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CONTRATO - AMOR & PODER

Capítulo 1: A vida de Clara Valente

Aviso importante: caros leitores é a primeira vez que faço uma história desse gênero, estou acostumada a escrever romance de época sendo totalmente diferente com bailes e festas do chá,etc.. Mesmo assim quero que desfrutem da história, serão 60 capítulos, sendo que tenho 30 já realizados.

Boa leitura.

Capítulo 1: A vida de Clara Valente

A brisa leve daquela manhã de outono atravessava as enormes janelas de vidro do apartamento de cobertura de Clara Valente, trazendo consigo o cheiro familiar da cidade. O horizonte de Lisboa se estendia à sua frente, com o Tejo brilhando sob o sol suave, como uma promessa distante de liberdade. No entanto, Clara sentia-se presa, como sempre, em uma rotina que, apesar de luxuosa e segura, parecia cada vez mais insuportável.

Do alto do 25º andar, ela podia ver o mundo se desenrolar lá embaixo – carros apressados, pessoas andando pelas calçadas, cafés começando a encher de clientes – e, ainda assim, tudo aquilo lhe parecia tão distante. Clara Valente, a herdeira de um império empresarial vasto e poderoso, era invisível ao público, e assim preferia. Poucos sabiam seu rosto, menos ainda conheciam seu nome, e era exatamente assim que ela gostava de viver.

Clara sempre fora diferente. Desde criança, soubera que sua vida seria guiada não pelos desejos comuns, mas por responsabilidades esmagadoras. Criada por sua mãe, uma mulher fria e calculista, aprendeu cedo a manter o controle em qualquer situação. A única pessoa com quem compartilhava uma relação genuína era seu avô, Manuel Valente, um dos homens mais influentes do país, que a havia criado com uma combinação de carinho e rigidez. Agora, já velho e adoentado, era ele quem impunha o maior peso sobre seus ombros.

A casa de Clara era silenciosa. Luxuosa, sem dúvida, com mármore italiano no chão e móveis de design espalhados pelo apartamento. Mas o silêncio era sempre mais forte do que qualquer decoração. Ela se movia pela sala de estar, os saltos dos seus sapatos ecoando no piso, enquanto tomava seu café da manhã sozinha, como em todos os outros dias. A mesa de vidro impecavelmente arrumada contrastava com a vastidão do espaço ao redor, e a única companhia que Clara tinha era o som distante do trânsito e das aves lá fora.

Clara Valente era uma mulher que, por escolha, permanecia à margem do mundo social. Aos 29 anos, com uma beleza inegável – cabelos escuros que caiam até os ombros de forma elegante, olhos castanhos profundos e uma postura altiva – ela era o tipo de pessoa que atraía olhares onde quer que fosse. Contudo, preferia usar sua influência nos bastidores, longe das capas de revistas ou das festas luxuosas frequentadas pela elite empresarial. Clara comandava um império diversificado, de ações em tecnologia à construção civil, mas o fazia sem que seu nome estivesse estampado nas manchetes. Tinha um dom para administrar e fazer crescer o que tocava, mas fazia questão de manter-se nas sombras.

A única exceção era o seu avô, Manuel Valente. Ele, ao contrário, acreditava firmemente no valor de estar no centro das atenções, de reforçar o poder com uma presença visível. E esse era o ponto de tensão entre eles nos últimos meses.

Enquanto se sentava à sua mesa para revisar os relatórios de mais uma das suas empresas, o telefone tocou. Clara já sabia quem seria antes mesmo de olhar para o visor. Era o seu avô, como de costume, em mais uma das suas tentativas de convencê-la a seguir o plano que ele arquitetara para ela.

— Clara, — a voz grave e imponente de Manuel soou do outro lado da linha. — Está na hora de falarmos sobre o seu futuro.

