A maldição do príncipe

Naquela mesma noite, enquanto Jade adormece com a marca da rosa ainda quente em sua mão, a história de Kael se revela. Embora o jovem príncipe seja conhecido por sua bravura e liderança, há um segredo sombrio que ele guarda – uma maldição que o corrói dia após dia e que ele é obrigado a enfrentar sozinho.

Há alguns anos, quando ainda era apenas um adolescente, Kael foi amaldiçoado por uma feiticeira misteriosa que invadiu o castelo durante a noite. A feiticeira, uma mulher de cabelos prateados e olhos profundos como a escuridão, apareceu diante do trono real, onde Kael estava ao lado de seu pai, o rei de Zyren. Ela trouxe uma profecia cheia de ódio e advertência, anunciando que Kael seria amaldiçoado para que nunca pudesse experimentar amor ou compaixão sem sofrer uma dor terrível.

— “Seu coração, jovem príncipe, será como o gelo eterno, incapaz de aquecer-se com as emoções humanas. Cada vez que tentar expressar bondade, amor ou piedade, sentirá a dor de mil punhais no peito,” ela declarou, com um sorriso cruel. — “Apenas alguém que carrega a Rosa de Fogo poderá libertá-lo – se algum dia essa pessoa realmente existir.”

Antes que qualquer um pudesse agir, a feiticeira desapareceu em uma nuvem de névoa, deixando Kael com uma maldição que alteraria seu destino para sempre. Desde então, o jovem príncipe tem vivido com o coração envolto em um frio constante, e qualquer tentativa de expressar sentimentos genuínos o tortura, como se gelo afiado percorresse suas veias.

Com o passar dos anos, Kael aprendeu a suportar a dor e a esconder seus sentimentos sob uma máscara de indiferença. Ele construiu uma imagem de príncipe distante, frio e calculista, pois qualquer tentativa de empatia ou gentileza lhe traz uma dor tão insuportável que ele prefere evitá-la. Embora tenha um grande desejo de ajudar seu povo, Kael se vê constantemente limitado pela maldição, sentindo-se cada vez mais isolado e incompreendido.

Seus conselheiros e servos, além de seu próprio pai, observam sua transformação com preocupação, mas ninguém sabe a verdade por trás de seu comportamento gélido. Todos acreditam que Kael é apenas alguém fechado e reservado, distante por opção. Ninguém suspeita que ele carrega uma maldição, que o prende a uma existência sem afeto verdadeiro.

Mesmo com o passar dos anos, Kael nunca se permitiu desistir da esperança de quebrar a maldição. Ele tem explorado livros antigos e viajado secretamente por regiões remotas, em busca de informações sobre a lenda da Rosa de Fogo. Ele sabe que apenas alguém com esse poder poderá desfazer o feitiço, e essa busca é a única coisa que o mantém firme.

A recente fuga de Kael pela floresta não foi um mero acaso. Ele estava em uma dessas buscas quando foi emboscado por homens que pretendiam desestabilizar o reino de Zyren, ameaçando tanto seu trono quanto a estabilidade do reino. Sua jornada o levou a cruzar o caminho de Jade, e algo dentro dele percebeu que a jovem camponesa poderia ser a resposta que ele buscava há tanto tempo.

Kael havia sentido uma conexão com Jade, mas a maldição o impediu de expressar qualquer afeição. Quando sentiu algo próximo de carinho e gratidão por ela, a dor no peito se intensificou, quase o derrubando. Ele precisou manter uma fachada fria, não permitindo que a emoção o consumisse. Contudo, ao deixar Jade, Kael percebeu que a marca da rosa em sua mão poderia ser a esperança de que precisava

De volta ao castelo, Kael se retira para seus aposentos, onde passa longas horas refletindo sobre o encontro com Jade e sobre a dor da maldição que carrega. O frio em seu peito parece mais intenso do que nunca, como se o gelo em seu coração se aprofundasse a cada dia. Ele observa a lua pela janela, sentindo-se aprisionado em um destino cruel, dividido entre sua posição como príncipe e seu desejo de liberdade emocional.

Ao longo da noite, Kael começa a vislumbrar lembranças de seu encontro com Jade. Ele se recorda do brilho nos olhos dela, da coragem e do impulso de bondade que ela demonstrou ao salvá-lo. Aquela jovem simples, porém destemida, parece irradiar algo especial, uma força que ele não compreende completamente, mas que o atrai de uma forma inesperada. A imagem dela permanece em sua mente, e pela primeira vez em anos, Kael sente que talvez exista uma esperança real de quebrar a maldição.

No entanto, ele está ciente do perigo que sua maldição representa para Jade. A Rosa de Fogo, segundo as lendas, traz tanto poder quanto destruição, e Kael teme que se aproximar dela possa despertar forças que ela ainda não está preparada para controlar.

Determinando-se a fazer algo, Kael decide que precisa encontrar Jade novamente. Ele quer saber se ela realmente tem a marca da Rosa de Fogo e se ela possui a força necessária para ajudá-lo. Mesmo que isso represente um risco, ele sente que é sua única chance de finalmente se livrar da dor e da frieza que o aprisionam.

Naquela mesma noite, Kael chama seu conselheiro mais fiel, um homem idoso e sábio chamado Eldric, que tem conhecimento das antigas lendas do reino. Eldric é uma das poucas pessoas que conhecem sobre a maldição de Kael e o ajudou em muitas tentativas de buscar uma cura.

— Eldric — Kael começa, com a voz fria e calculada que ele mantém com esforço, para mascarar a dor —, encontrei alguém. Uma jovem que... possui a marca da Rosa de Fogo.

Os olhos de Eldric brilham com surpresa e curiosidade. Ele estuda o príncipe por um longo momento, refletindo sobre as possibilidades.

— A Rosa de Fogo... se for verdade, então talvez sua maldição possa finalmente ser quebrada, alteza — responde o conselheiro. — Mas lembre-se, Kael, a Rosa de Fogo é uma força poderosa e inconstante. Ela carrega tanto a capacidade de curar quanto de destruir. A jovem precisará ser testada, pois qualquer fraqueza poderá desencadear consequências irreversíveis.

Kael acena em compreensão, mas seu coração está decidido. Ele sabe que Elara é corajosa e determinada, e está disposto a apostar tudo na esperança de que ela seja a única pessoa capaz de libertá-lo.

Kael começa a fazer planos para encontrar Jade novamente, mas de maneira discreta, para que ninguém no reino perceba. Ele teme que seus inimigos descubram sua fraqueza e tentem usar Jade contra ele. Decidido a proteger a jovem e a si mesmo, Kael elabora uma estratégia para se aproximar dela sem revelar imediatamente seu verdadeiro status e a complexidade de sua maldição.

Enquanto isso, Jade, em sua vila, sente o peso crescente de sua própria jornada, sem saber que o príncipe herdeiro, amaldiçoado e em busca de redenção, pretende voltar a procurá-la. Ela sente a marca da Rosa de Fogo pulsar na palma de sua mão, como se também estivesse à espera do reencontro. Embora ainda não compreenda totalmente o papel que está destinada a desempenhar, Jade sente que algo grande e misterioso a espera.

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