmidos que serpenteava pelas colinas de Waldstein, uma silhueta encapuzada cavalgava com urgência. O cavalo, exausto e arfante, cambaleava com as últimas forças, enquanto a figura mantinha os olhos fixos adiante, guiada mais pela intuição do que pela visibilidade. Os portões de ferro forjado da propriedade Eckart surgiram diante dela como sentinelas do destino.
A mulher desmontou. Suas botas mal faziam som ao tocar o chão encharcado. Nos braços, envolto em mantos de lã escura e rendas antigas, repousava um bebê. A criança dormia com a tranquilidade inquebrantável dos que ainda não conheceram a dor do mundo. Aproximando-se da escadaria da entrada principal, ajoelhou-se sem hesitar, como alguém diante de um altar. Com delicadeza quase ritualística, depositou o cesto no patamar de pedra, e junto dele, uma carta selada com cera pálida e fria, marcada com um símbolo ancestral — um brasão desbotado pelo tempo, mas ainda reconhecível para os que conheciam seu peso.
O menino não chorou. Apenas suspirou, como se já entendesse que aquele instante não lhe pertencia.
A mulher inclinou-se sobre ele. Seus cabelos escuros escapavam do capuz, encharcados pela umidade. Beijou-lhe a testa com um tremor contido, sussurrou palavras que apenas a noite escutaria, e então ergueu-se com esforço. Em poucos passos, desapareceu entre os ciprestes altos que ladeavam o caminho, tragada pela escuridão.
A mansão permaneceu em silêncio. Nenhuma vela se acendeu, nenhum guarda apareceu. Era como se os próprios muros estivessem acostumados a visitas silenciosas e pecados sem testemunhas.
(....)
O Duque Alrin Eckart despertou antes do galo cantar. Não foi o vento que o incomodou, nem o estalo de um galho no pátio. Era outra coisa — uma inquietação primitiva, como se o sangue em suas veias lhe chamasse para algo além da razão.
Sem convocar criados, vestiu-se com a pressa de quem não confia nos próprios sonhos e desceu os degraus frios de pedra. Ao abrir a porta, deparou-se com o cesto. O vapor de sua respiração encontrou o ar gélido, embaçando a visão por um instante. Ajoelhou-se. O selo da carta provocou-lhe um arrepio que subiu pela espinha. Ao quebrá-lo, reconheceu de imediato a caligrafia delicada, firme e melancólica.
Era de Angel.
> "Este é o fruto do que fomos. E do que nunca poderemos ser. Proteja-o como seu, como prometeu.
Seu nome é Isaac."
Alrin permaneceu imóvel por minutos que pareciam eras. Um peso invisível se assentava sobre seus ombros, não como algo novo, mas como algo que sempre esteve ali, apenas esperando ser reivindicado.
Envolveu o cesto nos braços e entrou. Seus passos eram lentos, cuidadosos, como se temesse que a casa percebesse a mudança irrevogável que ali se iniciava.
(....)
O quarto principal dormia em silêncio. A duquesa Emily repousava entre lençóis de linho, o rosto suavemente iluminado pela lareira prestes a se apagar. Ao lado, em dois pequenos leitos, dormiam Ryan e Maria — o primogênito de seis anos e a menina sonhadora de quatro. Ambos respiravam em paz, as faces relaxadas num retrato de inocência rara.
Até a porta se abrir.
Emily despertou de um sono leve, os olhos arregalando-se ao vislumbrarem o vulto do marido com algo nos braços. Sentou-se de súbito, puxando o lençol para o peito como uma armadura improvisada.
— Alrin...? — murmurou, confusa. — O que está carregando?
Ele não respondeu de imediato. Apenas caminhou até a lareira, onde a luz revelava, enfim, a verdade: um bebê, adormecido em um cesto coberto por tecidos finos e um brasão apagado pelo tempo.
— Uma criança. — disse o duque, com a voz de quem não pede permissão nem oferece desculpas.
Emily empalideceu. Seu corpo ficou tenso como vidro prestes a estilhaçar. O silêncio entre eles não era vazio — era uma avalanche prestes a desabar.
— De quem?
— De Angel. — A resposta caiu como uma sentença. — Uma mulher a quem fiz uma promessa. Uma que precisei cumprir.
Emily fitou o marido com olhos duros. Sua respiração acelerou, e quando tentou falar, sua voz vacilou — entre o grito e o sussurro.
— E pretende criá-lo aqui? Nesta casa? Com nossos filhos?
— Pretendo honrar minha palavra — respondeu ele, firme. — O menino é sangue meu. Será um Eckart.
A criança soltou um leve murmúrio, como se confirmasse a própria aceitação.
Emily virou o rosto. Havia algo no olhar dela que não era apenas ciúme ou indignação. Era um orgulho ferido num lugar onde nem mesmo o amor conjugal alcançava. Ela não chorou. Não gritou. Mas a muralha que começou a se erguer entre ela e aquele menino foi mais sólida que qualquer pedra daquela casa.
Nesse instante, Maria acordou. Os olhos grandes e castanhos claros buscaram sentido na cena incomum. Deslizou da cama sem som, os pés descalços, encontrando o frio do chão. Aproximou-se do pai e olhou para o bebê com uma curiosidade quieta.