Clara suspirou, já antevendo o rumo daquela conversa. Ultimamente, toda vez que ele ligava, o tema era o mesmo. Casamento. Um futuro que ele insistia em traçar para ela, como se fosse apenas mais um negócio a ser fechado, uma transação que beneficiaria tanto as empresas da família quanto, supostamente, o destino de Clara.

— Já falamos sobre isso, avô — disse ela, mantendo a calma. — Não estou interessada em casamento. Tenho outras prioridades.

Do outro lado da linha, Clara podia quase ouvir o som de Manuel batendo os dedos impacientemente na mesa. Ele sempre fora um homem impaciente, um líder implacável nos negócios, e aquele tom autoritário era algo com o qual ela havia aprendido a lidar desde cedo.

— Clara, você está com 29 anos. Não pode continuar a adiar isso. O mundo lá fora é implacável. Já esperei demais, e você sabe disso. Se não pensar no futuro agora, tudo o que construí cairá nas mãos de alguém que não faz parte da nossa família. E eu não terei tempo de ver isso acontecer.

Essa última frase ficou pairando no ar. A saúde de Manuel estava fragilizada nos últimos tempos, e isso intensificava a urgência dele em vê-la casada. Ele temia que, sem um marido que consolidasse alianças, o legado dos Valente pudesse se perder. E, para Clara, isso era como uma faca de dois gumes – queria agradá-lo, mas não às custas de sua própria liberdade.

— Não preciso de um homem para gerenciar o império, avô. Eu posso fazer isso sozinha. Estou fazendo isso sozinha. — Clara respondeu com firmeza, tentando mais uma vez afastar a pressão sufocante.

— Isso não é sobre a sua capacidade, Clara. Sei que você é brilhante. Mas o mundo dos negócios é mais do que competência. São alianças. Poder. E, por mais que você queira negar, casamentos são uma das formas mais antigas e eficazes de fortalecer essas alianças.

Clara sabia que, em parte, ele tinha razão. Naquele mundo de elite, casamentos ainda eram vistos como formas estratégicas de manter ou aumentar poder. Mas ela se recusava a ser apenas uma peça nesse jogo. O império que construíra com a ajuda do avô, nos bastidores, era fruto de seu esforço, de sua visão. E a ideia de se casar por obrigação, por estratégia, era como aceitar que todo aquele esforço não bastava.

Ela se levantou da cadeira, caminhando até a janela enorme do seu apartamento. Lá fora, a cidade brilhava sob o sol de outono, indiferente às suas preocupações.

— Eu entendo o que você está dizendo, avô. Mas não consigo imaginar me casando com alguém apenas por conveniência. Não sou como a minha mãe. Não posso ser.

Do outro lado, houve um silêncio pesado. Era uma referência rara à mãe de Clara, que sempre fora uma figura distante e ausente, alguém que via o casamento dela com o pai de Clara apenas como um contrato vantajoso. Clara nunca quis esse tipo de vida, e essa era a verdadeira razão para sua resistência.

— Sua mãe fez o que era necessário para o bem da família, — respondeu Manuel, a voz mais suave agora, mas ainda firme. — E, apesar de tudo, não se arrependeu. Você não precisa amar esse homem, Clara. Só precisa que ele esteja ao seu lado, como um parceiro.

Clara fechou os olhos, sentindo o peso das palavras dele. A sombra da expectativa, do dever, pairava sobre ela como um fardo impossível de carregar. E, no fundo, uma parte de si queria agradar ao avô. Ele fora sua única figura de amor e apoio ao longo de sua vida. Mas a ideia de sacrificar sua liberdade por um casamento forçado era insuportável.

— Vamos conversar sobre isso depois, avô — disse ela, sentindo que a conversa não levaria a lugar nenhum naquele momento. — Preciso ir. Tenho reuniões.

— Não adie por muito tempo, Clara. Meu tempo está acabando, e você sabe disso. — A voz dele soou mais fraca dessa vez, e isso a incomodou.

