Helena acordou cedo no segundo dia. A claridade que entrava pela janela do dormitório iluminava seu quarto pequeno e ainda sem personalidade. Ela passou alguns minutos encarando o teto, tentando absorver os acontecimentos do dia anterior. O jeito despreocupado de Sofia continuava ecoando em sua mente, e ela se perguntava se a garota era sempre assim ou se estava apenas sendo gentil com a novata.
“Talvez ela nem fale comigo hoje,” murmurou para si mesma, tentando se preparar para a possibilidade de voltar à sua bolha de solidão.
Vestiu-se rapidamente, prendeu o cabelo em um rabo de cavalo desleixado e saiu antes que sua colega de quarto acordasse. Era melhor explorar o campus pela manhã, quando tudo ainda estava tranquilo.
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O primeiro período foi de Literatura. Helena sentou-se no fundo da sala, como no dia anterior, esperando passar despercebida. A professora, uma mulher de meia-idade com óculos grandes e uma voz firme, começou a falar sobre análise de poesias, mas Helena se perdeu no som de vozes cochichando ao fundo.
“Helena!”
Ela levou um susto ao ouvir seu nome. Olhou para o lado e viu Sofia ocupando a cadeira vazia ao seu lado.
“Você realmente gosta de se esconder, hein?” Sofia brincou, inclinando-se para falar mais baixo.
Helena tentou não sorrir. “Não gosto de chamar atenção.”
“Bom, isso explica bastante. Mas, sinceramente, você precisa se soltar mais. Não é tão ruim quanto parece.”
“E você parece saber muito sobre mim,” Helena rebateu, levantando uma sobrancelha.
Sofia deu um sorriso misterioso, sem responder.
A professora pigarreou, lançando um olhar severo na direção das duas. Helena imediatamente olhou para o caderno, tentando disfarçar, mas Sofia apenas piscou para a professora, sem qualquer sinal de constrangimento.
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Na hora do intervalo, Sofia insistiu em levar Helena para conhecer um lugar no campus que, segundo ela, era seu favorito: um pequeno jardim escondido atrás do prédio de Artes.
“Quase ninguém vem aqui,” explicou Sofia, empurrando o portão enferrujado. “É o meu refúgio.”
Helena olhou em volta, admirada. O jardim era simples, mas bonito. Arbustos bem aparados cercavam um pequeno banco de pedra, e flores de várias cores cresciam ao redor. O som distante de risadas e passos parecia ficar para trás, como se aquele lugar existisse em uma bolha.
“É lindo,” Helena admitiu.
“Eu sei.” Sofia se sentou no banco e bateu no espaço ao lado, indicando que Helena deveria fazer o mesmo. “E agora você sabe onde me encontrar quando quiser fugir do mundo.”
Helena hesitou por um momento antes de se sentar. “Por que está sendo tão legal comigo? Você mal me conhece.”
Sofia inclinou a cabeça, pensativa. “Talvez porque eu me vejo um pouco em você. Eu era assim no meu primeiro ano aqui. Meio perdida, tentando não ser notada. Mas, sabe, às vezes é bom ser vista.”
Helena ficou em silêncio, digerindo aquelas palavras. Ela não sabia se estava pronta para ser “vista”, mas, de alguma forma, a companhia de Sofia tornava isso menos assustador.
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Naquele mesmo dia, durante a aula de Educação Física, Helena teve outra oportunidade de observar Sofia. Enquanto a turma jogava vôlei, Sofia parecia comandar o time, mas de um jeito descontraído. Ela ria alto, incentivava os colegas e, mesmo quando errava, fazia uma piada que deixava todos à vontade.
Helena, por outro lado, ficou o mais longe possível da quadra, fingindo arrumar os cadarços do tênis para evitar participar.
“Helena!” Sofia gritou de repente, segurando a bola. “Sua vez!”
“Eu não... Não sou boa nisso,” respondeu Helena, sentindo o rosto queimar.
“E daí? Ninguém aqui é atleta olímpico. Vem logo!”
Todos os olhos estavam nela agora, mas Sofia sorria como se aquilo não fosse grande coisa. Relutante, Helena caminhou até a quadra.
Quando a bola foi lançada em sua direção, ela tentou rebater, mas errou completamente. Uma gargalhada geral ecoou pelo ginásio, mas Sofia interveio imediatamente.
“Vocês sabem que nem todo mundo nasceu com superpoderes esportivos, né?” disse Sofia, seu tom firme, mas ainda brincalhão. “Vai de novo, Helena. Dessa vez, eu te ajudo.”
Com Sofia ao seu lado, Helena conseguiu acertar a bola. Não foi perfeito, mas foi o suficiente para Sofia levantar os braços e gritar como se tivessem ganhado um campeonato.
“Tá vendo? Sabia que você conseguia!”
Apesar da humilhação inicial, Helena não conseguiu evitar um sorriso.
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À noite, enquanto organizava seu material no quarto, Helena recebeu uma mensagem no celular. Não reconhecia o número, mas a mensagem dizia:
“Amanhã vou te buscar no café da manhã. Não se atrase. - Sofia”
Helena sorriu para a tela, balançando a cabeça. Sofia era imprevisível, mas, estranhamente, isso começava a parecer algo bom.
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E assim, o segundo dia terminou. Para Helena, aquela conexão inesperada começava a significar mais do que ela podia admitir, até mesmo para si mesma.
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Atualizado até capítulo 42
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