— Ele vai dormir aqui com a gente, papai?
Alrin hesitou. A pergunta da menina o surpreendera. Sorriu, por fim, de modo contido.
— Não hoje, minha flor. Mas um dia, talvez.
Maria assentiu. Depois, estendeu o dedinho e tocou de leve a mão do bebê, como se quisesse reconhecê-lo com o tato da alma.
Ryan, por outro lado, fingiu dormir. Mas seus olhos semiabertos revelavam um turbilhão silencioso. Observava o intruso com uma expressão contida — não de medo, mas de posse ameaçada. Era como se algo dentro dele já pressentisse que a chegada daquele irmão não seria apenas uma divisão de afeto, mas o início de uma disputa longa e invisível.
(....)
Assim entrou Isaac na casa dos Eckart — não como herdeiro, nem como hóspede, mas como uma presença silenciosa que mexeria com os alicerces de toda aquela família.
Receberia todos os privilégios que um sobrenome poderia garantir: educação nobre, cuidados minuciosos, herança moral e títulos. Mas jamais conquistaria, sem luta, o mais instável dos tesouros: o afeto incondicional.
Ryan jamais esqueceria aquela noite. O som do vento, o murmúrio da mãe contida, o cesto à meia-luz. Gravaria tudo no coração como o início do fim da exclusividade.
Maria, em sua candura, seria a primeira a amar o estranho, mas também a primeira a perceber que, às vezes, o amor caminha lado a lado com a dor.
E Isaac... Isaac jamais se lembraria daquela noite. Mas carregaria o peso dela para sempre — um fardo silencioso moldado por promessas sussurradas ao vento, por silêncios que falavam mais que palavras, e por um nome que seria tanto um presente quanto uma maldição.
(....)
Anos mais tarde...
O grande salão da família Agrece estava tomado por luzes suaves e vozes abafadas, música elegante preenchendo os espaços entre os risos e os brindes. Era uma noite de celebração — a festa de maioridade de Vanessa Agrece — e cada detalhe transbordava opulência. Candelabros de cristal derramavam reflexos dourados sobre as paredes espelhadas, onde vultos dançantes se multiplicavam.
Isaac Eckart, porém, não parecia interessado em nenhuma das sutilezas do evento. Encostado contra uma coluna de mármore, uma taça intocada de vinho entre os dedos, seus olhos vagavam distraidamente pelo salão… até que pararam.
Ela estava do outro lado da sala, girando em torno de si mesma ao som da valsa, o vestido escarlate dançando ao redor de seus tornozelos. Vanessa. O sorriso que ela lançava aos convidados era leve, encantador, quase despreocupado, mas havia algo por trás daquilo — uma chama silenciosa, um brilho que capturou Isaac no instante em que o viu.
Ele piscou, uma vez. Depois desviou os olhos, como se tivesse cometido um erro. Mas não resistiu — olhou de novo. Discretamente. Observou a curva suave do pescoço dela, a forma como ela inclinava a cabeça ao escutar alguém, o modo como seus lábios se curvavam ao sorrir.
— Então, você está se escondendo das danças também? — disse uma voz leve, próxima demais. Ana Agrece apareceu ao seu lado, belíssima em verde esmeralda, os cabelos em cachos perfeitamente moldados. Ela se apoiou na mesma coluna, tentando puxar conversa com um sorriso gentil.
Isaac desviou o olhar de Vanessa rapidamente. Forçou um leve sorriso a Ana, mas seus olhos — aqueles olhos azul-avermelhados, intensos e sempre atentos — logo voltaram a buscar a figura do outro lado da sala, como se guiados por instinto.
— Só observando, — murmurou ele, evasivo.
Ana seguiu seu olhar, tentando descobrir o que o atraía tanto. Seu rosto se fechou sutilmente quando entendeu. Mas antes que pudesse dizer algo, Ryan Eckart surgiu ao lado dela, com seu charme ensaiado e sorriso pronto.
— Ana, está maravilhosa esta noite, como sempre — disse ele, pegando a mão dela com um exagero dramático. — Espero que tenha guardado uma dança para mim.
Ana sorriu, distraída, mas não respondeu. Seus olhos ainda estavam em Isaac.
Isaac olhou mais pra ela. Ele só via Vanessa.
Mesmo cercada de pessoas, ela parecia distante, como se vivesse em outro tempo, em outro mundo. Um mundo que ele, de repente, desejou profundamente fazer parte.
E quando, por acaso — ou destino — ela lançou um olhar em sua direção e seus olhos se encontraram por um breve instante, ele sentiu.
Uma pontada.
Um puxão invisível.
Ela sorriu, gentil, talvez sem notar que alguém a observava.
Mas ele sentiu o coração bater mais forte, como se tivesse ouvido um segredo.
E naquele instante, Isaac soube.
Nada naquele salão importava mais do que ela.
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Atualizado até capítulo 116
Comments
Boy Army
Acabei o PRIMEIRO CAPÍTULO e tô A-P-E-N-A-S:
SOCORRO. Que fofooo como ele pode ser tão fofo???
2025-05-21
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coração-sangrento❣️
Muito bom/Smile/
2025-04-23
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