— Até logo, avô. — Clara desligou o telefone, sentindo um nó apertado no peito.

Ela ficou ali, olhando para o horizonte, pensando em tudo o que sempre evitara. Sentia-se dividida entre o amor e respeito que tinha pelo avô e o desejo ardente de manter sua independência. O silêncio da sala ao redor parecia aumentar o peso de sua solidão. Ela tinha tudo o que muitos sonhavam – riqueza, poder, influência –, mas ainda assim, sentia que algo lhe faltava.

Seria realmente necessário sacrificar sua liberdade para manter tudo isso?

Enquanto a luz do sol entrava suavemente pela janela, Clara percebeu que sua vida, por mais controlada que fosse, estava prestes a mudar. A pressão do avô se tornava cada vez mais insuportável, e os dias de sua rotina solitária poderiam estar contados. O que Clara ainda não sabia era que aquele seria apenas o começo de uma série de mudanças que a obrigariam a enfrentar não só as pressões familiares, mas também os seus próprios sentimentos mais profundos.

Capítulo 2: O Dilema de Clara

Capítulo 2: O Dilema de Clara

O relógio de parede marcava sete da manhã, e a luz dourada do sol de outono já começava a iluminar o interior minimalista do apartamento de Clara. O grande relógio de metal prateado era uma das poucas peças extravagantes que decoravam o ambiente. Clara sempre preferira o simples ao exuberante. Sua vida, apesar de rodeada por riqueza, sempre fora uma busca por ordem, controle e discrição. Mas naquela manhã, enquanto olhava para o ponteiro do relógio, sentia que o tempo estava prestes a escapar de suas mãos.

Após a conversa com seu avô no dia anterior, Clara passou a noite em claro, revivendo cada palavra que Manuel lhe dissera. Ela andava de um lado para o outro no quarto, com os pensamentos dominados por uma única questão: será que teria escolha?

À medida que as horas passavam, o dilema que Manuel havia imposto a ela crescia como uma sombra, ameaçando engoli-la. O peso do legado Valente estava sobre seus ombros, e, embora Clara tivesse provado, mais de uma vez, que era perfeitamente capaz de manter o império de pé, sabia que, para o avô, isso não bastava. Ele queria ver sua família consolidada, com um nome forte ao lado dela, alguém que pudesse garantir a perpetuação do poder dos Valente. Mas Clara queria acreditar que era mais do que uma peça num jogo de xadrez corporativo.

Ajeitando o roupão de seda preta, Clara caminhou até a varanda do seu apartamento. O ar fresco da manhã envolveu seu corpo, trazendo uma sensação breve de alívio. Olhou para a cidade lá embaixo, as ruas já movimentadas, e pensou no futuro incerto.

Casamento.

A palavra ecoava em sua mente como uma sentença. Nunca se viu como uma esposa obediente, submetida a um marido. Pelo contrário, construíra sua vida de forma a ser completamente independente. Sempre evitara o jogo de relacionamentos, mantendo-se distante das festas e eventos sociais que a elite da cidade frequentava. Enquanto outras herdeiras se exibiam em festas de gala, Clara estava ocupada ampliando seu império, uma empresa de cada vez, longe dos olhares públicos. O que mais lhe incomodava não era o fato de seu avô querer que ela se casasse, mas sim a ideia de que, para ele, um homem ao seu lado ainda era necessário para consolidar o poder que ela mesma havia construído.

Clara sentia-se dividida. Por um lado, o amor e o respeito pelo avô a faziam querer atender aos seus desejos. Manuel Valente não era apenas um avô, era seu mentor, seu único apoio emocional após a morte de sua mãe. Ele a educou nos negócios, ensinou-lhe a ser forte e a não depender de ninguém. E agora, ironicamente, o mesmo homem pedia que ela se casasse e unisse seu destino ao de outro. Para ele, casamento era uma forma estratégica de garantir a continuidade da dinastia Valente, uma aliança de poder que poderia manter o império de pé após a sua morte. Mas para Clara, essa ideia parecia sufocante.

