Não somos

septingentésima septuagésima sétima milésima septingentésima septuagésima sétima reencarnação

Eu havia lutado durante toda a noite e estava praticamente morta durante o dia, mas a batalha não tinha acabado.

Eu me sacrificava em todas as vidas por ele, agora era vez de retribuir.  Ele me carregava nas costas enquanto eu tentava cochilar. O que era completamente impossível.

Era inverno, e em Wolfpack o inverno era brutal, não como era em Fangfrost Crypt, mas era quase o mesmo para mim, que já tinha a pele normalmente fria.

— Ethan, vamos montar o acampamento… — falei com os dentes batendo ao ponto de quebrar — Não sei quanto tempo vou aguentar.

Na noite anterior eu não consegui dormir, assim como o dia que se arrastou lentamente.

Era quase sete horas da noite quando ele finalmente parou, estávamos próximos ao lago congelado, Rubrius Flumen o lago vermelho pela qual todos sabiam que era a entrada para o reino de Aquafêra.

Ethan me colocou cuidadosamente sobre um tronco completamente congelado, sempre fui fraca para o frio, por mais que fosse minha estação favorita, era completamente complicado para mim.

O nosso simples acampamento estava montado, e não passava de duas barracas e uma fogueira consideravelmente grande.

Eu já estava com as mãos estendidas para o fogo quando  Ethan veio até mim, com uma tigela de ensopado.

— Acredito que eu tenha que voltar a treinar. — falei vendo o ar condensado em minha frente a cada palavra dita.

— Está se achando fraca? — falou Ethan sentado ao meu lado com seu braço colado ao meu, me fornecendo mais calor que o próprio fogo — É só o frio.

Eu cheguei para mais perto dele enquanto mantinha a refeição.

— É exatamente por isso, — meus lábios tremiam, e meus dentes batiam, sendo quase impossível pronunciar uma única palavra corretamente — Eu tenho o poder da lua, e convenhamos deve haver algo que eu não dominei ainda.

Ethan riu, uma risada tão quente e calorosa que me aqueceu no mesmo instante e eu olhei para ele que apenas grava o conteúdo intocado em sua tigela.

— Vou te ensinar uma coisa pequeno gafanhoto. — falou ele passando o braço envolta de mim me aquecendo de forma que não me queixava da cintura para cima.

Eu me apoiei completamente nele aproveitando o calor fornecido, e se ele havia reparado ou se isso o incomodava, não falou.

— Poucos anos depois dos primeiros transformados, houve uma pessoa muito conhecida, uma dama completa, chamada Kira Kobata, descendente de uma fada que havia feito um acordo com seu próprio povo, e quando chegou a hora de pagar a dívida, abandonou Kira com um pai viciado em apostas que a vendeu para uma família muito influente da época. — ele começou, mas eu interrompi

— Ethan me poupe, eu conheço essa história.

Ele me deu um peteleco na testa chamando minha atenção. Aquele lugar demorou para esfriar novamente.

— Tem uma parte que muitas pessoas não conhecem nessa história. — falou ele colocando a própria tigela no chão e pegando a minha para colocar junto — Bom, Kira casou-se com um Kobata virando a próxima senhora da família, mas foi em sua gravidez que descobriu sua Alma Gêmea, a primeira de toda a história.

Ele olhou para o céu e suspirou.

— Ela que era uma fada das árvores, uma ninfa, com poucos poderes desenvolveu outros, mas, os mais essenciais possíveis, assim como sua forma bestial. — ele continuou olhando para o céu —  Ela era capaz de coisas inimagináveis, ou coisas que ela achava que não teria aprendido…

— Entretanto, seu filho nasceu praticamente morto, e ela implorou para a rainha das fadas que salvasse seu filho, mas a rainha se negou. — continuei quando ele parou para me encarar, e então ele me interrompeu.

— A rainha se negou, porém, a árvore-da-vida, a árvore mais importante de seu reino, salvou o menino dando sua vida. — falou ele agora alisando meu braço — Porém mesmo que a rainha houvesse negado Kira se sentiu culpada por todo o reino ser prejudicado por seu pedido, mas ao invés de devolver a vitalidade de seu filho ela deu sua própria vida a árvore.

Eu fiquei imóvel por um tempo pensando em todas as lições que poderiam ser retiradas daquela história, mas nada se encaixava completamente com o assunto anterior.

— O que você queria me ensinar?

— Talvez essa seja uma habilidade que só irá desenvolver quando descobrir sua Alma Gêmea. — ele falou e se levantou.

Eu olhava para meus pés enquanto sentia todo o seu calor sumir de meu corpo graças à sua distância.

— Quais habilidades você acha que vai despertar quando descobrir quem é sua Alma Gêmea? — perguntei inocentemente olhando para ele que limpava as tigelas.

Ele me olhou de volta e sequer hesitou quando falou:

— Não acho que eu vá ter uma.

Eu não gostava da forma como ele falava, pois eu sabia que isso é pelo ato que ele não acreditava que seria aceito se tivesse.

