CONTRATO - AMOR & PODER
Aviso importante: caros leitores é a primeira vez que faço uma história desse gênero, estou acostumada a escrever romance de época sendo totalmente diferente com bailes e festas do chá,etc.. Mesmo assim quero que desfrutem da história, serão 60 capítulos, sendo que tenho 30 já realizados.
Boa leitura.
Capítulo 1: A vida de Clara Valente
A brisa leve daquela manhã de outono atravessava as enormes janelas de vidro do apartamento de cobertura de Clara Valente, trazendo consigo o cheiro familiar da cidade. O horizonte de Lisboa se estendia à sua frente, com o Tejo brilhando sob o sol suave, como uma promessa distante de liberdade. No entanto, Clara sentia-se presa, como sempre, em uma rotina que, apesar de luxuosa e segura, parecia cada vez mais insuportável.
Do alto do 25º andar, ela podia ver o mundo se desenrolar lá embaixo – carros apressados, pessoas andando pelas calçadas, cafés começando a encher de clientes – e, ainda assim, tudo aquilo lhe parecia tão distante. Clara Valente, a herdeira de um império empresarial vasto e poderoso, era invisível ao público, e assim preferia. Poucos sabiam seu rosto, menos ainda conheciam seu nome, e era exatamente assim que ela gostava de viver.
Clara sempre fora diferente. Desde criança, soubera que sua vida seria guiada não pelos desejos comuns, mas por responsabilidades esmagadoras. Criada por sua mãe, uma mulher fria e calculista, aprendeu cedo a manter o controle em qualquer situação. A única pessoa com quem compartilhava uma relação genuína era seu avô, Manuel Valente, um dos homens mais influentes do país, que a havia criado com uma combinação de carinho e rigidez. Agora, já velho e adoentado, era ele quem impunha o maior peso sobre seus ombros.
A casa de Clara era silenciosa. Luxuosa, sem dúvida, com mármore italiano no chão e móveis de design espalhados pelo apartamento. Mas o silêncio era sempre mais forte do que qualquer decoração. Ela se movia pela sala de estar, os saltos dos seus sapatos ecoando no piso, enquanto tomava seu café da manhã sozinha, como em todos os outros dias. A mesa de vidro impecavelmente arrumada contrastava com a vastidão do espaço ao redor, e a única companhia que Clara tinha era o som distante do trânsito e das aves lá fora.
Clara Valente era uma mulher que, por escolha, permanecia à margem do mundo social. Aos 29 anos, com uma beleza inegável – cabelos escuros que caiam até os ombros de forma elegante, olhos castanhos profundos e uma postura altiva – ela era o tipo de pessoa que atraía olhares onde quer que fosse. Contudo, preferia usar sua influência nos bastidores, longe das capas de revistas ou das festas luxuosas frequentadas pela elite empresarial. Clara comandava um império diversificado, de ações em tecnologia à construção civil, mas o fazia sem que seu nome estivesse estampado nas manchetes. Tinha um dom para administrar e fazer crescer o que tocava, mas fazia questão de manter-se nas sombras.
A única exceção era o seu avô, Manuel Valente. Ele, ao contrário, acreditava firmemente no valor de estar no centro das atenções, de reforçar o poder com uma presença visível. E esse era o ponto de tensão entre eles nos últimos meses.
Enquanto se sentava à sua mesa para revisar os relatórios de mais uma das suas empresas, o telefone tocou. Clara já sabia quem seria antes mesmo de olhar para o visor. Era o seu avô, como de costume, em mais uma das suas tentativas de convencê-la a seguir o plano que ele arquitetara para ela.
— Clara, — a voz grave e imponente de Manuel soou do outro lado da linha. — Está na hora de falarmos sobre o seu futuro.
Clara suspirou, já antevendo o rumo daquela conversa. Ultimamente, toda vez que ele ligava, o tema era o mesmo. Casamento. Um futuro que ele insistia em traçar para ela, como se fosse apenas mais um negócio a ser fechado, uma transação que beneficiaria tanto as empresas da família quanto, supostamente, o destino de Clara.
— Já falamos sobre isso, avô — disse ela, mantendo a calma. — Não estou interessada em casamento. Tenho outras prioridades.
Do outro lado da linha, Clara podia quase ouvir o som de Manuel batendo os dedos impacientemente na mesa. Ele sempre fora um homem impaciente, um líder implacável nos negócios, e aquele tom autoritário era algo com o qual ela havia aprendido a lidar desde cedo.