Do outro lado, estava seu orgulho, sua independência. O império Valente não era apenas fruto da visão do avô. Clara havia se esforçado desde cedo, assumindo responsabilidades que poucos na sua idade suportariam. Ainda jovem, tomou decisões importantes que salvaram a empresa de crises financeiras e a ampliaram para novos mercados. Ela, sozinha, havia garantido a expansão internacional, e sua presença invisível no comando das empresas era uma das razões pelas quais a imprensa nunca conseguira rastrear os movimentos dos Valente.

Mas agora, seu avô falava como se todo esse esforço fosse insuficiente. Como se o nome Valente só pudesse ser perpetuado através de um casamento, de uma aliança que, para Clara, soava mais como uma jaula dourada.

A campainha tocou, interrompendo seus pensamentos. Clara se recompôs, deixando a varanda e caminhando com passos decididos até a porta. Era sua assistente, Mariana, que chegava para discutir os relatórios diários.

— Bom dia, Clara, — Mariana disse, com a mesma eficiência de sempre, ao entrar no apartamento.

Mariana era a única pessoa com quem Clara realmente compartilhava sua rotina de negócios. Jovem, mas extremamente competente, Mariana sabia que sua chefe era exigente e que o foco sempre era o trabalho. Mas naquela manhã, Clara parecia diferente. Seus olhos, normalmente impassíveis, revelavam uma tensão incomum.

— Bom dia, — Clara respondeu, gesticulando para que Mariana se sentasse. — Trouxe os relatórios?

— Sim, estão todos aqui. A empresa de energia solar está fechando o contrato com o governo, e os números estão promissores. — Mariana falou enquanto abria seu tablet e começava a mostrar os gráficos e tabelas que sempre despertavam o interesse de Clara.

Clara ouviu atentamente, mas sua mente vagava. Os números que antes a motivavam pareciam distantes agora, ofuscados pelo dilema maior que pairava sobre ela. A cada gráfico que Mariana mostrava, Clara sentia a pressão aumentar.

Finalmente, após alguns minutos de conversa, ela suspirou e fechou o tablet de Mariana com um gesto suave, mas firme.

— Mariana, já ouviu falar sobre os Valente na imprensa recentemente? — perguntou Clara, quebrando a formalidade usual.

A assistente ergueu as sobrancelhas, surpresa com a pergunta. Sabia que Clara evitava ao máximo a mídia, e raramente se interessava pelo que diziam sobre sua família.

— Para ser honesta, quase nada, Clara. As pessoas sabem do império, mas o seu nome raramente é mencionado. Você prefere as sombras, não é? — Mariana respondeu, com uma leveza na voz que Clara não sentia.

— Exatamente. Prefiro as sombras. — Clara repetiu, olhando para o horizonte. — Mas meu avô não vê as coisas assim. Ele acha que preciso me expor mais...

Mariana, sempre perspicaz, percebeu que havia algo mais por trás daquele comentário.

— Ele está pressionando você novamente?

— Sim. Desta vez, ele quer que eu me case. — Clara soltou a frase como se quisesse se livrar do peso que a acompanhava desde a conversa da noite anterior.

Mariana não conseguiu disfarçar sua surpresa. Casamento? Isso não parecia ter nada a ver com a mulher poderosa e independente que conhecia.

— Casamento? — Mariana repetiu, ainda processando a informação. — Mas isso... parece tão... distante de você, Clara.

— É porque é. — Clara respondeu, a irritação começando a aparecer em sua voz. — Mas, para ele, é a única maneira de garantir o futuro da empresa. Ele acha que, sozinha, não posso manter tudo de pé. Que preciso de uma aliança... um marido para fortalecer nosso nome.

