O primeiro passo até ele

Depois de ter colocado todas as compras para dentro, não consegui parar de pensar nele... Seus braços, olhos, seus cabelos castanhos brilhosos. Me dou tapinhas no rosto pra tentar despertar desse transe. Reflito sobre nunca mais ir naquela loja mas a tentação de ir para apenas vê-lo é enorme. Olhar não mata né? E que visão que eu teria... Me pego babando por ele de novo e sacudo a cabeça em negação. E se ele for um colegial... Mas e se não for? Aaaah... coloco minhas mãos na cabeça pensativa.

Ando em direção a varanda e fico por lá olhando a paisagem. Sinto o vento suave bater contra mim enquanto observo a rua vazia. Sinto saudades... de amar. Uma lágrima involuntária escorre em meu rosto e a seco rapidamente. Talvez eu esteja sensível demais. Meu último relacionamento não acabou nada bem, acho que não aguentaria uma segunda dose daquilo.

Saio da varanda e vou para o quarto. Vejo a cortina fechada e lembro do vizinho. Dou uma bisbilhotada abrindo uma brecha da cortina e olho para janela do tal fulano, a luz está apagada. Acho que ele não me reconheceria se me visse na rua, é um pouco distante, sem contar que eu estava de costas. Nem eu consegui ver direito como ele era... suspiro aliviada.

O final de semana passa e minha rotina chata começa mais uma vez segunda de manhã. O dia passa sem nenhuma novidade e faço minha rotineira caminhada até em casa. Acho que devo começar a aceitar que essa é a minha vida... Mas o quê? O menino da loja de conveniência... vindo na minha direção... Ele está no telefone, talvez não me veja. Fico olhando para baixo e aperto o passo, já estou a alguns passos de casa, talvez ele não me veja.

Esbarro em alguém com força. Não devia ter ficado olhando pra baixo! Olho para cima para pedir desculpas e... É ELE!!

— Fugindo de mim? - Pergunta com a expressão séria de sempre.

— Éé, talvez... quero dizer, NÃO! Não fugiria de você... - Estou ficando vermelha, posso sentir.

— Entendo...

Ficamos em silêncio por um breve momento e penso que seria a oportunidade perfeita para ir embora.

— Gostaria de comer algo? - Pergunta ele interrompendo meu plano de fuga. — Eu estava indo comer sozinho, me faz companhia? Eu pago.

— Hanm... Não sei se devo...

— Vamos! Eu insisto. Você não pode ficar comendo macarrão instantâneo todo dia.

— COMO VOCÊ SAB... cof cof - Quase engasgo.

Ele me ultrapassa e caminha sem dizer nada. Fico observando suas costas e refletindo se deveria mesmo ir... ele para e vira seu rosto para me olhar. Sinto como me invadisse.