— Clara, você está com 29 anos. Não pode continuar a adiar isso. O mundo lá fora é implacável. Já esperei demais, e você sabe disso. Se não pensar no futuro agora, tudo o que construí cairá nas mãos de alguém que não faz parte da nossa família. E eu não terei tempo de ver isso acontecer.
Essa última frase ficou pairando no ar. A saúde de Manuel estava fragilizada nos últimos tempos, e isso intensificava a urgência dele em vê-la casada. Ele temia que, sem um marido que consolidasse alianças, o legado dos Valente pudesse se perder. E, para Clara, isso era como uma faca de dois gumes – queria agradá-lo, mas não às custas de sua própria liberdade.
— Não preciso de um homem para gerenciar o império, avô. Eu posso fazer isso sozinha. Estou fazendo isso sozinha. — Clara respondeu com firmeza, tentando mais uma vez afastar a pressão sufocante.
— Isso não é sobre a sua capacidade, Clara. Sei que você é brilhante. Mas o mundo dos negócios é mais do que competência. São alianças. Poder. E, por mais que você queira negar, casamentos são uma das formas mais antigas e eficazes de fortalecer essas alianças.
Clara sabia que, em parte, ele tinha razão. Naquele mundo de elite, casamentos ainda eram vistos como formas estratégicas de manter ou aumentar poder. Mas ela se recusava a ser apenas uma peça nesse jogo. O império que construíra com a ajuda do avô, nos bastidores, era fruto de seu esforço, de sua visão. E a ideia de se casar por obrigação, por estratégia, era como aceitar que todo aquele esforço não bastava.
Ela se levantou da cadeira, caminhando até a janela enorme do seu apartamento. Lá fora, a cidade brilhava sob o sol de outono, indiferente às suas preocupações.
— Eu entendo o que você está dizendo, avô. Mas não consigo imaginar me casando com alguém apenas por conveniência. Não sou como a minha mãe. Não posso ser.
Do outro lado, houve um silêncio pesado. Era uma referência rara à mãe de Clara, que sempre fora uma figura distante e ausente, alguém que via o casamento dela com o pai de Clara apenas como um contrato vantajoso. Clara nunca quis esse tipo de vida, e essa era a verdadeira razão para sua resistência.
— Sua mãe fez o que era necessário para o bem da família, — respondeu Manuel, a voz mais suave agora, mas ainda firme. — E, apesar de tudo, não se arrependeu. Você não precisa amar esse homem, Clara. Só precisa que ele esteja ao seu lado, como um parceiro.
Clara fechou os olhos, sentindo o peso das palavras dele. A sombra da expectativa, do dever, pairava sobre ela como um fardo impossível de carregar. E, no fundo, uma parte de si queria agradar ao avô. Ele fora sua única figura de amor e apoio ao longo de sua vida. Mas a ideia de sacrificar sua liberdade por um casamento forçado era insuportável.
— Vamos conversar sobre isso depois, avô — disse ela, sentindo que a conversa não levaria a lugar nenhum naquele momento. — Preciso ir. Tenho reuniões.
— Não adie por muito tempo, Clara. Meu tempo está acabando, e você sabe disso. — A voz dele soou mais fraca dessa vez, e isso a incomodou.
— Até logo, avô. — Clara desligou o telefone, sentindo um nó apertado no peito.
Ela ficou ali, olhando para o horizonte, pensando em tudo o que sempre evitara. Sentia-se dividida entre o amor e respeito que tinha pelo avô e o desejo ardente de manter sua independência. O silêncio da sala ao redor parecia aumentar o peso de sua solidão. Ela tinha tudo o que muitos sonhavam – riqueza, poder, influência –, mas ainda assim, sentia que algo lhe faltava.
Seria realmente necessário sacrificar sua liberdade para manter tudo isso?
Enquanto a luz do sol entrava suavemente pela janela, Clara percebeu que sua vida, por mais controlada que fosse, estava prestes a mudar. A pressão do avô se tornava cada vez mais insuportável, e os dias de sua rotina solitária poderiam estar contados. O que Clara ainda não sabia era que aquele seria apenas o começo de uma série de mudanças que a obrigariam a enfrentar não só as pressões familiares, mas também os seus próprios sentimentos mais profundos.
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Atualizado até capítulo 23
Comments
Vera Lúcia
eita
2024-10-23
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