Mariana ficou em silêncio por um momento. Entendia que Clara sempre lutara para se destacar pelo seu talento, não pelo nome da família. Mas sabia também o quanto Manuel Valente significava para sua chefe.

— E o que você vai fazer? — Mariana finalmente perguntou.

Clara olhou para a janela novamente. A cidade lá fora parecia tão distante, tão indiferente às suas preocupações. Sentia-se como uma peça num tabuleiro, sendo movida para uma posição que não queria ocupar.

— Não sei — Clara admitiu, pela primeira vez sentindo-se verdadeiramente vulnerável. — Parte de mim quer agradar meu avô. Ele está velho, doente... Não sei quanto tempo mais ele vai estar aqui. E tudo o que ele fez, fez por mim. Ele sempre esteve ao meu lado.

Mariana assentiu, compreendendo o peso emocional que aquela situação carregava. Mas também sabia que Clara não era do tipo que se dobrava facilmente às vontades dos outros.

— Mas você não pode sacrificar a si mesma por causa disso, Clara. Você construiu este império. Se alguém pode mantê-lo de pé, é você, não um casamento.

Clara sorriu levemente. Sabia que Mariana estava certa, mas o dilema continuava a corroer seus pensamentos.

— Eu sei. Mas será que o mundo também vê dessa forma? Será que os outros respeitarão uma mulher sozinha no topo de um império?

Mariana a olhou nos olhos, determinada.

— Eles vão ter que respeitar. Você é Clara Valente. E se alguém pode mudar as regras, é você.

Clara sentiu um pequeno alívio com as palavras de Mariana, mas o dilema continuava a rondar sua mente. Ela sabia que as próximas semanas seriam decisivas. Precisava decidir entre agradar o homem que mais amava e respeitava no mundo, ou lutar por sua liberdade e sua própria visão de futuro.

Enquanto Mariana recolhia os relatórios e se preparava para sair, Clara ficou mais uma vez sozinha no vasto e silencioso apartamento. Caminhou de volta até a varanda, o vento frio de outono batendo em seu rosto. O império estava ali, à sua disposição. Poderia manter tudo de pé, mas a que custo?

E, pela primeira vez, Clara sentiu-se verdadeiramente sozinha, encarando o dilema mais difícil de sua vida.

Capítulo 3: Introdução a Mateus Faria

Capítulo 3: Introdução a Mateus Faria

O som do trânsito matinal de Lisboa era abafado pelas janelas espessas da luxuosa sala de reuniões da Faria Corporation, situada no topo de um dos prédios mais altos da cidade. A vista dali era privilegiada, com o rio Tejo se estendendo até o horizonte e a ponte 25 de Abril cortando a paisagem com imponência. Mas Mateus Faria, sentado à cabeceira da mesa, não se importava com a vista naquele momento. Seus olhos estavam fixos nos documentos à sua frente, enquanto seus pensamentos estavam presos a algo muito mais pesado que um simples acordo empresarial.

Mateus era o CEO da Faria Corporation, uma das maiores empresas de investimentos e tecnologia da Europa. Aos 35 anos, ele já havia conquistado o que muitos considerariam o auge da carreira de qualquer homem. Bilionário, extremamente inteligente e com um talento nato para os negócios, Mateus sempre fora visto como um prodígio no mundo empresarial. Ele herdara a empresa de seu pai, Rui Faria, um homem rígido e de princípios inabaláveis, que durante anos moldara o império da família com mãos de ferro. Quando Rui morreu, todos esperavam que Mateus assumisse a liderança com a mesma rigidez e disciplina. E ele o fez. Mas o preço foi alto.

A sala de reuniões era ampla e impecavelmente decorada, com móveis de madeira escura e arte contemporânea nas paredes. A modernidade do ambiente refletia o espírito inovador de Mateus, um homem que preferia o futuro ao passado, que sempre procurava novos horizontes para expandir o império Faria. No entanto, naquele momento, sua mente estava longe dos negócios. Ele estava, mais uma vez, sendo pressionado por algo que não podia controlar completamente: sua família.

