Ayla
Hoje eu acordei feliz porque estou fazendo 17 anos e, finalmente, sairei da fazenda para ir a Santos, onde minha avó mora. Desde que nasci, nunca saí da fazenda. Até as aulas são aqui dentro, ministradas pela minha mãe. Ela sempre me ensinou que nós, mulheres, devemos ser submissas aos homens e aos mais velhos. No entanto, eu acho isso profundamente errado.
Meu pai, frequentemente, bate na minha mãe, e ela permanece calada, chorando em silêncio. Sempre que ele chega em casa alterado, ela entra em um estado de desespero, tentando agradá-lo com "senhor isso", "senhor aquilo", abaixando a cabeça e se humilhando. Nunca entendi por que ela quer que eu siga o mesmo caminho de submissão.
Apesar disso, aprendi a nunca expressar meus verdadeiros pensamentos em voz alta e a sempre fazer o que me mandam, pois as consequências de desobedecer são terríveis. Apanhar e ficar trancada no quarto, comendo apenas água e pão, me faz pensar constantemente na besteira que foi desobedecer ou contrariar o chefe da casa. Qualquer resposta mal dada ou uma palavra que ele não goste resulta em castigos severos, e as desculpas têm que vir rapidamente para evitar punições ainda piores.
É frustrante e sufocante viver dessa forma, mas essa é a vida que me foi dada. Apesar de tudo, eu amo meus pais mais do que tudo. Eles são minha família, mesmo com todas as suas falhas e a vida difícil que me proporcionam. Amanhã, quando eu estiver em Santos, talvez, eu consiga entender melhor o mundo e encontrar uma nova forma de viver.
Aqui na escola da fazenda, que na verdade é apenas uma casa adaptada para aulas, somos só eu, Anastácia, Lucas e João. Estamos no segundo ano do ensino médio, e hoje, dia 21 de dezembro, é o último dia de aula. Saberíamos quem passou para o terceiro ano. Vesti um vestido floral e longo, como de costume, e cheguei mais cedo do que todos. Mas para minha surpresa Lucas já estava ali.
Lucas: Bom dia, Ayla. Tudo bem? Eu estava esperando você — respondeu Lucas com um sorriso amigável.
Ayla: Bom dia — disse, olhando para ele. - Eu acho... Mas, estava me esperando? Por quê? — perguntei, curiosa. Pois ele nunca falava comigo.
Lucas: Ora, para conversar, ué — disse ele, rindo.
Ayla: E conversar sobre o quê, Lucas? — questionei, ainda sem entender. — Você nunca trocou uma palavra comigo, e agora quer conversar?
Lucas: Nossa, como você é chata — disse ele, tentando levar na esportiva.
Ayla: Peço desculpas, Lucas. Eu só achei estranho porque você nunca me cumprimentou antes — respondi, tentando me justificar.
Lucas: Ok, garota, é o seguinte: você está a fim de beijar na boca e... fazer outras coisas, sexo para ser mais específico? — perguntou ele, direto, sem rodeios.
Ayla: O quê? Está louco? Nunca! — respondi, irritada e surpresa com a audácia dele.
Fiquei perplexa com a grosseria e a ousadia de Lucas. Não esperava ouvir algo assim que dizer esperava, pois ele é um babaca. Meu coração estava acelerado, uma raiva tomou conta de mim. Olhei para ele com desprezo, sentindo uma onda de indignação e repulsa. Como ele poderia ser tão desrespeitoso? Aquela situação era um reflexo daquilo que sempre temi e repudiei: o comportamento opressor e desrespeitoso que muitos homens adotam, achando que podem tratar as mulheres como bem entendem.
Respirei fundo, tentando me acalmar. Não queria que a raiva controlasse minhas ações, mas precisava deixar claro que esse tipo de comportamento era inaceitável. Naquele momento, mais do que nunca, desejei que o dia terminasse logo, para que eu pudesse ir para Santos e deixar para trás essas lembranças desagradáveis.
Mas ele continuou com sua repugnância, e palavras desprezíveis.
Lucas: Olha só, a gordinha resolveu se rebelar! Cadê a garotinha submissa dos papais? - Lucas zombou, rindo de forma cruel. - Haha! Você realmente acha que meu interesse seria despertado por toda essa gordura? Isso foi ideia da Anastácia, relaxa. Pensávamos que você aceitaria, afinal, uma gorda como você vai morrer virgem, né? Ah, e Ayla, se essa conversa sair daqui, vou até sua casa e faço um inferno. Cuidado, o perigo mora ao lado! Ele a humilhou de todas as formas, com palavras cruéis e ofensivas.
Ayla
Senti as lágrimas começarem a escorrer pelo meu rosto. A humilhação e a dor eram esmagadoras. Sem conseguir segurar o choro, corri para longe dali, com meus pensamentos a mil. Encontrei refúgio debaixo de uma árvore, onde me sentei e deixei as lágrimas fluírem livremente. Por que minha mãe queria que eu fosse humilhada e sempre abaixasse a cabeça? Sempre me ensinou a ser a "menina boazinha", a boneca perfeita que eles queriam. Isso me destruía por dentro.
Mas, mesmo assim, a culpa sempre me consumia quando não agia conforme esperado. Decidi que iria voltar e pedir desculpas a Lucas, mesmo que fosse injusto, porque era isso que me ensinaram a fazer.
Ayla: Lucas, me desculpa pela maneira que falei com você. Eu não deveria... — comecei a dizer, mas ele me interrompeu.
Lucas: Isso aí, boa menina. Está desculpada — disse ele, com um tom sarcástico.
Saí de cabeça baixa, sentindo uma mistura de vergonha e frustração. Voltei para a sala e sentei na minha carteira. As aulas começaram e pareceram passar voando. Eu estava animada, porque, ao chegar em casa, iria arrumar minhas malas e partir para Santos. Caminhei mais rápido do que o habitual, ansiosa para deixar tudo aquilo para trás.
Ayla 17 anos
Recadinho da Autora ❤️
Olá pessoal, sou nova aqui e quero compartilhar uma história com vocês. Essa é a vida de Ayla, uma jovem que enfrenta desafios difíceis, mas que também sonha com dias melhores.
Caros leitores. É com imensa gratidão que os convido a deixarem seus comentários e a votarem nesta obra. Espero sinceramente se encantem com cada página, cada cena, cada reviravolta. E, acima de tudo, conto com o apoio de vocês para seguirmos adiante nessa aventura literária. Juntos, somos capazes de criar um universo ainda mais extraordinário. Vamos lá, seus votos e palavras são o combustível que impulsiona essa jornada!
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Atualizado até capítulo 48
Comments
Emile Sena
Me identifiquei com ela,sou gordinha porém baixinha também,já sofri muito no ensino médio que dava vontade de fazer loucura com os meninos que faziam bulling comigo. Mais eu terminei meu último ano e dei a volta por cima hoje em dia tô menos gordinha pois tô fazendo dieta e academia,arrumei um bom emprego e todos me tratam bem, e agora eu não abaixo mais a cabeça pra ninguém só pra minha mãe pois não tenho mais um pai, agora o resto pode ser homem ou mulher eu bato de frente sem medo.
2025-03-12
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Marneide Wanderley
Gorda? ele é linda, recheada de carne e não uma caveira ambulante...aff esses machistas...
2025-02-23
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Anatalice Rodrigues
Comecei a ler hoje 23/03/25.
Espero gostar dessa história.
2025-03-23
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