sombra do destino

Capítulo 4 – O Peso das Sombras

Ana Clara sentia que os encontros com Henrique D'Almeida estavam mudando algo dentro dela. Ao longo das últimas semanas, ela se viu envolvida em um jogo que não entendia completamente. Ele era um enigma, uma força que parecia puxá-la para um mundo que ela não podia controlar. E, cada vez mais, sentia-se dividida entre a fascinação por ele e a crescente desconfiança.

O trabalho no livro de Henrique estava avançando, mas o ambiente ao redor dele tornava-se mais tenso a cada reunião. Durante os últimos dias, ele parecia estar se fechando ainda mais, como se as palavras escritas no projeto o conectassem a algo do seu passado que ele preferia não reviver. Ele falava com clareza sobre os negócios, sobre as escolhas difíceis que fizera para criar a "AetherTech", mas quando o assunto se aproximava de sua vida pessoal, algo em seus olhos se tornava distante, quase como se ele se perdesse em um abismo que ninguém mais poderia alcançar.

Ana estava na sala de conferências da "Luz da Poesia", organizando suas anotações para a reunião daquela tarde. O livro de Henrique começava a tomar forma, mas havia algo que a inquietava. Ele era um líder firme, alguém que tomava decisões rápidas e eficazes, mas sua escrita revelava uma vulnerabilidade que ela nunca imaginara ver. Ele estava dando mais do que sua trajetória empresarial; ele estava expondo uma parte de si mesmo que ninguém parecia conhecer.

De repente, a porta da sala se abriu, e Henrique entrou, seus olhos penetrantes fixados nela. Ele parecia mais tenso do que o habitual, o que fazia com que Ana se sentisse ainda mais desconfortável.

— "Ana, você tem um momento?" — disse ele, sua voz grave.

Ela assentiu, guardando os papéis rapidamente.

— "Claro, Henrique. O que posso fazer por você?"

Ele caminhou até a mesa dela e, sem mais palavras, se sentou. O silêncio entre eles era pesado, mas Ana sentiu que ele estava prestes a falar algo importante.

— "Eu preciso que você me ajude com algo." — Henrique finalmente disse, sua voz baixa. — "Não sei como colocar isso no livro, mas você está aqui para entender o que realmente aconteceu."

Ana o olhou com curiosidade. Ele nunca havia falado assim antes, com uma sinceridade tão explícita.

— "O que aconteceu, Henrique?" — ela perguntou, sabendo que, no fundo, algo profundo estava prestes a ser revelado.

Ele respirou fundo, como se estivesse buscando forças para abrir uma porta que há muito tempo estava trancada.

— "Eu tive uma escolha difícil em um momento crucial da minha vida. No começo da 'AetherTech', havia uma situação em que precisei fazer algo que, para mim, significava salvar a empresa, mas que ao mesmo tempo sacrificava algo pessoal que eu nunca poderia recuperar."

Ana sentiu o peso das palavras de Henrique. Ela já sabia que ele era uma pessoa de decisões duras, mas ouvir isso de sua boca tornava tudo mais real. Ele estava começando a abrir uma janela para seu mundo, e ela sabia que não podia se afastar agora.

— "E o que foi que você sacrificou?" — perguntou ela, com cautela. Ela sabia que essa resposta poderia mudar tudo.

Henrique fechou os olhos por um momento, e quando os abriu, havia uma tristeza velada neles.

— "Minha irmã." — disse ele, quase em um sussurro.

O silêncio na sala foi profundo. Ana nunca imaginara que o CEO da "AetherTech" tivesse uma irmã, muito menos soubera de uma história pessoal tão dolorosa. Ela o observava atentamente, sem saber o que dizer. Ele parecia perdido em um passado que o atormentava.

— "Ela... estava envolvida em uma decisão que poderia ter destruído a empresa. Eu precisei escolher entre proteger a 'AetherTech' ou minha irmã." — ele continuou, a voz firme, mas a dor evidente. — "Escolhi a empresa."

Ana sentiu um nó na garganta. Ela não podia imaginar o peso daquela escolha. Henrique, com toda sua frieza aparente, havia sido forçado a fazer uma decisão impossível, e naquele momento, ela percebeu que, por trás de seu olhar impassível, havia cicatrizes que ele carregava em silêncio.

— "E como isso terminou?" — Ana perguntou, incapaz de conter a curiosidade. Ela sabia que essa história estava longe de terminar.

Henrique desviou o olhar, como se tentasse esconder a dor que estava começando a se revelar.

— "Ela se afastou de mim. Nunca mais nos falamos depois disso. Para ela, eu a traí. E, de certa forma, eu a traí."

A vulnerabilidade em sua voz fez com que Ana se sentisse desconfortável. Ela sempre o vira como uma figura distante, mas agora, diante dela, estava um homem quebrado, lutando com o peso de seu passado.

— "Henrique, eu..." — Ana tentou encontrar palavras, mas ele levantou a mão, pedindo silêncio.

— "Não, Ana. Não espero que você entenda. Isso foi... necessário. Mas a dor é minha para carregar." — ele disse, a voz firme, mas com um tom de tristeza que ela nunca imaginara ouvir de um homem como ele.

A conversa havia tomado um rumo inesperado, e Ana não sabia como reagir. Ela queria consolá-lo, mas sabia que isso não era o que ele precisava. Ao invés disso, ela respirou fundo e, com suavidade, falou.

— "Você não está sozinho, Henrique. Eu... eu entendo que a dor nem sempre é visível, mas ela não desaparece."

Henrique a olhou com uma expressão que, por um breve momento, parecia grata. Mas logo se recompôs, como se o peso da conversa tivesse sido demais para ele.

— "Eu aprecio isso, Ana." — disse ele, suavemente. — "Mas a verdade é que, em meu mundo, o que importa é o que podemos conquistar, não o que deixamos para trás."

Ana sabia que ele estava tentando se proteger. Ele se recostou na cadeira, e o silêncio voltou a invadir a sala. Mas agora, ela sabia que estava lidando com um homem que, apesar de todo o poder e sucesso, carregava dentro de si uma dor profunda, algo que o impedia de se entregar totalmente.

Ela sabia que estava diante de uma escolha. Se continuasse com ele, ela teria que navegar por essas sombras que ele carregava. Mas o que mais a inquietava era a sensação de que, ao fazer isso, ela também estava se aproximando de algo que poderia mudar sua vida para sempre.

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