— Mateus, é uma questão de tempo, — a voz de sua mãe, Helena Faria, ecoava na sua cabeça. Ela não estava ali fisicamente, mas o peso de suas palavras estava presente como sempre.

Helena Faria era uma mulher de classe, conhecida por sua elegância e pela astúcia com que sempre manipulou o mundo social ao seu redor. Desde a morte de Rui, ela não apenas esperava que Mateus mantivesse o império de pé, mas também que o expandisse, consolidando alianças estratégicas. E, para Helena, essas alianças significavam uma coisa: casamento.

— Você já passou dos 30, Mateus. Não é mais um rapaz, e este império precisa de segurança. Precisa de continuidade. É hora de pensar em um herdeiro. — As palavras de Helena, proferidas com a frieza e a lógica implacável que sempre a caracterizaram, ainda ecoavam em sua mente.

Mateus suspirou e passou a mão pelos cabelos escuros, um gesto de frustração que ele raramente permitia que outros vissem. Na superfície, ele sempre parecia o CEO implacável e autossuficiente que todos esperavam. Mas, por dentro, a pressão começava a pesar. Seus familiares não entendiam que sua prioridade era o crescimento da empresa, a inovação. Para eles, um herdeiro – e, portanto, um casamento – era tão essencial quanto o sucesso financeiro.

Ele sabia que Helena já começava a mover seus contatos para que ele conhecesse "a pessoa certa". Mateus sempre evitara as armadilhas do casamento arranjado, mas sentia que o cerco estava se fechando. Não que ele não gostasse de companhia – sempre tivera relacionamentos breves e intensos, com mulheres que, como ele, estavam mais focadas em suas carreiras do que em amarrar laços permanentes. Mas, para sua mãe, isso não era suficiente. Ela queria uma união que fortalecesse a posição da família, uma aliança empresarial tanto quanto social.

Seus pensamentos foram interrompidos quando a porta da sala se abriu, e Pedro Silva, seu braço direito, entrou com uma pilha de documentos. Pedro era um homem de confiança, amigo de longa data e o único que sabia das verdadeiras pressões que Mateus enfrentava.

— Aqui estão os relatórios finais para o acordo de fusão com a VegaTech, — disse Pedro, colocando os papéis sobre a mesa. — Mas você parece longe daqui hoje. Algum problema com o conselho?

Mateus balançou a cabeça, mas não conseguiu esconder o peso em sua expressão. Ele conhecia Pedro o suficiente para saber que era inútil fingir que tudo estava normal.

— É a minha mãe. — Mateus finalmente disse, soltando um suspiro longo. — Ela está pressionando mais uma vez para que eu me case. Acredita que só um casamento pode garantir o futuro da empresa.

Pedro sorriu de forma compreensiva, mas com um toque de ironia.

— Isso de novo? Achei que ela já tinha desistido depois da última vez. Não foi o jantar com a filha do ministro que quase te fez sair correndo?

Mateus riu, apesar da situação. Sim, aquilo havia sido um desastre. O jantar cuidadosamente orquestrado por sua mãe, com a intenção de "casualmente" apresentar Mateus à filha de um influente ministro, resultou em uma noite de tédio e constrangimento. A jovem era encantadora, sem dúvida, mas estava claramente tão desconfortável com a situação quanto ele. Ambos sabiam que eram peças em um tabuleiro, e isso o incomodava profundamente. Mateus não se via como uma peça manipulável – ele era o jogador, o estrategista.

— Sim, foi um fiasco. Mas agora ela está falando sério, Pedro. — Mateus esfregou as têmporas, sentindo a pressão se acumular. — Ela acha que o império vai ruir se eu não formar uma aliança com outra família poderosa. Como se eu não fosse capaz de manter tudo de pé sozinho.

