Conversa Particular

Dalila começou a esfregar meu cabelo. Ela o fazia com cuidado e suavidade. Se eu não tivesse conhecimento sobre todos os aspectos do manhua, nem poderia dizer que ela me detesta.

- Chamei você até aqui porque gostaria de tratar um assunto com você em particular.

- Alteza... Eu... Se for sobre o passeio com o duque no jardim, juro que não tinha intenção de- Fiz um gesto com a mão, interrompendo que ela continuasse a falar. Não, queridinha. Te chamei para consertar isso.-

- Não é sobre isso. Ah, vamos lá, como vou fazer isso?- Me virei para Dalila, impedindo que ela continuasse a esfregar minha cabeça. Ela caiu para trás, e eu a observava de cima, de dentro da banheira.- Eu... bem, para começar, acho que devo dizer que não me importo se você anda por aí com o duque ou não. Não é novidade para ninguém que ele tem mais consideração por você do que por mim. Isso não me importa.

Dalila mordeu os lábios, enquanto uma de sua sombrancelhas curvou. Claro, como ela poderia acreditar que não me importo quando ela vêm sofrendo por anos, por conta dos ciúmes e descontrole de Michele?

- Bem... é muito para esclarecer, mas acho que você é capaz de entender. Então, te farei uma pergunta: Por que acha que ele a considera tanto?

Dalila permaneceu em silêncio. Ela olhou para meu cabelo, e depois afastou o olhar. Uma coisa que muitos leitores gostavam em "Todos os beijos que não te dei" era o fato de Dalila não ser só uma protagonista ingênua e inocente pronta para ser salva. No ducado de Rosae, ela era impedida de reagir, mas assim que Ivan tira Dalila desse lugar, ela desabrocha, e é nessa etapa que a obra explode em popularidade, com embates épicos de Dalila e Michele. No entanto, a cena que se passava diante de mim confirmava algo que nunca esteve explícito na obra: Dalila, ou suspeitava de toda a situação, ou estava ciente. Eu estava prestes a descobrir qual.

- Não tenho certeza do que a senhorita está indagando.

- Ha... Tem certeza? Sabe me responder então por que diabos Tyler adora uma garota humilde que estranhamente se parece com a filha dele?

Dalila se encolheu, e então a expressão dela se transformou. Eu estava vendo a protagonista com raiva. Sempre que ela fazia aquela expressão, eu tirava prints da tela, pois sempre era uma representação linda. Mas, diante de mim, naquele momento, eu não sabia explicar exatamente o que sentir.

- Senhorita, se entendo bem o que está sugerindo... peço por favor que não faça tais alegações sem quaisquer provas. Eu lamento se fiz algo que não gostou, mas acredito que saiba que se o duque requisita que eu saia para caminhar com ele, eu tenho de ir. Se ele requisita, eu tenho de fazer, e é sempre assim, até mesmo com a senhorita, ou qualquer outra pessoa de nível superior nesse ducado. Eu lamento se esse mal-entendido a fez se sentir mal, mas espero que isso seja suficiente para esclarecer esse mal entendido.

Eu não estava preparada para ouvir Dalila. Ela sentia muita raiva de Michele, claro, mas talvez eu tivesse subestimado como ela se sentia. Ela não só detestava a mim, mas também ao Tyler, e toda a vida de miséria que havíamos sujeitado à ela. Eu pensei que fazer algo aqui, dizer algo ali, poderia evitar alguma problemas, e mudar o enredo, mas eu notei que estava sendo inocente com esse pensamento. Partir da premissa de que todos ali eram personagens e que eu era capaz de mudar tudo como bem queria só porque era uma história era algo bem... Bem egoísta. Talvez fazer as coisas como estava pensando era impossível.

- Não estou tentando te culpar por nada... eu... Sabe, eu queria tentar resolver as coisas com você, já que ambas compartilhamos a miséria de um mesmo pai.- Dalila não era só a protagonista da minha obra preferida, mas alguém real, que estava diante de mim. Eu tinha de fazer o possível para trazer ela para o meu lado. Para evitar o final trágico para nossas personagens. Para isso, eu estava disposta a desempenhar o papel de vilã. Mas eu agiria para que as coisas se encaminhassem diferente. Meu alvo não seria Dalila. Para mostrar isso a ela, eu tinha de ser sincera. Não seria a Michele que estaria falando agora.- Percebi que venho vivendo um inferno a vida toda, e tudo graças a ele. O mesmo vale para você. Não quero continuar lutando em vão, por uma causa que não existe. Não quero mais brigar com você pela atenção daquele homem. Quero a ruína dele. E sei que isso é algo que interessa você. O que me diz?