— Eu acredito que vai. — falei tranquilamente, mas quando seus olhos se mantiveram frios, eu coloquei um sorriso malicioso em minha cara e movi minhas sobrancelhas rapidamente e continuei — E se sua Alma Gêmea fosse eu?

Ele colocou as duas mãos sobre o coração e piscava muitas vezes, e então disse:

— Eu iria adorar ser a Alma Gêmea de uma princesa gostosa e temperamental. — ele parou e de joelhos esticou a mão para mim como se tentasse me alcançar quando continuou fingindo tristeza — Entretanto, nós nos mataríamos na primeira noite.

E se jogou na neve fingindo de morto, e eu gargalhei.

Ele se manteve deitado no chão enquanto eu gargalhava de sua atuação, quando consegui parar ele se levantou e limpou a neve de sua roupa e seus cabelos.

— Acho que deveríamos dormir. — falou ele se levantando —  Principalmente você que não dorme desde ontem.

Eu concordei e fui para minha barraca que ficava consideravelmente perto do fogo, entretanto estava tão gelado lá dentro que era quase o mesmo que dormir ao ar livre.

Esperei que melhorasse.

Esperei que o cobertor me esquentasse, esperei que o sono viesse, mas ele não veio, e aquele cobertor não foi o suficiente.

Esperei por mais algum tempo até que não suportasse mais o frio, até que eu não sentisse mais nenhuma fonte de calor.

Eu me levantei chutando o cobertor para longe, e quando coloquei a cabeça para fora da barraca a lua já estava em seu ápice, o que significava que era por volta da meia-noite.

Caminhei tão rígida até a tenda de Ethan que mais parecia uma estátua em movimento. Quando cheguei, me ajoelhei na neve e prestei atenção em sua respiração.

Não estava pesada nem parecia que estava dormindo, e no momento em que eu ia falar fui interrompida por sua voz.

— Pode entrar, espiã fajuta. — falou ele praticamente sussurrando.

Eu entrei e lá estava de longe mais quente que minha própria barraca.

— Queria saber se tem mais algum cobertor com você…  — falei sentada na ponta da barraca.

Ele ainda estava usando aquela bendita máscara de sempre, quando olhou para mim, seus olhos tinham malícia.

— Só meu corpo…

— Falo sério, Ethan! — falei praticamente sussurrando.

— Eu também! — falou ele com a voz mais rouca que de costume, tirando aquela expressão do rosto —  Se quiser dormir aqui, pode deitar.

Ele levantou o cobertor o suficiente para que eu entrasse e esperou que eu me decidisse, e eu me arrastei até lá, mas antes que eu pudesse deitar ele voltou a falar:

— Recomendo tirar a roupa… — antes que ele terminasse de falar, eu o olhei de olhos arregalados enquanto abraçava meu próprio corpo e começava a me afastar, e ele riu —  Nem esperou que eu terminasse de falar e está concluindo essas coisas…

Ele balançou a cabeça negativamente, com os olhos inocentes sob a máscara.

— Que mente podre!

— O que você queria que eu pensasse? — ralhei e ele riu.

— Eu ia te falar para tirar a roupa pesada. —  falou ele ainda rindo enquanto eu tirava todas as roupas que usava, até ficar com apenas metade de minha roupa de costume — Mas parece que você queria que eu falasse outra coisa…

— Deve ter um ego considerável para acreditar que eu ia querer fazer isso com você. — falei enquanto me deitava sob o cobertor.

— Bem, — falou ele me puxando para junto de seu próprio corpo — não era eu quem estava cogitando ter você como Alma gêmea.

Eu ia me virar de frente para ele, entretanto ele me puxou um pouco mais para perto e me abraçou, minhas costas nuas que estavam praticamente congeladas encontraram seu peitoral nu, e derreteram. Me impulsionei para trás mais um pouco buscando mais contato com aquele calor e ele riu.

— Calma, se você me quer, é só pedir que serei seu — ele sussurrou em minha orelha, e eu te dei uma cotovelada.

— Nos mataríamos na primeira noite. —  falei o imitando.

— Acho que te atinge… — falou ele novamente em minha orelha.

Eu ri, pois por mais que Ethan me atraísse fisicamente, não queria ter um relacionamento com alguém que não queira o mesmo, e queria apenas minha Alma gêmea.

— Se eu quisesse você eu pegaria, — falei subindo sobre ele — se eu quisesse me envolver em um joguinho desses teria cedido na sua primeira tentativa. Se quiser algo sério, posso pensar. Mas se não for para ser completamente meu, eu descarto.

Assim eu voltei a deitar, e o sangue que antes estava congelado sob minha pele em minhas veias, agora parecia lava.

Ele demorou para voltar à posição anterior, como se cogitasse, e quando voltou apenas me abraçou e falou:

— Muito bem, minha dona…

Eu não reagi, e ele riu. Sabia que era uma brincadeira.

Continuei acordada até ele dormir, quando era evidente que ele havia pegado profundamente no sono mudei de forma. Agora éramos iguais, estávamos iguais, e nada aconteceu.

Por algum motivo meu peito se apertou, entretanto, deixei o sono me levar.  No dia seguinte eu tentaria de novo.

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