The Change
Capítulo 1
O cheiro do álcool denunciava a sua chagada. O meu pai, era ele quem "traz dinheiro para dentro de casa", essas eram as palavras que ele falava repetidamente.
Desde que terminei o ensino médio o seu comportamento agressivo vem se tornando cada vez mais intenso e constante.
Pai
Change! Onde está a comida?!
Levanto com certa dificuldade da cama, vou a cozinha e o vejo sentado à mesa com um olhar impaciente.
Change
E.Eu peguei no sono... desculpa.
Pai
Não me importo com suas desculpas, estou com fome.
Afirmo com a cabeça e apresso os meus passos, pego os ingredientes para fazer um sanduíche já que é muito tarde.
Mas há algo que me incomoda, seu olhar sobre mim, normalmente ele se volta para a televisão para assistir um jogo ou um programa qualquer.
Ao finalizar o sanduíche lhe entrego e então seus olhos encaram os meus, abaixo meu olhar não quero lhe dar motivos para que me machuque outra vez, meu corpo ainda dói do seu último acesso de raiva.
Pai
Você é muito parecido com sua mãe.
Por que ele está falando sobre ela? Abro minha boca mas logo a fecho, não posso o irritar.
Dou um passo para trás quando ele se levanta e vem até mim. O cheiro de álcool misturado ao cigarro era insuportável. O que ele vai fazer?
Fecho meus olhos quando ele levanta sua mão, pensei que fosse me bater mas ele põe uma mecha rebelde do meu cabelo atrás de minha orelha.
Pai
Cabelos, olhos, pele e até mesmo o doce aroma das flores.
Seu tom carinhoso me deixou ainda mais inquieto, o que ele está fazendo?
Pai
Seu cio está próximo...
O meu cio? Eu havia estudado na escola mas nunca... bom meu corpo tem andado febril e cansado ultimamente, mas pensei que fosse apenas uma gripe.
Agarra a barra da minha camisa, por que ele está tão perto? Me afasto e ele pareceu voltar a si, ele sentou a mesa e eu o acompanhei.
Pai
Estou indo, quando voltar espero ver a casa arrumada.
Afirmo com a cabeça e assim que a porta se fecha respiro fundo e minha barriga começa a roncar.
Change
E.Estou com fome...
Amarro meus cabelos e vou até a cozinha uma última vez. Preparo algo rápido para comer, como em silêncio e limpo tudo. Arrumo o restante da casa e volto para o meu quarto.
Não havia muitas coisas ali. Alguns livros e cadernos do ensino médio que gostava de ficar estudando, um colchão velho e uma coberta fina para me cobrir.
Numa das caixas de papelão onde guardava meus livros, havia também um xale branco de crochê que pertencia a minha mãe.
As vezes eu gostava de dormir com ele, pode parecer bobagem minha mas era como se ela estivesse me abraçando.
Suspiro cabisbaixo com as lembranças que tinha da minha mãe. Podia sentir meu corpo tornando-se mais febril, talvez eu devesse apenas dormir um pouco.
Escondo com cuidado outra vez o xale da mamãe na caixa, levanto meu rosto para uma pequena porém larga janela que havia perto do teto em meu quarto, era possível ver um pedaço do imenso céu noturno.
Change
Talvez amanhã seja um dia melhor...
Capítulo 2
Abro os meus olhos assustado com o som de algo quebrando, é o papai? O que o deixou tão irritado? Levanto da cama, mesmo após dormir o meu corpo permanece febril, a minha cabeça dói assim como a minha barriga.
Vou até a porta do quarto abro um pouco a porta com cuidado para não chamar sua atenção. Os seus feromonios irritados estavam fortes demais inundava toda a casa, cubro meu nariz e boca sentindo todo meu corpo tremer mal conseguia permanecer de pé.
Afinal o que o irritou tanto? Ao me perceber seus olhos furiosos se voltam para mim.
Pai
SEU ÔMEGA IMPRESTÁVEL!
Sua voz emanava puro ódio, e todo meu corpo parecia estar sendo subjugado, fecho meus olhos sentindo minhas dores aumentarem, usei toda minha força para permanecer de pé não pude conter minhas lágrimas.
Pai
EU PERDI TUDO OUTRA VEZ!
As luzes estavam apagadas dificultando minha visão. E quando menos espero suas mãos agarram meu pescoço e sou jogado no chão com muita força.
Não consigo respirar, tento tirar suas mãos de meu pescoço me debatendo e arranhando seu braço, lutando apenas por um pouco de ar. Esse sentimento angustiante trazia ainda mais desespero, aos poucos meu corpo ficou pesado e minha visão escura, tudo o que via era seus olhos negros raivosos.
