Cap. 4

Duas semanas se passaram, e Valentina começava a se recuperar. Já não pensava mais em Renan, queria seguir sua vida e esquecer que um dia acreditou em suas mentiras. Também queria cortar Susan de sua vida para sempre.

Valentina foi chamada à empresa para receber o acerto. O valor foi mais baixo do que ela esperava, mas não contestou, queria distância deles e sabia que mesmo que se contestasse, fariam de tudo para não pagar o que era justo.

_ Vou conseguir emprego melhor. Disse olhando para o currículo que começaria a entregar.

Na semana seguinte, ela começou a notar algumas mudanças em seu corpo. O cansaço extremo, os enjoos constantes e, principalmente, o atraso menstrual que não podia mais ignorar. Inicialmente, ela tentou afastar a ideia que estava grávida, atribuindo os sintomas ao estresse dos últimos dias, mas à medida que o tempo passava, a dúvida foi se tornando mais presente.

Valentina foi ate o banco sacar parte do dinheiro para pagar algumas contas, dentre elas a faculdade que estava atrasada, pois os avós realmente cortaram a ajuda financeira que davam, e na volta passou uma farmácia onde comprou um teste de gravidez. Por sorte, encontrou a casa vazia indo diretamente para o banheiro. Com as mãos trêmulas, ela quase não conseguiu abrir a embalagem. Valentina leu as instruções várias vezes, como se buscasse uma forma de negar o óbvio. Depois de fazer o teste, ela esperou os minutos mais longos de sua vida. Quando olhou para o resultado, seus olhos se enchem de lágrimas ao ver duas linhas aparecem.

_Positivo!

Valentina correu para o quarto, e sentou-se na cama, sentindo o peso daquela descoberta. Medo e esperança toma conta de seu coração. De repente ela estava com a mão sobre a barriga sentindo uma forte emoção. Ela nunca pensou em ter um filho tão cedo, mas sentia uma felicidade que não sabia descrever.

Apesar de todas as incertezas, ela acredita que Renan ficaria feliz com a notícia e assumiria a responsabilidade como pai, afinal aquele bebê é tão dele quanto dela.

Sabendo que pela hora, Renan ainda não tinha saído para o trabalho, Valentina criou coragem e vai até o apartamento dele. Quando Renan abriu a porta e viu que era ela, a recebeu com uma expressão fria.

O que você quer, Valentina? Perguntou sem a intenção de deixá-la  entrar. Já disse que nosso caso acabou.

Valentina respirou  fundo, tentando conter o nervosismo.

_Renan, eu... Preciso te contar….

_Seja rápida! Gritou cruzando os braços, visivelmente impaciente.

Valentina hesitou indo direto ao ponto.

_ Eu… eu estou grávida.

Renan a encarou com o rosto irritado.

Grávida? Ele soltou uma risada sarcástica. Isso só pode ser brincadeira, e de muito mal gosto por sinal.

_Eu não estou brincando, Renan. É sério.

Ele dá um passo para trás, balançando a cabeça negativamente.

_Ah, claro. Deixa eu adivinhar: você acha que isso vai me prender a você? Que agora eu vou largar tudo para ser pai? Ou que eu vou acreditar que esse filho é meu.

O que?  Valentina exclama, a voz embargada. O filho que estou esperando é seu, você sabe que eu era virgem, você foi o meu primeiro… Você não pode estar pensando isso de mim.

Renan estreita os olhos, o tom da voz ficando ainda mais cortante.

_Escuta aqui, Valentina. Eu não vou cair nessa sua armadilha. Uma pobretona que que se dar bem na vida. Se você acha que vai estragar minha vida com essa história, está muito enganada.

_Armadilha? Valentina pergunta, incrédula. _Renan, nós estávamos juntos…mas eu não quero mais nada com você depois do que você você me traiu com a Susan e depois de tudo que me disse... estou aqui para falar do nosso filho...

_A responsabilidade de evitar uma gravidez era sua, Valentina. Sempre foi.

Valentina o encara, surpresa e confusa.

Como assim? A responsabilidade era minha… nós usamos preservativo, não sei o que aconteceu...  Ela para, hesitando ao lembrar de algo que a incomodou durante algumas noites que passaram juntos. Ou você me não estava usando?

_Eu posso ter tirado algumas vezes . Não gosto de usar preservativo, ele tira a minha sensibilidade…

O chão parece sumir sob os pés de Valentina.

