O cheiro do álcool denunciava a sua chagada. O meu pai, era ele quem "traz dinheiro para dentro de casa", essas eram as palavras que ele falava repetidamente.
Desde que terminei o ensino médio o seu comportamento agressivo vem se tornando cada vez mais intenso e constante.
Pai
Change! Onde está a comida?!
Levanto com certa dificuldade da cama, vou a cozinha e o vejo sentado à mesa com um olhar impaciente.
Change
E.Eu peguei no sono... desculpa.
Pai
Não me importo com suas desculpas, estou com fome.
Afirmo com a cabeça e apresso os meus passos, pego os ingredientes para fazer um sanduíche já que é muito tarde.
Mas há algo que me incomoda, seu olhar sobre mim, normalmente ele se volta para a televisão para assistir um jogo ou um programa qualquer.
Ao finalizar o sanduíche lhe entrego e então seus olhos encaram os meus, abaixo meu olhar não quero lhe dar motivos para que me machuque outra vez, meu corpo ainda dói do seu último acesso de raiva.
Pai
Você é muito parecido com sua mãe.
Por que ele está falando sobre ela? Abro minha boca mas logo a fecho, não posso o irritar.
Dou um passo para trás quando ele se levanta e vem até mim. O cheiro de álcool misturado ao cigarro era insuportável. O que ele vai fazer?
Fecho meus olhos quando ele levanta sua mão, pensei que fosse me bater mas ele põe uma mecha rebelde do meu cabelo atrás de minha orelha.
Pai
Cabelos, olhos, pele e até mesmo o doce aroma das flores.
Seu tom carinhoso me deixou ainda mais inquieto, o que ele está fazendo?
Pai
Seu cio está próximo...
O meu cio? Eu havia estudado na escola mas nunca... bom meu corpo tem andado febril e cansado ultimamente, mas pensei que fosse apenas uma gripe.
Agarra a barra da minha camisa, por que ele está tão perto? Me afasto e ele pareceu voltar a si, ele sentou a mesa e eu o acompanhei.
Pai
Estou indo, quando voltar espero ver a casa arrumada.
Afirmo com a cabeça e assim que a porta se fecha respiro fundo e minha barriga começa a roncar.
Change
E.Estou com fome...
Amarro meus cabelos e vou até a cozinha uma última vez. Preparo algo rápido para comer, como em silêncio e limpo tudo. Arrumo o restante da casa e volto para o meu quarto.
Não havia muitas coisas ali. Alguns livros e cadernos do ensino médio que gostava de ficar estudando, um colchão velho e uma coberta fina para me cobrir.
Numa das caixas de papelão onde guardava meus livros, havia também um xale branco de crochê que pertencia a minha mãe.
As vezes eu gostava de dormir com ele, pode parecer bobagem minha mas era como se ela estivesse me abraçando.
Change
Mãe...
Suspiro cabisbaixo com as lembranças que tinha da minha mãe. Podia sentir meu corpo tornando-se mais febril, talvez eu devesse apenas dormir um pouco.
Escondo com cuidado outra vez o xale da mamãe na caixa, levanto meu rosto para uma pequena porém larga janela que havia perto do teto em meu quarto, era possível ver um pedaço do imenso céu noturno.
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