Pai
AQUELE MALDITO ME VENCEU OUTRA VEZ!
Não conseguia mais entender suas palavras, tudo o que eu queria era desesperadamente respirar.
Change
M.Me...s.s.olt.a...
Finalmente ele solta meu pescoço e eu logo busco por ar, todo meu corpo doí, solto um grunhido de dor.
E antes que pudesse pensar em levantar recebo um chute forte na região da minha barriga que me faz bater as costas na parede.
Pai
Inútil! Você serve apenas como saco de pancadas.
Tento me proteger e falho miseravelmente enquanto ele desferia chute e pisões em mim.
O papai garra o meu cabelo e me arrasta para o seu quarto. Tudo o que eu consego fazer é chorar eu estou sentindo tanta dor.
Change
P.Por favor... p.para...
Clamo e sou jogado em sua cama. Por que estou aqui? O que ele vai fazer? Olho para ele que me encarava de maneira estranha seus olhos estavam sombrios. Estou som medo... muito medo.
Pai
Você é ômega e eu um alfa afinal de contas!
Ele tenta se aproximar mas levanto da cama imediatamente.
Change
P.Pai p.por favor... para
Seus feromonios inundam o quarto, abraço minha barriga e solto um grito de dor.
Pai
Viu? Não tente lutar hoje se tornará um ômega de verdade.
Do que ele está falando? O que ele vai fazer é... Não, não eu não quero isso.
Pai
Vamos você precisa de um alfa.
Nego com a cabeça, sentindo minhas forças se esvairem, minhas pernas fraquejam e eu caio no chão.
Change
N.Não... e.eu n.não... por f.favor não me machuca..
Ele se aproxima e se ajoelha em minha frente.
Suplico a ele que tinha uma expressão assustadora, ele puxa meus cabelos me fazendo soltar um grunhido de dor.
Pai
Finalmente será útil para algo.
Capítulo 3
Não consigo lembrar o que aconteceualguns dias atrás. Tudo o que sei é que quando acordei pela manhã, minhas roupas estavam rasgadas, meu corpo marcado por hematomas e mordidas.
Tenho lembranças fragmentadas, e estas são assustadoras, lembro de ter sido amarrado por cordas na cama, de ter sido vendado, da dor que...
Não tenho certeza se quero realmente lembrar do que aconteceu.
Pai
Droga! Aquele maldito me venceu outra vez!
Além disso, nos últimos dias pude perceber que as coisas em casa foram sumindo, roupas, talheres, pratos e até mesmo a televisão que ele costuma assistir. Para onde tudo foi?
Paro de navegar nos meus pensamentos e arrumo a mesa. Ele logo senta a mesa, sirvo o seu prato e sigo para o meu quarto.
Ultimamente não tenho tido muita fome. Sento sobre o meu colchão e encosto as minhas costas na parede. Levanto as mangas da minha blusa e observo as marcas de mordida e hematomas que variavam do vermelho ao roxo.
Olho para a caixa onde o xale da mamãe estava, sorrio lentamente.
Pai
Estou de saída, comporte-se.
Sinto o meu sorriso se desfazer lentamente ao ouvir a sua voz.
Desço meu olhar para minhas mãos trêmulas. A porta se fecha e eu suspiro aliviado, escondo meu rosto em minhas mãos.
Tento lembrar dos dias bons que vivi com ela, a memória daquele tempo volta trazendo um misto de sentimentos e pensamentos.
Meu coração está doendo, é uma dor tão intensa que não se dá para explicar e nem conter.
Tentei, tentei lutar contra as lágrimas, mas não obedeciam, tentei conter os sentimentos no meu peito, mas tudo o que pude fazer foi chorar.
Quando finalmente consegui me recompor segui até a caixa de papelão onde escondia o xale da minha mãe. Fazia algum tempo que eu não o segurava nas minhas mãos, era ainda mais macio do que eu lembrava, o cheiro dela ainda estava ali.
Sorrio levemente o colocando sobre os meus ombros. Fecho os meus olhos imaginando o seu abraço apertado, caloroso e gentil.
Abro os meus olhos vagarosamente e suspiro frustrado ao me deparar com a minha realidade.
Tiro o xale e volto a esconde-lo na caixa de papelão debaixo de meus livros. Sorrio um pouco alegre. Essa é a única coisa que tenho dela.
Não posso permitir que o papai tire isso de mim... não posso.
Volto para o colchão e me deito.
Change
Amanhã será um dia melhor...
Sussurro para mim mesmo enquanto observava a caixa onde o xale da mamãe estava.
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