_ O que? Como ... você tirou sem me avisar?

_Tirei... E, se isso te incomoda tanto, você deveria ter tomado algo, não e? Mas claro que isso não te incomoda, está querendo dar o golpe do baú?

As palavras dele a atingem como um soco no estômago, e ela levantou a mão para dar um tapa nele que a segurou seu punho com forca

_Você está brincando com isso? Renan, estamos falando de um bebê, de uma vida! Valentina gritou, começando a se desesperar puxando o braço para se soltar.

Renan dá de ombros, perdendo a paciência.

_Não vou mudar minha vida por causa disso. Se você quer seguir com isso, problema seu, existem várias formas de resolver esse problema, apenas aborte essa coisa. Agora sai daqui antes que eu perca a paciência de vez. Disse soltando ela, dando um passo à frente, com uma postura ameaçadora. Valentina sentiu o medo tomar conta dela. Tremendo, ela recua, incapaz de acreditar na frieza dele.

Valentina saiu do apartamento de Renan em estado de choque, com as palavras dele ecoando em sua mente.  As lágrimas escorriam  pelo seu rosto, e ela não sabia o que fazer.

Ao chegar em casa, viu que os avós ja haviam voltado. Com os olhos ainda marejados, Valentina respirou fundo e se aproximou.

_O que aconteceu dessa vez? Perguntou a avó, notando a expressão abatida da neta.

Valentina hesitou por um momento, mas sabia que precisava contar que estava grávida, e no fundo, ela espera que eles se tornassem a rede de apoio naquele momento.

_ Vó, eu.. eu estou grávida…

_Grávida? Dona Clara levou as mãos à cabeça. _Você está louca, Valentina?

_Como você teve coragem de fazer isso? Seu Raimundo questionou com a voz carregada de desapontamento.

_ E onde está o pai dessa criança? Ele vai casar como você, não vai? Dona Clara estava visivelmente irritada.

Eu não pensava que isso fosse acontecer … Valentina tentava contar o que tinha acontecido. Eu fui enganada…

Dona Clara balança a cabeça com a expressão fechada.

_ Sabia que as noites que você dormiu fora de casa ia dar nisso… Você é igual à sua mãe. Imprudente, irresponsável... fez a mesma coisa, e engravidou, agora só falta desaparecer e deixar a criança aqui.

_Eu não sou como ela! Disse Valentina, sentindo o coração se despedaçar, mas os avós não cederam.

Nós já passamos dos nossos limites com você. Se você teve coragem de engravidar… Disse Clara, apontando para a barriga de Valentina. … agora pode se virar sozinha, não vamos cuidar de você e do seu filho..

As palavras caíram como uma pedra no peito de Valentina.

_Eu.... Eu só queria que...

_ Que o quê? Interrompeu o avô. _Que nós façamos mas sacrifícios por você? Olha no o deu a sua história de estudar. E você é sim igual a sua mãe que te largou aqui e sumiu.

Valentina ficou imóvel

_Eu não sou como a minha mãe. Eu nunca abandonaria meu filho... eu sei como dói não ser amada.

Veremos! Gritou o avô, antes de se sentar novamente, ignorando o olhar ferido da neta. Eu não vou cuidar mais de você, e não quero uma criança na minha casa.

Valentina ficou sem chão. Seus sonhos de concluir os estudos e construir uma carreira parecem evaporar diante dela.

_Vocês não podem fazer isso comigo… eu só preciso de um abraço... Sussurrou com a voz quase inaudível.

_Você tomou suas decisões. Agora arque com as consequências.

Valentina abriu a boca para responder, percebendo que não havia mais espaço para ela naquela casa. Sem querer prolongar a discussão, ela foi para o quarto. Sentindo-se rejeitada e sem apoio, Valentina toma a decisão mais difícil de sua vida, iria sair da casa dos avós mesmo que eles não tivessem expulsado ela oficialmente.

Naquela noite, Valentina começou a juntar as suas coisas. .

_ Eu vou lutar. Por mim e pelo meu filho. Não vou depender de ninguém. Disse para si mesma.

No dia seguinte, com a mala pronta e o coração apertado, ela saiu pela porta, levando consigo o pouco que tinha.

Antes de sair, ela olhou para os avós pela última vez, com tristeza.

_Eu vou provar que posso cuidar do meu filho sozinha.

Sem esperar resposta, Valentina saiu pela porta, levando consigo apenas uma pequena mala e o peso de um futuro incerto.

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