03

( ELIS )

Toda a postura que aprendi a ter durante a vida, eu perco perto desse cretino. Nem todas as aulas intermináveis de como se portar que eu era obrigada a ter todos os dias foram suficientes pra me ajudar a lidar com esse ser. Sinto meu rosto quente, ou de raiva ou de vergonha por notar que todo mundo do andar me escutou. Entro na sala e disco pro Ramal de Lili.

_ Pode vir na minha sala ?

- Agora.

Abro meu laptop, confiro meu e-mail mais uma vez e realmente, não fui copiada no convite dessa reunião de ontem pela tarde. Isso está estranho.

_ Licença Senhorita Elis.

_ Entra Lili. Fecha a porta por favor.

_ Pela cara de raiva a briga foi maior do que os comentários que estão tendo nos corredores.

_ Preciso que fique de olho em TODAS as reuniões da diretoria, eles estão mandando convite apenas das que querem. Me repasse todas. Se possível Lili, queria que reunisse toda documentação dos últimos anos, dos projetos aprovados, dos executados e dos que estão em andamento pela nossa construtora principal e as filiais. Se tiver uma agulha fora do lugar eles terão que prestar contas comigo. O oba oba acabou, ele quer guerra comigo então vai ter.

_ Tem um reunião hoje no fim da tarde referente ao projeto aprovado ontem, esse mesmo projeto que você não teve direito a voto por não comparecer na assembléia.

_ Confirma minha presença, nada mais vou deixar passar.

_ Tá mais calma agora?

_ A vida toda ele me desestruturou Lili. Só que agora as coisas são diferentes.

_ É impressão minha ou tem mais coisa além de herdeiros rivais e mortais de um império construído pela família de ambos?

_ Ai Lili, não quero voltar nisso.

_ Tem né? Me fala Elis. Sou sua única amiga praticamente. Vai falar disso com quem?

_ Mais tarde, depois dessa última reunião, jantar no Queens? Ai te conto. Sem vinho não consigo tocar nesse assunto.

_ As sete to lá. Te envio a papelada toda que pediu. Quer no e-mail pessoal ou corporativo?

_ No pessoal, quero investigar tudo calada.

_ Até mais tarde. Me liga se precisar.

Lili vira as costas e sai. Somos amigas desde o colegial, a família dela era uma das mais ricas de Londres, faziam parte da high socity. Esse meio podre que nasci, eram os mais requisitados, todas as festas, todos os eventos, todos os leiloes beneficientes, ela era muito popular entre nossas amigas, no nosso último ano escolar, ali com uns dezesseis anos, o pai dela começou a ter problemas com jogos, vícios, a fortuna que antes tinham se dissolveu, e os amigos que antes eram os melhores amigos, viraram as costas, eles não tinham mais dinheiro, então pro meio em que vivemos eles não valiam mais nada. As amigas na escola a excluíam e cochichavam pelos cantos, ela teve que mudar pra uma rede de ensino mais barata, nos afastamos por esse período, foi um baque e tanto, não conseguiu se formar, mas nunca ficamos longe cem por cento e hoje é meu braço direito, sempre foi, mas agora mais ainda.

Confiro o relógio e vejo que consigo almoçar antes da reunião da tarde. Acabei não tomando café da manhã e estou me sentindo meio fraca. Ligo na copa e peço pra servirem meu almoço na sala mesmo. Aproveito o tempo para checar projeto por projeto, orçamento por orçamento. Tem que ter algum errinho, mais de vinte projetos nos últimos anos, tem que ter.

Analiso linha por linha de tudo que Lili me mandou, nada. Ele não pode ser tão competente assim. Se bem que meu irmão confiava nele de olhos fechados pra isso, podiam não ser os melhores amigos, mas Rodolph o respeitava muito profissionalmente.

Meu almoço chega. Pauso na página que estou lendo e sento na mesa que foi posta logo a frente da minha de trabalho. Agradeço as meninas da copa e tento comer, mesmo sem muita fome, preciso me alimentar pra não sentir tonturas. Quero estar bem na reunião. Remexo a salada e lembro dos dias em que meu irmão tirava pra me ensinar jogar golf. Eram tardes incríveis, mesmo com muito trabalho, ele nunca deixou de estar presente em diversas atividades minhas, eu tinha aula de hipismo, ele saia da empresa e ia me buscar, aproveitava pra jogar um pouco de golf e tentar me ensinar alguma coisa, mas nunca fui ótima nisso. A gente mais se divertia que tentava praticar sério. Era mais um momento nosso de distração e brincadeiras, nosso compromisso diário era tomar café da manhã juntos, ler as noticias do jornal, acompanhar a bolsa de valores e ele me dar aulas e aulas de economia e administração, segundo ele eu iria precisar pra assumir meu posto na empresa um dia, parecia até que ele sabia que essa hora chegaria em breve. E bem, chegou. Um mês que ele se foi, um mês que tive que voltar para Londres, um mês que tenho tentado enfrentar meus piores fantasmas que deixei pra trás quando me mudei daqui a quase dez anos atrás.

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