Pedro olhou para o amigo, conhecendo bem as pressões que ele enfrentava. A Faria Corporation era uma das maiores empresas de investimentos e tecnologia do país, mas as expectativas sobre Mateus nunca foram apenas financeiras. Ele não era apenas o líder de uma corporação, era o herdeiro de um legado que, aos olhos de sua mãe, precisava ser fortalecido a qualquer custo.

— E você? O que você quer? — perguntou Pedro, com seriedade na voz.

Mateus ficou em silêncio por alguns segundos, olhando pela janela. A vista de Lisboa, tão familiar, parecia diferente naquela manhã. Ele sabia o que queria. Queria continuar crescendo, expandindo os negócios, explorando novas tecnologias e mercados. Queria ser conhecido por suas conquistas, não por quem ele escolheu para se casar. Mas, ao mesmo tempo, sabia que não poderia ignorar a realidade de que o mundo dos negócios ainda se baseava em alianças e parcerias estratégicas.

— Eu quero continuar liderando a empresa, Pedro. Quero expandir, inovar, levar a Faria Corporation a níveis que meu pai jamais imaginou. — A voz de Mateus era firme, mas havia uma sombra de incerteza em seus olhos. — Mas minha mãe não vai parar enquanto não me ver casado. Ela está convencida de que um herdeiro é a única forma de garantir o futuro. E, para isso, preciso de uma esposa que seja... adequada.

Pedro assentiu, compreendendo o dilema. O mundo em que eles viviam era diferente do que muitas pessoas imaginavam. Não se tratava apenas de dinheiro ou de sucesso nos negócios. Tratava-se de poder, de manter uma posição no topo de uma pirâmide onde as alianças sociais e políticas ainda tinham um peso enorme.

— E se você escolhesse alguém por conta própria? — sugeriu Pedro, meio de brincadeira, meio a sério. — Alguém que fosse mais do que uma peça num jogo de poder. Alguém que entendesse o que você quer e pudesse te apoiar nisso.

Mateus soltou uma risada curta, embora houvesse uma pitada de frustração nela.

— E onde eu encontraria essa pessoa, Pedro? — perguntou, irônico. — Até agora, todas as mulheres que minha mãe sugeriu são mais interessadas no meu sobrenome do que em mim. E as que não estão interessadas em poder, não querem lidar com a vida que levo. Você sabe disso.

O amigo sorriu, mas não insistiu. Sabia que, no fundo, Mateus não estava completamente fechado à ideia de encontrar alguém. O problema era que sua visão de casamento, como a maioria dos aspectos de sua vida, era influenciada pelo controle. Ele não queria ser manipulado, não queria se sentir preso em uma armadilha criada por sua família. Se um dia se casasse, seria por sua própria escolha, com alguém que realmente entendesse o que significava estar ao lado de um homem como ele.

— Bom, pelo menos a fusão com a VegaTech está encaminhada, — disse Pedro, mudando de assunto de forma sutil, tentando aliviar a tensão no ar. — Isso vai ser um marco na história da empresa. E talvez sua mãe se distraia com os resultados financeiros e te deixe em paz por um tempo.

Mateus assentiu, voltando sua atenção aos negócios, onde ele sempre encontrava algum alívio. Os números, as fusões, as expansões — tudo isso ele podia controlar, manipular e fazer crescer. Era o que ele fazia de melhor.

Mas, enquanto Pedro falava sobre os detalhes da fusão, Mateus não conseguia afastar o pensamento de que, por mais que conseguisse controlar o mundo dos negócios, havia uma parte de sua vida que continuava fora de seu alcance. E, por mais que tentasse resistir, sabia que a pressão da família só aumentaria. O império Faria não sobreviveria apenas de sua habilidade empresarial, ao menos não aos olhos de sua mãe. Eles esperavam mais dele. Sempre esperavam mais.

E era apenas uma questão de tempo até que ele tivesse que tomar uma decisão.

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