O Alarme tocou cedo, mas Helena já estava acordada, encarando o teto do dormitório. A mensagem de Sofia na noite anterior não saía de sua cabeça. Era estranho pensar que, em tão pouco tempo, alguém poderia se aproximar tanto dela. No fundo, gostava da companhia, mas sentia medo de se apegar.
Quando desceu para o refeitório, Sofia já a esperava perto da entrada, mexendo no celular.
“Bom dia, dorminhoca!” Sofia disse com um sorriso fácil.
“Eu cheguei na hora,” Helena respondeu, franzindo a testa, mas Sofia deu de ombros.
“Detalhes. Vamos comer antes que o pão de queijo acabe.”
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Elas se sentaram perto da janela, com bandejas idênticas — suco de laranja, pão com manteiga e uma maçã. Sofia parecia gostar de falar enquanto comia, e Helena escutava atentamente, rindo de vez em quando das histórias exageradas que a outra contava sobre as professoras e os alunos mais antigos.
“Então, o que te trouxe para cá?” Sofia perguntou de repente, pegando Helena de surpresa.
“Eu... Meus pais acharam que seria bom pra mim. Minha cidade é pequena, sem muitas oportunidades. Acho que eles queriam que eu me preparasse para o futuro.”
“E o que você quer?” Sofia perguntou, inclinando-se ligeiramente para frente.
Helena ficou em silêncio por alguns segundos. Era uma pergunta que ela raramente se fazia. “Eu não sei. Nunca pensei muito nisso.”
“Talvez seja hora de pensar,” Sofia sugeriu, sorrindo. “Esse lugar é meio louco, mas dá tempo de descobrir quem você é.”
Helena sorriu de volta, mesmo sem saber se concordava.
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Mais tarde, naquele dia, Sofia encontrou Helena novamente durante o intervalo, arrastando-a para o jardim escondido atrás do prédio de Artes. Desta vez, trouxe um cobertor fino e alguns biscoitos.
“Você faz isso com todos os novos alunos?” Helena perguntou, enquanto Sofia estendia o cobertor no chão.
“Só com aqueles que parecem interessantes,” respondeu Sofia, piscando.
Helena corou levemente, mas tentou disfarçar. Sentou-se no cobertor e pegou um dos biscoitos que Sofia estendia.
“Então, me conta algo sobre você,” Sofia pediu, apoiando o queixo nas mãos. “Algo que ninguém mais sabe.”
“Por quê?”
“Porque segredos são como pequenas portas para quem somos de verdade.”
Helena hesitou. Não era fácil para ela se abrir, especialmente com alguém que conhecia há tão pouco tempo. Mas Sofia tinha aquele jeito despreocupado que fazia tudo parecer simples.
“Quando eu era pequena, eu achava que não havia nada fora da minha cidade. Tipo, eu pensava que o mundo acabava ali.”
Sofia arregalou os olhos, fingindo choque. “Você achava que sua cidade era o centro do universo?”
“Algo assim.” Helena riu, um pouco envergonhada. “Era um pensamento bobo de criança. Mas, às vezes, acho que ainda penso pequeno demais.”
“Isso não é ruim. Só significa que você tem um monte de coisas novas para descobrir,” Sofia disse, jogando um biscoito no ar e pegando com a boca.
“E você?” Helena perguntou, tentando desviar o foco. “Qual o seu segredo?”
Sofia parou por um momento, olhando para o céu como se estivesse escolhendo as palavras. “Meu segredo é que eu sou péssima em ficar sozinha. Odeio o silêncio.”
Helena franziu a testa. “Mas você sempre parece tão confiante, tão independente.”
“E sou,” Sofia respondeu rapidamente, mas seu tom era mais suave agora. “Mas isso não significa que gosto de ficar comigo mesma. É por isso que estou sempre cercada de gente. Acho que, quando estou sozinha, começo a pensar demais.”
Era uma resposta que Helena não esperava. Olhou para Sofia por alguns segundos, tentando imaginar o que se passava por trás daquele sorriso constante.
“Talvez a gente seja o oposto,” Helena comentou. “Eu gosto do silêncio porque ele me protege. Você foge dele porque... ele te assusta?”
Sofia deu uma risada curta. “Talvez. Acho que a gente se equilibra.”
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A conversa se estendeu por quase uma hora. Elas falaram de coisas pequenas — comida favorita, músicas que odiavam, como se viam no futuro. Helena descobriu que Sofia queria estudar teatro, algo que fazia sentido, considerando sua personalidade extrovertida.
“E você?” Sofia perguntou, pela segunda vez naquele dia.
“Eu ainda não sei.”
“Tudo bem. Você tem tempo.”
A tarde passou devagar, mas de um jeito bom. Quando o sinal tocou para a próxima aula, Sofia se levantou de um salto, estendendo a mão para Helena.
“Vamos. Ainda temos muito o que sobreviver hoje.”
Helena aceitou a mão, sentindo-se mais leve do que em semanas.
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Naquela noite, enquanto Helena estava deitada na cama, ela não conseguia tirar Sofia da cabeça. As palavras da garota, seu jeito confiante e suas pequenas vulnerabilidades ecoavam como se estivessem gravadas em sua mente.
Por mais que não quisesse admitir, algo nela estava mudando.
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Atualizado até capítulo 42
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